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[ 19 de setembro, quinta-feira ]





Começo minha tarde de quinta-feira como tenho começado todas as minhas tardes desde o começo das férias de verão; limpando as mesas do Hummingbird. Não sei como são as coisas no turno da manhã, mas à tarde as mesas estão sempre cheias de migalhas e marcas de copos, por isso Keith me segue fielmente com uma vassoura. Enquanto jogo os farelos no chão com meu paninho, ele os varre para dentro da pá. E assim, incansavelmente durante cinco dias por semana, vamos trabalhando em equipe.

O Hummingbird é uma cafeteria estilo retrô, com sofás vermelhos, piso quadriculado e até uma jukebox. O dono se chama Julian Jhonson; um senhor de cinquenta e poucos anos que, apesar de ser muito legal, não costuma fazer visitas regulares. A princípio minha ideia era atuar como garçonete somente durante as férias, mas as condições de trabalho não são ruins e preciso juntar dinheiro para a faculdade de fotografia. Então, depois de garantir para os meus pais que o emprego não atrapalharia meus estudos, decidi ocupar a vaga até o final do ano letivo.

— Cara, eu estou tão feliz que hoje é quinta — Keith declara, indo até a porta e mudando a placa de fechado para aberto.

— Não vejo por quê — respondo, colocando uma música animada na jukebox. — Ainda temos duas tardes cheias de trabalho pela frente. Minha empolgação para o fim de semana só chegará amanhã. Às seis da tarde, mais precisamente.

Keith ri.

— E você tem planos para o fim de semana? 

— Tenho, sim. Passar o dia todo de pijama, fazer tarefas da escola e me esquivar das tentativas da minha irmã de me tirar de casa. Você?

— Ensaio da banda.

— Ah, é. A Fish n' Chips… — amarro meu avental, depois começo a organizar as xícaras atrás do balcão. — A gente se conhece há mais de três meses, como é que eu nunca ouvi o som de vocês?

— Estamos preparando uma demo. Assim que ficar pronta, te arranjo uma cópia — ele afirma, levantando uma das mãos em juramento. 

Nesse momento o sininho acima da porta toca, indicando a entrada de alguém. Ambos olhamos na direção do som, então meu amigo loiro se volta  para mim com um sorriso travesso nos lábios.

— Veja só, se não é seu freguês favorito! 

— Você não pode atendê-lo no meu lugar? — peço quase implorando.

— Eu poderia, mas eu sei bem o quanto ele gosta dos seus serviços. Além do mais, preciso pegar um novo saco de café no estoque, aquele está quase vazio. Boa sorte.

Amaldiçoo Keith em pensamento várias vezes enquanto ele se afasta; ele sabe que o saco ao lado da cafeteira ainda está metade cheio. Penso em correr para os fundos e fingir que não estou, mas não tenho tempo de dar nem um passo antes que Castiel Chase — o antes moreno, e agora ruivo dos meus pesadelos — se acomode em um dos bancos a minha frente.

— O que você quer? — pergunto com certa impaciência. 

Eu sei o que ele quer; Castiel tem feito visitas frequentes ao Hummingbird desde as férias. Seus horários nunca são os mesmos, mas os pedidos são; um copo grande de café puro e um donut sem cobertura, para viagem. Não tenho certeza se ele costumava ser um freguês assíduo da lanchonete antes de eu começar a trabalhar aqui, mas, às vezes, tenho a impressão de que suas aparições possuem o único propósito de me incomodar. Afinal, isso é tudo o que Castiel faz desde que nos conhecemos há longos sete anos atrás. 

— Francamente, Greene, ainda não deu para conhecer meus gostos? Venho aqui pelo menos três vezes por semana há meses, e você sempre me faz a mesma pergunta — ele balança a cabeça de um lado pro outro como se estivesse decepcionado, o que faz com que uma mecha de cabelo vermelho caía sobre seu rosto. — Vou querer o de sempre. Espero que saiba o que é.

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