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[ 22 de dezembro, quarta-feira ]


— Uau, sua alegria poderia prover eletricidade pro continente europeu inteiro.

— Não enche — rebato, deixando Castiel entrar. Minhas sobrancelhas estão tão franzidas que temo não conseguir movê-las outra vez. — Hoje tudo deu errado. A roupa que eu queria vestir está rasgada, meu cabelo não quer ficar no lugar, cortei o joelho com o gilete enquanto me depilava e meu desodorante acabou, então tive que usar o do meu pai e agora estou com cheiro de homem.

— Por que não usou o desodorante da sua irmã? Ou da sua mãe?

— Porque estava estressada demais para pensar nisso! — esbravejo, seguindo para a cozinha. — Meu cérebro não funciona direito nessas situações. 

Apóio os cotovelos na ilha e enterro o rosto nas mãos. Hoje é um dia especial, sei que não deveria estar agindo assim, mas não é culpa minha. A culpa é do meu ciclo menstrual desregulado. Essas coisas não me deixariam tão zangada sob circunstâncias normais, mas estou na tpm há mais dias do que de costume e não posso fazer nada sobre isso. Castiel deixa as duas sacolas que trouxe sobre a superfície de mármore, depois fica atrás de mim e começa a massagear meus ombros.

— Fica calma, Greene, eu não quero que você exploda no nosso aniversário de três meses — ele diz, e seu toque firme me faz relaxar um pouco. — Não se preocupe com o cabelo e com o desodorante; quase não dá para sentir o cheiro, e você está parecendo um leão fofo e raivoso. 

— Tipo o Scar? 

— O Scar não é fofo, eu diria que ele é mais sensual. 

— E eu não sou sensual?! — empurro suas mãos, me virando de frente para ele. 

— Você é a garota mais sexy que já vi, principalmente com esse olhar de maluca homicida.

Reviro os olhos diante de seu sorrisinho. 

— Escuta, por que não sobe e toma um banho quente? Eu preparo o jantar enquanto isso. E não se preocupe com as roupas, vai ficar sem elas em algum momento da noite mesmo. 

— Você não consegue ser romântico, não é?

— É o que você acha, mas espere só até ver o presente que eu trouxe.

— Espero que não tenha amarrado um laço na cueca. 

— Não, mas a ideia é boa. Agora, vai tomar um banho e veja se todo esse ódio desce pelo ralo.

Decido acatar sua sugestão sem discutir. Estou mesmo precisando de um banho para relaxar. Não me apresso para acabar. Massageio meu couro cabeludo com a ponta dos dedos enquanto lavo o cabelo, deixo a água quente escorrer pelo meu corpo com calma e até uso a esponja macia da minha irmã. Estou muito mais tranquila quando saio do banheiro, por isso decido não esquentar a cabeça com roupa e visto algo confortável. 

Os cômodos inferiores estão escuros quando torno a descer, exceto por uma luz amarela bruxuleante vinda da cozinha. Castiel está sentado em dos bancos da ilha. Ele preparou duas taças de vinho, duas embalagens de mac and cheese congelado ( ambas já devidamente descongeladas ) e, no centro, colocou duas velas acesas sobre um prato pequeno. Sorrio. 

Bentornato, amore — o ruivo diz, se levantando. — Se sente melhor?

— Bastante, obrigada. E me desculpe, não quis gritar com você.

— Sem problemas.

Castiel segura minha cintura e me beija, depois nos acomodamos para jantar. Eu não sou a pessoa mais romântica do mundo, também nunca sonhei muito em viver momentos assim, mas toda vez que Castiel faz um gesto bonito meu coração derrete como cera — mesmo que o gesto seja com comida congelada.  Nós comemos entre conversas e risadas, depois vamos para a sala. Não está tão frio quanto eu esperava que fosse estar, mas acendemos a lareira mesmo assim. 

YouWhere stories live. Discover now