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[ 18 de outubro, sexta-feira ]





— Por que me trouxe para uma sorveteria? — pergunto enquanto saio do carro, tomando cuidado para não pisar forte demais com o pé machucado. — Nem está fazendo calor.

— Eu tinha pensado no cinema, mas não tem nada interessante em cartaz — Castiel passa um braço ao redor da minha cintura para me ajudar a andar. — E acho que um bar não seria um bom lugar para um primeiro encontro.

Interrompo os passos. Acho que não ouvi direito. Castiel me olha com uma expressão divertida; a sobrancelha esquerda levemente arqueada. 

— Primeiro encontro? — questiono lentamente, confusa. — Como assim?

— Você disse que nunca te chamaram pra sair, e eu acho isso um absurdo, então resolvi dar um jeito nisso. 

Ai, minha nossa! Castiel não só se lembrou do que eu disse, como decidiu fazer uma coisa legal a respeito. Ele realmente presta atenção nas nossas conversas! Meu interior inteiro explode em borboletas, arco-íris e gritinhos excitados. Esse não pode ser o mesmo Castiel Chase que conheço há anos. 

— Ai, caramba, o que aconteceu com você? — mordo o lábio, tentando, sem sucesso, reprimir um sorriso bobo. — Desde quando é tão meloso?

— A culpa é toda sua. Se não tivesse flechado meu coração, agora eu estaria formulando uma lista de ofensas que te deixaria com fumaça saindo pelas orelhas. 

— Aí eu flecharia seu coração de verdade.

— Muito justo. 

Trocamos um sorriso. Droga, ele não está facilitando nada o meu lado. Como posso continuar me agarrando ao que sinto por Lysandre como forma de proteção com Castiel agindo desse jeito? Seria tão mais simples se ele desistisse e voltasse a ser odioso... Eu poderia continuar tranquilamente na minha zona de conforto, e ele encontraria uma garota corajosa o suficiente para mergulhar de cabeça em uma relação. O fato de meu coração estar flutuando no momento também não ajuda em nada.

— É muito legal o que está fazendo, mas não esqueceu nada? — Castiel franze o cenho. — Para ir a um encontro com alguém, primeiro precisa fazer um convite. 

— Não achei que precisaria. Nós tivemos um filho e recebemos um B+ pela criação dele, então supus que sua resposta seria automaticamente “ sim ”. 

Reviro os olhos. Lembrar da tarefa do ovo me dá até arrepios.

— Pois você só saberá minha resposta se perguntar.

— Muito bem. Quer sair comigo? 

— Uau, que romântico! 

— Quer que eu me ajoelhe? 

— Não, tudo bem — respondo, exasperada, impedindo que Castiel fique de joelhos. — Sim, eu quero sair com você. 

— Que bom. Mas fique sabendo que não transo no primeiro encontro, então mantenha as mãozinhas longe da minha bunda. 

— Idiota — murmuro, constrangida, socando seu braço.

Castiel me leva até uma mesa vazia no interior da sorveteria, depois vai até o balcão para fazer nossos pedidos. Observo enquanto ele espera ser atendido; as mãos enfiadas nos bolsos da calça escura, as mangas do moletom puxadas para cima, revelando parte de suas tatuagens. Observo como alguns fios de cabelo se desprendem do coque desleixado e caem suavemente sobre sua pele de porcelana, a forma como ossos de sua face são lindamente marcados. Ele parece intimidador e angelical ao mesmo tempo — se bem que eu duvido que anjos pareçam vocalistas de uma banda punk. 

Mal posso acreditar no que está acontecendo. Ainda é difícil assimilar o fato de que Castiel vem sentindo coisas por mim há meses, então é fácil imaginar como minha mente está rodando por estarmos em um encontro. Novamente estou tendo uma primeira vez com Castiel Chase, o que me faz questionar se todas as minhas primeiras vezes serão com ele. Coro só de imaginar. Não penso muito sobre sexo, embora sinta certos desejos de tempos em tempos, mas é fácil deixar a imaginação voar nessa situação.

