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[ 14 de março, domingo ]




    Eu odeio menstruação.

    Bom, não a menstruação em si, mas os desconfortos que a acompanham. Eu não veria problema em sangrar por cinco ou sete dias se isso não implicasse uma cólica horrorosa, que me obriga a procurar posições que deixem a dor mais suportável. No momento, estou ajoelhada no chão, dobrada sobre meu próprio corpo, como se estivesse rezando ou esperando ser executada. Não tenho remédio, bolsa de água quente ou absorventes e, para piorar, sequer estou na cidade onde moro. Ninguém estava muito a fim de dirigir durante duas horas e meia depois de festejar até cair no pub, por isso alugamos um pequeno quarto de hotel.

    Exceto Ariana, Lysandre e Leigh; eles foram embora. Desde que acordei com a calcinha empapada de sangue, acho que devia ter feito o mesmo.

    — Greene? — a voz sonolenta de Castiel chama. Ouço-o se revirar na cama. — O que está fazendo?

    — Sofrendo — respondo sem levantar a cabeça. — Minha menstruação desceu.

    — Isso explica o sangue no lençol. Mas por que está largada aí, parecendo uma assombração?

    — Porque estou morrendo! — esbravejo, olhando para ele. — Essa posição ameniza um pouco a dor. Se um parto é pior do que isso, então nunca teremos filhos. Nunca, ouviu? Nem sequer pense em fecundar um óvulo meu.

    Castiel assume uma expressão divertida enquanto sai da cama, usando nada mais que uma cueca preta. Nossas roupas da noite anterior estão dobradas sobre a pequena cômoda; exceto a camiseta vermelha, que ele me emprestou.

    — É você quem diz querer formar uma família no futuro.

    — Está insinuando que não quer ter filhos comigo?

    — Eu quero tudo com você, Greene — ele declara, sentando-se perto de mim e fazendo com que eu me deite em seu colo. — Em cinco anos, talvez. Nesse momento, o que posso fazer por você?

    — Pode bater na minha cabeça até eu desmaiar.

    — O período menstrual te deixa meio fora da casinha, não é?

    — Eu não trouxe absorventes, remédios nem uma calcinha reserva — lamento. — Vamos ter que passar os próximos sete dias nesse quarto.

    — Ou eu posso ir à farmácia, e depois a uma loja de lingerie. Prometo tentar encontrar uma calcinha com desenhos bonitinhos, do jeito que você gosta.

    Duas batidas na porta, então uma cabeça loira aparece. Keith adentra mais o quarto, coçando os olhos para afastar o sono. Chegamos ao hotel por volta das cinco da manhã; aposto que ficaremos como zumbis o dia todo, não importa o quanto durmamos.

    — São meio dia e quinze — ele informa. — Querem tomar café, ou almoçamos logo? O que houve?

    — Estou em uma espiral de agonia sangrenta há quarenta minutos. Meu corpo está me castigando por não ter um bebê, mas também me castigaria se eu tivesse um. É isso. Não dá para fugir. Estou destinada a sofrer.

    — Certo... Eu vou me arriscar aqui e chutar que se trata de problemas uterinos. Posso ajudar de alguma forma?

    — Pode bater na minha cabeça até eu desmaiar.

    — Pode me emprestar sua camisa — Castiel diz. — Tenho que dar uma saída. Jake está acordado? Ele conhece um pouco a cidade, vou pedir que me ajude a encontrar uma farmácia.

    — Está no banheiro.

    — Ótimo.

    Castiel me tira do seu colo cuidadosamente e se levanta. Keith empresta sua camiseta branca para o ruivo, ficando apenas com a camisa listrada de mangas compridas que estava usando por baixo. Castiel calça os sapatos, prende o cabelo de qualquer jeito e pega a chave do carro antes de ir para a porta. Jake tem carteira de motorista.

    — Fique aqui, por favor — ele pede ao nosso amigo. — E não bata na cabeça dela. Ninguém aqui tem dinheiro o suficiente para pagar um médico.

    Eu sou deixada na companhia do Keith pelos próximos vinte e sete minutos. A cólica melhora consideravelmente lá pela metade desse tempo, mas o loiro permanece me cercando como se eu estivesse no leito de morte. Homens e seus cérebros estranhos. Em um certo momento ele fica determinado a descer até a cozinha do hotel e pedir um chá de sei-lá-o-que, e encarrega o Mark de ficar de olho em mim enquanto isso. O garoto ruivo se acomoda na porta do quarto como um cão de guarda. A situação toda é um tanto quanto embaraçosa, visto que continuo sangrando e vestindo apenas uma camiseta. Ela é comprida o suficiente, mas ainda assim.

    Castiel vem direto para o quarto quando retorna ao hotel, e fico aliviada por ficarmos a sós novamente. Ele trouxe duas sacolas consigo; uma estampada com o logotipo de uma farmácia, e outra lisa. Na da farmácia há três tipos diferentes de remédio para cólica, um pacote de absorventes internos e uma bolsa de água quente, e na lisa...

    — Eu não quero parecer ingrata, querido, mas que porcaria é essa? — pergunto, me referindo à calcinha ridícula onde lê-se ” cardápio do dia " com uma seta apontando para baixo.

    — Tinha uma sexshop perto da farmácia, então fomos até lá para economizar tempo.

    — E não tinha nada menos imbecil?

    — Era um sexshop, Greene. As únicas outras opções eram fios dentais e calcinhas comestíveis.

    — Em qualquer outra situação eu me recusaria totalmente a usar essa joça. Eu nem sei o que dizer sobre isso.

    — Que tal ” obrigada, meu amor, por me ajudar. Você é ótimo, eu te amo ”?

    — Obrigada por me ajudar. Eu te amo — repito, sorrindo docemente.

    Castiel segura minhas bochechas e beija minha boca, depois minha testa.

    — Sei disso, garotinha. Tome um banho, vamos comer alguma coisa e ir pra casa. Tudo bem se o Jake dirigir?

    — Claro. Eu só quero deitar no banco traseiro e dormir mais um pouco, agora que a cólica passou.

    — Pobre coisinha — ele diz, acariciando minhas costas. — O lado bom de tudo isso é que no cardápio do dia tem exatamente o que eu quero comer.

    Lhe dou um empurrão, sorrindo, e o ruivo sai do quarto em meio a risadas.

    O que posso dizer? Sou louca por esse pateta.
   

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