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[ 30 de março, terça-feira ]




    Eu não estou apaixonado.

    Quer dizer, eu gosto do Leigh, mas não estou apaixonado. Ninguém se apaixona tão rápido, não é? Aquela vez em que fiquei obcecado por batatinhas com queijo e bacon não conta. Eu nem sei direito o que está acontecendo, para ser bem sincero, e ele ter dado no pé logo depois de termos nos beijado não facilita as coisas pro meu lado. Não tocamos nesse assunto, embora conversemos bastante por mensagem de texto. Leigh já está bastante atarefado e preocupado com o pai, não quero colocar mais esse peso sobre seus ombros.

    Não que seja um peso. Não acho que o que rolou seja um problema, mas é óbvio que isso muda as coisas entre nós. Somos ficantes? Amigos com benefícios? Nada? Não namorados, é claro. Leigh é o tipo de cara que levaria alguém a trocentos jantares à luz de velas e encontros fofos antes de pedi-lo em namoro. E eu também não quero partir direto para essa etapa. Leigh merece um relacionamento sério com alguém que tenha certeza absoluta de que o ama, e a única coisa de que estou certo agora é que estou doido para beijá-lo de novo.

    Talvez eu devesse ter beijado um cara antes, mas nunca senti, de fato, essa vontade até, bom, ele. Eu o notei desde a primeira vez em que ele veio ao Hummingbird para falar com a Ari; tão alto e bonito quanto um elfo, com seu cabelo preto e comprido e olhos cinzentos. A beleza do Leigh é notável, e não é preciso curtir homem pra reconhecê-la. Fora as boas maneiras — nunca conheci alguém tão educado e elegante. Vai ver eu nunca tenha tido o impulso de beijar um homem porque nunca conheci um como o Leigh. O cara parece ter saído de um livro, e eu nem gosto de ler.

    — Solta a língua, loirinho. Qual é a notícia do senhor Yang?

    A xícara cai da minha mão por causa do susto e se espatifa no chão. Cacete, mais um item quebrado pra minha conta. Ariane e Castiel estão parados do outro lado do balcão, de braços cruzados, como se estivessem prestes a me dar uma surra. A Ari, pelo menos, parece um pouco preocupada por terem me feito quebrar um objeto da cafeteria.

    — O que vocês são? Uma dupla de mafiosos? — reclamo, deixando o pano de prato sobre o balcão e pegando a vassoura. — Não sabem que não se deve assustar uma pessoa com algo quebrável nas mãos?

    — Pensei que tivesse nos ouvido entrar.

    — Sem chororô, fala logo — Castiel espalma as mãos no balcão. — Não deve ser nada de mais, você está todo tranquilo.

    — Não, na verdade é uma notícia fantástica — varro os cacos para dentro da pá e a deixo apoiada num canto. — O senhor Yang disse que os manda-chuvas da Moon Records gostaram muito da nossa demo e acham que podemos emplacar. Querem investir em nós.

    — Puta que pariu — ele sussurra com olhos arregalados. Suas íris são de um cinza um pouco mais claro que as de Leigh. — Não fode. Isso é verdade? Eu juro que te mato se estiver brincando comigo.

    — É claro que é verdade, seu mala. Eles querem fazer uma reunião com a gente amanhã, à noite.

    — Puta que pariu! — dessa vez Castiel grita, agarra Ariane pela cintura e a gira. Ela ri e segura seus ombros. É fofo. — Mark e Jake já estão sabendo?

    — Ainda não contei.

    — Eu vou falar pra eles. Até mais tarde — ele dá um beijo rápido na namorada e voa pra fora do estabelecimento.

    Arianinha, que até agora não teve chance de falar muita coisa, se volta para mim com um sorriso grande e brilhante. É claro que tive uma paixonite nela quando nos conhecemos. Ela é bonita, engraçada e afiada como uma faca. O interesse romântico se extinguiu rapidamente, mas ela é uma das melhores amigas que já tive e, sem sombra de dúvidas, a melhor colega de trabalho.

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