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[ 02 de maio, sábado ]




  — São oito e meia da manhã — é a primeira coisa que Castiel diz ao abrir a porta, conferindo as horas num relógio inexistente em seu pulso.

  — Rise and shine — sorrio. — Eu trouxe bolinhos. Vamos tomar um porre de açúcar pra amenizar a tristeza que está sentindo.

  Adentro o apartamento e deixo a comida na mesa de centro.

  — Se está com medo que eu encha a cara e fume sem parar, pode relaxar. Não vai acontecer. Ariane e eu não terminamos, essa palhaçada toda é só um contratempo.

  — Sinto cheiro de cigarro em você.

  — Fumei um pouco ontem à noite, e daí? Ainda faço isso — ele remexe os sacos de papel, pega um bolinho com glacê roxo e dá uma mordida. — O que faz aqui tão cedo? Não deveria estar chupando o pau do seu namorado?

  — Chupei antes de sair — Castiel franze o nariz. — Não passo vinte e quatro horas por dia com o Leigh, sabia?

  — Comigo é que não passa.

  Abro um sorriso grande, me aproximando dele com braços abertos.

  — Não fique com ciúmes, Castielzinho, você ainda é meu adolescente preferido — digo com um biquinho, como se estivesse falando com um bebê ou um cachorro. — Seremos melhores amigos pra sempre, tá? Vou até escrever isso numa árvore, com um coração em volta.

  Ele se contorce e se afasta das minhas mãos.

  — Não faça eu te socar. Acho que já tivemos gente fodida demais nos últimos dias.

  Isso faz meu brilho sumir. O apartamento parece bem vazio sem a Ari. Eu me sinto horrível. Nada disso teria acontecido se eu só tivesse ignorado aqueles babacas.

  — O que foi? — Castiel pergunta, e olho para ele em dúvida. — Você parece prestes a chorar, o que espero que não faça, porque não sou bom em consolar pessoas que não sejam minha namorada.

  Solto o ar pela boca e me jogo no sofá.

  — Toda essa confusão é culpa minha — boto minha preocupação para fora, encarando o teto. — Sabe, se eu tivesse deixado pra lá, o Leigh não teria apanhado e a Ari não sentiria necessidade de nos defender. Veja como tudo acabou. Nem assisti ao videoclipe ontem, não tive ânimo.

  — É por isso que trouxe uma confeitaria inteira pra cá? Porque se sente mal?

  — Em partes. Também queria ser um bom amigo.

  Ouço Castiel suspirar, então ele se senta ao meu lado.

  — Esse rolo não é culpa sua, Keith. Ignorar o que aconteceu só teria encorajado aqueles imbecis a continuarem sendo uns filhos da puta.

  — Tá, então eu devia ter voltado lá e encarado eles em vez de vir choramingar pra vocês.

  — Foi um momento que te deixou emocionalmente abalado. Na boa, está tudo bem. Vamos dar um jeito nessa bagunça.

  Olho para ele, sorrindo de leve.

  — Até que você manda bem no consolo. Qual seria o próximo passo se fossemos um casal?

  — Eu te abraçaria, te beijaria e acabaríamos transando em cima de alguma coisa.

  Meu corpo é tomado por um tremelique de horror só de imaginar a cena, e eu me levanto para pegar um bolinho com cobertura de baunilha.

  — Como vamos ajeitar as coisas? — pergunto, usando a língua pra limpar o rastro de cobertura branca que ficou no meu lábio superior. — Eu topo qualquer parada, é só falar. Sou seu homem. Não no sentido romântico, quero dizer. Mais como um cúmplice ou um capanga.

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