— Aqui. Uma casquinha mista para a dama — Castiel diz, se sentando ao meu lado. Faço o possível para afastar os pensamentos prévios. — É por minha conta, você podia ter pedido algo maior.

— Eu sou econômica. O que é o seu? 

— Milkshake de chocomenta. Quer um gole?

— Não, obrigada — faço uma careta enojada. — Não gosto de chocomenta. É como escovar os dentes e comer chocolate logo em seguida, ou vice-versa. 

— Você gosta do Lysandre, eu já devia imaginar que não tem o mínimo de bom gosto. 

— Ei! 

Nós ficamos em silêncio por um tempo. É raro ficarmos sem palavras quando estamos juntos, mas essa situação é nova para nós dois e acredito que ambos estejamos meio tímidos. Meus olhos viajam pelo estabelecimento, pelo lado de fora através da janela, pela mesa e finalmente encontro algo para dizer.

— Seu anel — começo, chamando a atenção do ruivo. — Eu nunca o vi ficar dessa cor. O que significa? 

— Não tenho ideia — ele responde, analisando o acessório. — Eu uso isso porque foi o último presente que minha avó me deu antes de morrer. Nunca pesquisei o significado das cores. 

— E não fica nem um pouco curioso? 

— Não muito. Pra falar a verdade, eu quase nunca presto atenção no anel. 

— Tá, mas eu quero saber o que é. Vou pesquisar.

Pego meu celular e ativo os dados móveis, depois dígito “ anel do humor ” no google e espero a página carregar. Há muitas imagens com significados diferentes para cada cor, mas grande parte delas têm a mesma resposta para o verde petróleo que tomou conta do anel do Castiel. Assim que leio a palavra meu coração começa a palpitar.

— Então? O que significa? 

— Hã... Aqui diz que é paixão. 

— Quer dizer que esse negócio funciona mesmo? Impressionante — o ruivo analisa o anel uma última vez antes de olhar para mim. — Por que parece tão surpresa? Eu já declarei meus sentimentos.

— E-eu sei, é só que é difícil acreditar que você gosta mesmo de mim. Isso parece tão improvável.

— Foi exatamente o que pensei quando me dei conta do que estava acontecendo. Mas é verdade, Greene, eu estou apaixonado. E você está com sorvete no canto da boca.

Antes que eu possa dizer qualquer coisa, Castiel passa o polegar no local sujo e depois o lambe. Por que isso é tão estranhamente atraente? Sinto que meu rosto pode entrar em combustão, então pego um guardanapo e limpo minha boca para disfarçar a vergonha. Como eu gostaria de não ficar tão facilmente constrangida! 

— Como vão os preparativos para a apresentação de halloween? — mudo de assunto. — A festa é amanhã.

— Não deu para ensaiar muito, mas acho que vai dar tudo certo. Marcamos de ensaiar uma última vez hoje, às sete. 

— São cinco e meia.

— Eu quis te trazer aqui primeiro, já que não teremos tempo amanhã.

— Keith disse que você mandou super bem, que é até melhor que o vocalista original. Confesso que estou bastante curiosa para te ouvir cantar.

— Pois se prepare para ouvir a melhor voz de todos os tempos.

— Você é muito convencido — reviro os olhos. — Aposto que nem é tão bom assim. 

— É mesmo? — ele arqueia as sobrancelhas. — Vamos fazer o seguinte, então. Se você gostar do show, terá que me recompensar com um beijo. 

— E se eu não gostar? 

— Eu faço o que você quiser. Mas tem que dar uma opinião sincera — ele ordena, estendendo a mão para mim. — Aceita? 

Penso por um segundo antes de tomar uma decisão. Não tenho absolutamente nada a perder aqui. Aperto sua mão.

— Aceito.

YouWhere stories live. Discover now