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[ 20 de janeiro, quinta-feira ] 





  Acordo por volta das quatro da manhã com o estômago embrulhado, e não tenho tempo de raciocinar nem por um segundo antes de ter que correr pro banheiro e vomitar toda a comida japonesa no vaso sanitário. Fico sentada no chão, respirando com dificuldade, durante uns dois minutos antes de me levantar e lavar a boca. Saio do banheiro ao mesmo tempo em que a mamãe sai do quarto com uma cara preocupada. 

  — Tudo bem, querida? Eu te ouvi vomitar. 

  — Acho que a comida não caiu muito bem. 

  Sinto ânsia outra vez, então fecho os olhos e respiro fundo para acalmar a sensação. Odeio passar mal. 

  — Está sentindo alguma coisa? Dor, febre? 

  Nego com a cabeça. Meu pai abre a porta do quarto; está usando apenas uma bermuda esportiva e o cabelo está todo bagunçado. 

  — O que está acontecendo? 

  — A Ariane vomitou. 

  — Ah, não — ele apóia o polegar e o indicador na ponte do nariz. — Minha filha, pelo amor de Deus, não é possível. Nós te demos preservativos. 

  Fico confusa por um instante, então me dou conta do que ele está insinuando. 

  — Pai, não tem nada a ver! Eu comi peixe cru ontem, é só uma intoxicação alimentar. Francamente, você precisa pegar mais leve com essa história de… 

  Cubro a boca, dou meia volta e corro para o vaso sanitário outra vez. Meus pais ficam em pé na porta enquanto coloco os bofes pra fora, o que é meio constrangedor. 

  — Não dá para pegar leve, Ariane. Eu fico preocupado — o papai diz enquanto lavo a boca outra vez. — Eu sempre achei que se uma de vocês engravidasse cedo, seria a Ariana. 

  — Eu juro que é só uma intoxicação — respondo, respirando fundo várias vezes. — As porções eram grandes, pode ser que eu tenha exagerado um pouco. Não costumo comer sushi. 

  — Tudo bem — mamãe entra na conversa. — Volte para a cama. Se não melhorar até amanhã, te levo ao médico.

  Concordo silenciosamente, porque se eu abrir a boca não sairão apenas palavras. Meu estômago se acalma um pouco enquanto caminho até o quarto e, por um segundo, fico preocupada. E se…? Não. Não vou botar caraminholas na cabeça. É só uma intoxicação alimentar, nada mais. Não consigo pegar no sono pelas próximas duas horas. 

                                      °

  Se ter meus pais observando enquanto vomito é ruim, ter o Castiel é ainda pior. Não que eu ache que ele vai me julgar por isso, mas não é uma visão muito bonita. Ele segura meu cabelo com uma mão e acaricia minhas costas com a outra. 

  — Você devia estar na escola — digo, ofegando. 

  — Sabendo que você não está bem? Eu não conseguiria me concentrar. 

  — Não queria que me visse assim. 

  Quando estou certa de que meu estômago não tem mais nada para dispensar por ora, me levanto e puxo a descarga. Castiel me observa com olhos preocupados enquanto escovo os dentes. Consegui dormir por apenas uma hora depois da interrupção de sono da madrugada. Não passei mal durante esse tempo, mas trinta minutos com o café da manhã no estômago e eu tive que correr escada acima com uma mão na boca e um ruivo no encalço. 

  — A comida de um restaurante caro não deveria te fazer vomitar assim — ele diz enquanto caminhamos devagar para o andar inferior. 

  — Meu estômago de pobre não está acostumado com comida de rico. 

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