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[ 05 de janeiro, quarta-feira ] 




  — Sabe de uma coisa? O castigo só durou duas semanas, mas eu estava morrendo de saudade de vir aqui. 

  Castiel solta uma risadinha e beija meu ombro, então sua voz baixa e grave diz no pé do meu ouvido:

  — E eu estava com saudade de te ter aqui. A única visita que tenho recebido ultimamente é o Keith. 

  É quarta-feira à noite e está chovendo um pouco lá fora. Castiel e eu estamos deitados em sua cama com as pernas entrelaçadas, sua mão direita repousando em meu abdômen e o braço esquerdo embaixo da minha cabeça. É tão aconchegante ficar apenas assim com ele, tão confortável. Eu poderia facilmente passar a noite toda aqui. Talvez até a vida. 

  — Meu pai disse que você poderá ir lá em casa também, mas teremos que deixar a porta sempre aberta, não importa em qual cômodo estejamos.

  — Ele tem medo que a gente transe lá, onde tem várias pessoas, mas não se importa que você venha até aqui, onde estamos a sós? 

  Me viro de frente para Castiel, abrindo um sorriso sapeca que ele provavelmente não pode ver por causa da escuridão. 

  — Ele não sabe que estamos a sós. 

  — Continuamos mentindo, huh? 

  — Mentindo não, ocultando. Ele não perguntou nada sobre seus pais, então eu não falei. 

  — Sabe de uma coisa, garotinha? Talvez eu seja mesmo uma má influência pra você. 

  Nós dois sorrimos, então ele me beija. Sua boca tem gosto de pasta de dente e da torta de cereja que comemos ainda a pouco. Às vezes penso que poderia beijá-lo para sempre sem nunca me cansar, mesmo quando seu hálito possui resquícios de cigarro. Nós não ficamos separados durante esses catorze dias — não de verdade, pelo menos —, mas minha vontade é de ficar mais perto ainda. Puxo o ruivo para indicar que o quero por cima de mim, o que ele obedece rapidamente.

  — Dá para acreditar que só temos mais seis meses de aula? — pergunto quando paramos o beijo, mas mantemos os rostos próximos. 

  — Pois é. Em junho nossa longa jornada estudando juntos chegará ao fim. Isso é um pouco estranho. 

  — Você pensa em se inscrever em alguma universidade? 

  — Hm, não. Não logo de cara, pelo menos. Decidi que vou me dedicar à música por um ano e, se nada der certo, vou me inscrever para uma faculdade e me formar em qualquer coisa que não me dê vontade de me atirar da ponte. 

  — Você sabe que pode cursar música na faculdade, não é? — abro um sorriso zombeteiro.
 
  — É, mas eu prefiro tentar na prática primeiro. E você eu nem preciso perguntar. Administração, certo? Para abrir sua própria cafeteria no futuro.
 
  — Ha ha. Eu vou me inscrever para a faculdade da cidade mesmo. Eles tem um curso de fotografia e não precisarei arranjar outra moradia, caso entre. 

  — Você pode vir morar comigo. 

  O quarto fica em silêncio enquanto absorvo essas palavras. Não sei que cara Castiel está fazendo, porém posso sentir seu coração acelerado. Pode parecer estúpido, mas eu nunca tinha realmente pensado na possibilidade de morar com Castiel. Quer dizer, é um passo muito grande. Será que estamos prontos pra isso? Seria quase como estarmos casados. E não importa se já não vamos mais ser colegiais, ainda não seremos adultos. E morar com o namorado seria uma coisa muito adulta, não é? 

  — Greene? Está começando a me deixar nervoso. 

  — M-morar com você? — gaguejo, voltando a realidade. Tiro Castiel de cima de mim e me sento. 

  — Por que não? Nós dois continuaremos na cidade e a maioria das pessoas sai da casa dos pais quando entra na faculdade. 

  — É, mas normalmente elas vão para dormitórios ou casas de fraternidade. Nós morarmos juntos seria como nos casar informalmente. 

  — Tá legal, então casa comigo. Informalmente. 

  Viro a cabeça em sua direção, mas ainda está escuro demais. Acendo o abajur. Não podemos ter essa conversa sem enxergar um ao outro. 

  — Isso é sério, Castiel. 

  — Eu estou rindo? 

  — A formatura é em seis meses. Quem sabe como estaremos até lá? 

  — Quem sabe como estaremos? — seu tom é irritadiço. — Eu te amo, e em seis meses eu vou continuar amando você. É assim que estaremos. 

  — Eu também te amo, mas não podemos ter certeza do futuro. Somos muito jovens. 

  — Sei. Então está tentando me dizer que até lá você poderá estar apaixonada por outro cara. 

  — O que? Não é nada disso! Só estou dizendo que...

  Castiel me interrompe, saindo da cama e caminhando até o meio do quarto.

  — Quer saber, nem precisa continuar. Esquece o que eu disse. Foi um erro. É óbvio que não estamos na mesma página. 

  Dito isso, ele vai embora e bate a porta atrás de si. Dobro os joelhos e enterro o rosto nas mãos. Nosso primeiro desentendimento como um casal e eu me sinto péssima. Não queria magoá-lo, só fiquei preocupada. Também não quis insinuar que estarei apaixonada por outra pessoa — eu o amo tanto que chega a doer, e Deus sabe que esse sentimento levaria muito mais que seis meses para desaparecer. Mas o que eu disse é verdade; somos jovens. E somos despreparados. Sei que ninguém embarca numa nova fase já sabendo como agir, mas precisamos ser racionais. Não posso simplesmente aceitar morar com Castiel sem que analisemos tudo com cuidado. 

  Posso ouvi-lo abrir a geladeira e em seguida uma lata de cerveja. Me deito outra vez. É melhor deixá-lo esfriar a cabeça antes de tentar conversar, ou essa discussão pode ficar ainda pior. 



  Gente, uma coisa que eu talvez não tenha conseguido expressar muito bem ao longo da história: a Ari tende a ficar ansiosa diante de determinadas situações, é por isso que algumas vezes ela poderá parecer mais preocupada que o necessário, ok? Não briguem com ela KKKK

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