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[ 12 de dezembro, sexta-feira ]


Durante uma parte da minha infância, assim como noventa por cento da população mundial, eu desejei ser da realeza. Não é culpa minha; tente não querer ser uma princesa assistindo aos filmes da Barbie. Nem mesmo a maior skater girl resistiria a essa vontade diante de Genevive e suas doze irmãs bailarinas. Digo isso com propriedade; nunca fui uma grande fã de saias e vestidos, mas trocaria facilmente minhas calças por um dos figurinos brilhantes de O Castelo de Diamante. 

É por essa razão que não hesito nem um pouco em expressar minha empolgação quando anunciam que haverá uma Feira da Renascença na cidade no feriado. É a chance perfeita de fingir ser da realeza por um dia, usar um belo vestido de época e não receber olhares estranhos por causa disso. É claro que Ariana também fica super animada e, antes que eu perceba, a feira vira um programa de família. 

Apesar de ainda faltarem dez dias para o evento, eu e minha irmã não perdemos tempo em procurar uma fantasia. Não há tantas lojas de fantasia na cidade, então precisamos nos adiantar se quisermos roupas legais. Tentei dizer isso aos meus pais, mas eles não deram muita atenção. A primeira loja em que vamos é a do shopping, já que é a única aberta durante a noite. 

— Como será que vai ser essa feira? É a primeira vez que temos algo desse tipo na cidade.

— Não sei. Nada de extraordinário, provavelmente — dou de ombros. — Acho que terá jogos e comidas temáticas. É uma ótima desculpa para fingirmos que estamos em um livro da Julia Quinn. 

— Os livros dela se passam na época do renascimento? 

— Não sei. Foi só o primeiro exemplo que me veio à cabeça.

Surpreendente, não temos dificuldade em encontrar fantasias bonitas. Experimentamos vários vestidos até fazermos nossa escolha. O de Ariana é de um tom vermelho rubi com detalhes dourados e mangas compridas. O meu é de um modelo parecido, porém é preto e os detalhes são prateados; é como um céu noturno. Ambos são aveludados e se encaixam em nossos corpos de forma elegante e atraente, e o corpete faz com que o topo dos nossos seios saltem um pouco para fora. Não é nada escandaloso, mas é mais ousadia do que estou acostumada. 

— Nós devíamos fazer penteados iguais — Ariana sugere enquanto saímos da loja. — Para confundir as pessoas, como fazíamos antigamente.

— É uma boa ideia, mas não acha que as cores dos vestidos deixarão bem claro quem é quem? 

— Ah, mesmo assim. Vai ser divertido! Castiel vai com a gente? 

— Claro que não, o pai e a mãe vão estar lá. 

Eu sei que nós passamos muito tempo juntos e que é bom fazer coisas separados, mas não posso deixar de me sentir um pouco triste. Seria legal aproveitar a feira com Castiel, mesmo que ele se recusasse a se vestir à caráter. Nós não costumamos fazer programas diferenciados, seria uma boa oportunidade. Além do mais, eu fiquei bonita com o vestido e gostaria que ele visse. 

— Bom, pelo menos o Leigh não vai segurar vela. 

— O irmão do Lysandre vai também? — pergunto, um pouco espantada. Eu já ouvi o nome dele diversas vezes, mas nunca o conheci; é quase como se Leigh fosse uma criatura mitológica. Ana confirma com a cabeça. — O que quer dizer com segurar vela?

— Ele vive dizendo que eu e Lysandre fazemos ele sentir como se estivesse segurando vela, o que é ridículo. Nós somos só amigos. 

— Porque você quer.

— Como assim?

— Nada, deixa pra lá. Quer fazer mais alguma coisa antes de irmos embora? 

                                       °

— Feira da Renascença — Castiel repete, perambulando pelo seu quarto. Ele abre o guarda-roupas e pega um pente, se livrando dos nós do cabelo recém lavado. — Vi algo sobre isso na internet. Parece meio bobo.

— Não é nada bobo — protesto. — É uma coisa diferente pra fazer. É uma pena que eu não possa te convidar para ir; meus pais também vão.

— Acredite, Greene, não tem o menor problema pra mim. Eu não sabia que você curtia essas coisas.

— Acho interessante — dou de ombros. — Até comprei uma fantasia. É um vestido bem bonito, queria que você visse.

— Você pode vestir ele e me mostrar.

— Não seria a mesma coisa. Eu vou me arrumar toda no dia; cabelo, maquiagem e etcetera. 

— Está mesmo a fim de ir, huh? Quando é que vai ser mesmo? 

— Daqui há dez dias. 

No dia do meu aniversário? Que coincidência.

Castiel deixa o celular na cama por um segundo para fazer não sei o quê, então não vê como meus olhos se arregalam. Eu me esqueci totalmente do aniversário dele! Falta pouco mais de uma semana e nem pensei em um bom presente para lhe dar. Sei que Castiel provavelmente diria que não preciso comprar nada, mas eu quero fazer isso. Quero lhe dar algo especial porque é assim que ele faz eu me sentir.

— Você esqueceu, não é? — o ruivo pergunta com um sorriso zombeteiro. — Mas que vergonha, Greene. Eu vou atingir a maioridade e você se esquece? 

— Eu não tenho uma memória muito boa, e a notícia da feira me distraiu — digo em minha defesa. — Se quiser fazer alguma coisa, eu posso ir até aí depois do evento. 

— Claro. Eu pensei em chamar os caras da banda e alguns outros amigos também pra beber um pouco, mas todo mundo tem que levantar cedo no dia seguinte. 

— Inclusive você.

— Ou o que? Vai me bater? Olha que eu posso gostar.

— Você é ridículo — reviro os olhos. — A gente se fala amanhã.

— Boa noite, garotinha. 

YouWhere stories live. Discover now