117

490 49 12
                                    

[ 24 de abril, sexta-feira ]





    Leigh balança a cabeça calmamente no ritmo da música, parecendo estar prestando mais atenção do que Cake By The Ocean realmente necessita. Parece até que ele está ouvindo Frank Sinatra, com seu pijama chique de cetim azul escuro, olhar pensativo e copo de whisky — sem gelo, porque ele é um metido. Leigh tira os fones quando percebe que o refrão vai se repetir pela décima vez, e eu aperto o botão de pause.

    — É legal — ele dá o veredito. —, mas não sei se entendi muito bem.

    — Como pôde não entender? — pergunto com indignação, enrolando os fones no celular e o deixando na mesa de centro. — Você é empresário, fez faculdade. Aposto que tem que lidar com coisas muito mais complexas que uma música do DNCE.

    — Tenho certeza de que há uma metáfora, só não sei o que significa.

    Balanço a cabeça com compaixão, colocando a mão no ombro dele.

    — Pobre menininho do interior, ainda não absorveu a maldade da cidade grande. Devo proteger sua alma inocente a todo custo.

    Leigh estala a língua e aperta meu joelho.

    — Por que não explica de uma vez?

    — Cake by the ocean é meio que um código pra sexo na praia — explico. — Tipo cherry pie, que significa virgindade.

    Ele faz uma careta, levando a bebida a boca.

    — Que bobagem. Por que não usar metáforas mais poéticas?

    — Porque nem todos nasceram em 1700, igual a você.

    — E o que a comida tem a ver com isso?

    — Não sei — reviro os olhos, soltando um gemido irritado. — É uma música divertida sobre sexo e você está estragando tudo.

    — Certo, certo — ele sorri e tira minhas pernas de cima das dele para que possa se sentar de frente para mim. — Como foi seu dia? As gravações finalmente terminaram, não?

    — Sim, ainda bem. Eu curti, mas é mais cansativo que servir mesas.

    — É melhor se acostumar. A Crowstorm ainda vai fazer muitos videoclipes, encontros com fãs, coletivas de imprensa, shows...

    — Estou suando só de imaginar — abano minha camiseta. — Mas espero que tenha razão. Não me importo de morrer de exaustão por causa de tudo isso.

    — Não se atreva a morrer, Hartwell.

    — Adoro quando diz meu sobrenome desse jeito — abro um sorriso malandro, cutucando-o com o pé. Leigh empurra minha perna. — Não se preocupe, eu pretendo morrer só quando estiver bem velho e barrigudo, de preferência enquanto como uma pizza tamanho família.

    — Não vamos falar sobre morte. Palavras são poderosas, sabia? Não quero atrair más vibrações.

    — Ah, eu não sabia que você é um ser místico. Isso explica sua aparência ninfeta.

    Leigh quase engasga com a bebida. Ele me olha com espanto, corando como um tomate.

    — Por que você diria isso?!

    — O que? Eu quis dizer que você parece uma ninfa. Sabe? Aqueles seres mágicos dos rios e sei lá mais o que.

    Ele solta o ar com alívio, passando a mão no rosto.

    — A palavra é feérico — explica. — Ou etéreo.

    — Nenhuma dessas palavras parecem ter relação com ninfas — discuto. — Ninfeta faz muito mais sentido.

YouOnde as histórias ganham vida. Descobre agora