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[ 15 de janeiro, sábado ]







  — Você tem certeza de que pegou tudo o que precisa? — mamãe pergunta, segurando meus ombros para me analisar. Posso sentir seu nervosismo. 

  — Peguei minha câmera, meus documentos, cartão de crédito e, só para garantir, uma troca de roupas. E estou levando o documento que vocês assinaram. 

 — Só uma troca de roupas? Vai ser o suficiente? 

  — Mãe, não vamos passar o fim de semana todo lá, estaremos de volta à noite. Talvez antes. No máximo até de madrugada. 

  — Mesmo assim, acidentes acontecem. 

  — Vai ficar tudo bem — asseguro. — Posso ir tomar café?
 
  — Claro que sim, mas antes — ela me envolve em um abraço caloroso. — Feliz aniversário, meu amor. Não acredito que já está fazendo dezoito anos. Me sinto tão velha! 

  — Quarenta e dois anos não é ser velha — rio. — Você e papai estão na flor da idade. 

  Nós descemos para a cozinha silenciosamente para não perturbar o sono do papai e da Ana. Agora são três e meia da manhã e ainda está escuro lá fora. Leigh e eu sairemos às quatro para podermos chegar às oito em São Francisco — a reunião acontecerá às nove, mas queremos nos previnir em caso de imprevistos. Normalmente eu reclamaria por ter que sair da cama no meio da madrugada, mas estou tão eufórica com tudo que sequer dormi direito. 

  Me sirvo de uma grande caneca de café com leite e dois waffles. Alguém bate na porta assim que dou a primeira garfada, e a mamãe se oferece para ver quem é. Deve ser o Leigh. Quase engasgo com a bebida quando sinto um leve beijo na lateral do meu pescoço. Castiel sorri quando me viro; o cabelo está meio desgrenhado, como se só tivesse passado os dedos rapidamente para acalmar os fios, e há três rosas amarelas em sua mão. Minha mãe não está com ele.

  — Ai, meu Deus, o que faz aqui? — me levanto para abraçá-lo.

  — Já que vai passar o dia inteiro com outro homem, pensei que seria bom dar uma passada pra marcar território — faço uma careta. Ele ri. — É brincadeira, garotinha. Eu vim te desejar boa sorte. 

  — Acordou no meio da madrugada por minha causa? — tento controlar o sorriso bobo, mas não consigo. 

  — E também trouxe flores. 

  Pego as rosas com cuidado. 

  — Onde achou uma floricultura aberta uma hora dessas? 

  — Eu comprei ontem, bobona — ele desfere um peteleco fraco na minha testa. — E tem mais — enfia a mão no bolso do moletom, puxando de lá uma pequena embalagem com três Ferrero Rochers. — Dessa vez eu não sentei em cima. 

  Dou risada, me lembrando exatamente a que ele está se referindo. Foi quando tivemos nossa primeira briga. Pego o chocolate e o deixo sobre a mesa, junto com as flores, antes de enroscar as mãos na nuca de Castiel e beijá-lo por vários segundos. 

  — Você é o melhor namorado que eu já tive — declaro. 

  — Sou o único namorado que já teve. 

  — Tem razão. Talvez eu te ache tão bom porque não tenho com quem comparar — provoco. 

  — Ah, é? Boa sorte pra achar um melhor. 

  Leigh escolhe esse momento para aparecer na porta da cozinha. Ele está vestindo roupas sociais, o cabelo molhado está jogado para trás e seu perfume toma conta do ambiente. Castiel fica tenso em meus braços. Sei o que ele está pensando: aí está uma opção melhor. Não sei como posso convencê-lo de que Leigh não está interessado em mim, é apenas gentil. O homem de cabelos pretos abre um sorriso tímido. 

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