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[ 21 de outubro, segunda-feira ]






— Ari! — Lysandre exclama quando nos encontramos no corredor, me envolvendo em um abraço alegre. Acho que essa é a primeira vez que nos abraçamos, e a sensação é de aconchego, como se estivesse abraçando um urso de pelúcia. — É bom te ver aqui, e andando sem muletas! 

— Meu tornozelo está cem por cento melhor, finalmente. É estranho eu ter sentido um pouco de falta da escola? Parece que faz séculos que não venho a esse lugar — digo, dando uma olhada ao redor. 

— Você não perdeu nada de empolgante. Pensando bem, na sexta foi falado sobre a festa de halloween e acho que esqueci de te contar. Vai ser sábado à noite. 

— Ah, caramba, eu havia me esquecido completamente sobre a festa da escola! Você está planejando comparecer? 

— Não sei, talvez. Preciso arranjar outra fantasia, não quero ser um mosqueteiro de novo. 

Lysandre e eu continuamos a conversar sobre a festa e sobre algumas outras coisas relacionadas a escola enquanto caminhamos até meu armário. Os eventos da escola costumam ser razoavelmente legais, mas não sei se estarei presente dessa vez; duas festas em um período de uma semana seria coisa demais para mim. Por outro lado, seria uma chance de usar fantasia novamente — e isso é uma vantagem. 

— Você viu o Castiel por aí? — pergunto quando termino de pegar os materiais para a primeira aula.

— Não, sinto muito. Como estão as coisas entre vocês? 

— Como assim? 

— Bom, depois do que aconteceu no sábado, imagino que esteja tudo mais do que bem — ele dá de ombros, como quem não quer nada. Caminhamos vagarosamente para nenhum lugar específico. — Confesso que ele me pegou de surpresa. Eu seria capaz de jurar que vocês não se davam bem. 

— Não nos damos.

— Tem certeza? Vocês sumiram por vinte minutos. Ariana tem certeza que os dois estavam “ dando uns amassos ” — Lysandre faz aspas com os dedos. — porque, quando você apareceu, estava sem batom.

Fico vermelha. Talvez eu tenha me empolgado e beijado Castiel por mais tempo que o necessário, mas quem pode me culpar? Além do mais, aquele batom deveria ser mais resistente. 

— Está tentando coletar informações? — provoco, arqueando uma sobrancelha. — Eu me recusei a falar sobre o assunto com Ariana o fim de semana todo. Por acaso, ela acredita que sou mais suscetível a contar as coisas pra você? 

— Pode acreditar, Ari, ela tem total certeza de que você e Castiel estão juntos agora — Lysandre para de andar, me fazendo parar também, e se vira de frente para mim. — Sei que não pediu minha opinião, mas, honestamente, acho que vocês formam um casal legal. Sempre achei os dois meio parecidos, é uma dinâmica interessante.

Parecidos? Castiel e eu? Normalmente penso em Lysandre como uma pessoa inteligente e sensata, mas isso é absurdo! Eu não tenho nada a ver com aquele ruivo teimoso, cabeça dura e irritante. E quanto às outras coisas que foram ditas, não tenho uma boa resposta para dar. Quer dizer, não tem nenhum relacionamento propriamente dito rolando, e ainda não tive chance de conversar com Castiel depois de tudo. 

Quando me acomodei na cama no sábado, após tomar um bom banho e escovar os dentes, coloquei as coisas em perspectiva outra vez. Acho que não adianta mais tentar negar para mim mesma que Castiel Chase tem me afetado de um jeito diferente; de um jeito que nem mesmo Lysandre costumava me afetar. Costumava. Quando comecei a pensar nos meus sentimentos pelo garoto de olhos coloridos no passado? Para deixar tudo ainda mais estranho, passei o fim de semana inteiro ansiosa para que a segunda-feira chegasse e eu pudesse ver o ruivo outra vez. 

Isso é tão incabível. 

— Eu disse alguma coisa errada? — Lysandre pergunta, me trazendo de volta a realidade. — Você estava fazendo uma cara esquisita...

 — Não, não! Eu só estava pensando numas coisas — balanço a cabeça. — Preciso fazer uns lances antes da aula começar. A gente se vê depois. 

                                         

Encontro Castiel no ginásio. Está fazendo sol lá fora, então ele deve estar tentando se proteger, como todo bom vampiro. Não há mais ninguém no local, mas mesmo assim minha presença só é notada quando me sento ao lado dele na arquibancada. Nossos joelhos se tocam, fazendo minha pele formigar. Apesar de nos conhecermos há sete anos, essa é a primeira vez que estou na presença de Castiel Chase porque procurei por ele. 

O ruivo olha para mim sem expressão, e meu estômago afunda. Algo não está certo.

— Bom dia — arrisco. — Por que está escondido aqui?

— Por que você está aqui? 

— Estava te procurando. Depois de sábado, achei que deveríamos conversar. 

— Também achei. Até fui te procurar, inclusive, mas você e Lysandre pareciam tão felizes abraçadinhos no meio do corredor que não quis atrapalhar.

Dito isso, Castiel se levanta e começa a caminhar em direção a saída. É sério isso? Ele está dando um ataque de ciúmes por causa de um abraço? Me levanto também, irritada.

— Por que está sendo um idiota? O que aconteceu com seu discursinho? — esbravejo, continuando em seguida com uma péssima imitação da sua voz: — Eu sei onde estou me metendo, Greene, não precisa se preocupar. Estou ciente dos seus sentimentos — Castiel interrompe os passos e se volta para mim. Me aproximo até ficarmos cara a cara. — É exatamente por isso que eu disse que seria melhor não tentarmos nada! 

— Só que você não age como se não quisesse nada — ele acusa, franzindo as sobrancelhas. — Você aceitou jantar comigo, aceitou o encontro, aceitou o acordo do beijo... 

— Está brincando comigo? Todas as ideias foram suas! 

Em algum ponto nós começamos a falar mais alto que o normal.

— Desculpe, eu apontei uma arma pra sua cabeça e te obriguei a dizer sim? Cai na real, Greene, você tem me enchido de esperanças vazias. Qualquer um poderia jurar que você estava interessada.

— Com licença, mas eu nunca disse que aceitava sua proposta de termos algum tipo de relacionamento. Na verdade, era exatamente sobre isso que eu queria conversar — meu rosto fica cada vez mais quente conforme as palavras saem. — Eu pensei durante o fim de semana e ia dizer que sim, mas já mudei de ideia. Não sei porque achei que poderíamos ter alguma coisa, é óbvio que não daria certo — passo por Castiel e vou em direção a porta, mas me viro para dizer uma última coisa antes de sair: — Está dando um chilique porque sentiu ciúmes do Lysandre? Pois eu tenho uma novidade para você, Chase. Nós não temos nada, e eu não te devo porcaria de explicação nenhuma! 

— Maravilha! — o ruivo grita, e é tudo que me permito escutar antes de ir embora, batendo a porta. 



Não seria Ariane e Castiel se não rolassem tapas depois dos beijos, né?

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