Capítulo Bônus

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[ 05 de junho, quarta-feira ] 





  A primeira vez em que coloquei meus olhos sobre Ariane Greene foi na quinta série. Eu era novo no país e, consequentemente, na escola também. Ela era uma coisinha pequena e calada e muito, muito bonita. Como todo bom garoto de onze anos, meu primeiro instinto foi perturbá-la para ser notado, o que funcionou bastante bem. Foi surpreendente descobrir que, apesar da aparência tranquila, ela era um tanto quanto irritadiça. 

  Surpreendente e divertido. 

  Foi nessa época que peguei gosto por importuná-la sempre que possível. Ainda é um dos meus passatempos preferidos. Adoro suas respostas afiadas, suas expressões de descontentamento, seu olhar zangado, e a forma como seu rosto fica vermelho todas as vezes — seja de raiva, frustração ou vergonha. Não serei convencido e dizer que ela é a única garota que não me dá mole, porque existem várias, mas ela é a única que rebate minhas provocações. 

  Por anos isso não passava de simples e pura diversão, mas nos últimos tempos tem se tornado quase uma necessidade. Preciso ter uma discussão com Ariane Greene ao menos uma vez no dia, como uma pessoa resfriada tomando antibióticos. Não sei porque isso acontece, mas já aceitei. Essa garota é como uma droga, e eu estou viciado. Falando nela… 

  — E aí, garotinha — abro um sorriso provocador, fechando a porta do seu armário. 

  Ela me lança um olhar raivoso. 

  — Ainda não terminei de pegar minhas coisas. 

  — Oh, desculpe, que indelicadeza a minha. 

  Um revirar de olhos, e ela torna a abrir o armário. 

  — O que é que você quer, hein? 

  — Desfrutar de sua agradável companhia, é claro. Como foi sua noite? 

  — Quase não dormi, para ser sincera. 

  — Uh, e por que? Muitos sonhos eróticos comigo? — dou uma piscadela. 

  Sua resposta é uma careta enojada. 

  — Você não tem ideia de como estou feliz por só faltarem dois dias para as férias — ela diz, fechando o armário. — Três meses sem precisar te aturar será como padecer no paraíso. 

  Assim, Ariane me dá as costas e se afasta, com o cabelo comprido e escuro esvoaçando atrás.  É só, então, que a realidade me atinge: passarei noventa e dois dias sem vê-la. Não que isso seja um problema; acontece todos os anos. Honestamente, será até bom ter uma folga. Apesar disso, me sinto meio estranho. 

  Ainda estou incomodado na hora do almoço, por isso vou para trás do ginásio — único lugar onde posso fumar em paz. Um pouco de nicotina vai fazer essa coisa estranha sair do meu peito. Solto a fumaça da primeira tragada no exato momento em que uma garota aparece. Não, não qualquer garota; Amelie Anderson. Nós dormimos juntos algumas vezes, embora não mantenhamos contato frequente na escola ou em qualquer outro lugar. Ela é alta, ousada e atraente. Foi a responsável por me convencer a pintar o cabelo de vermelho. 

  — Imaginei que estaria aqui — diz, com um sorriso sabichão. — Tem mais cigarros aí? 

  Pego a cartela no bolso traseiro da calça e lhe ofereço um. Estou ciente de que a cartela fica bem visível quando colocada no bolso, mas não importa. A diretoria não pode me punir por andar com cigarros, só se me flagrar fumando — coisa que aconteceu poucas vezes. Amelie possui seu próprio isqueiro. Ela se encosta no muro, ao meu lado, e solta um suspiro relaxado. 

  — Existe algo melhor que fumar escondido entre as aulas? 

  — Posso pensar numa coisa ou duas — declaro, sorrindo de forma insinuante. 

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