64

935 90 55
                                    

[ 12 de janeiro, quarta-feira ] 





  — Massa essa ideia do karaokê, né? — Keith pergunta, estirado de atravessado na minha cama. 

  — Hm… 

  — Muito legal isso que está acontecendo com a Ari. Ela merece todas as coisas boas do mundo. 

  — Merece — respondo distraidamente enquanto dou um jeito no cabelo. 

  — Mas fala aí, você não está nem um pouco incomodado com o fato de o Leigh ir com ela? 

  Trinco os dentes. Estou mais do que incomodado, estou tentando não pirar com a ideia dos dois sozinhos no carro durante oito horas, nos dois perambulando por São Francisco, em ambos saindo para comemorar juntos caso tudo dê certo. Tenho vontade de arrancar os cabelos, mas me controlo. Trabalhar com fotografias é o sonho da Ariane e até eu sei que essa tal i-D é uma revista grande. Se um dia a sós com Leigh é o que precisa para ela conseguir dar um passo para mais perto da realização de um sonho, então tudo bem. Eu posso aguentar. 

  — Não, nem um pouco. 

  — Tá — ele solta um som de escárnio. — Está me dizendo que pensar neles viajando sozinhos não está te corroendo nem um pouquinho por dentro? 

  Me viro de frente para Keith com um pente na mão. 

  — Cala a boca ou eu juro que te mato com isso — ameaço, dando-lhe as costas outra vez.
 
  — A ideia de sair para comemorar a conquista dela devia ter sido sua, sabia? 

  — Nós comemoramos. Muito. Bem aí onde você está deitado. 

  Isso faz Keith dar um salto para fora da cama. Dou uma risada baixa. Mais uma vez estamos contrastando como o dia e a noite. Eu com meu cabelo cor de sangue, as tatuagens, os piercings e a roupa escura; ele com o cabelo cor de areia, a pele totalmente livre de tinta e as roupas claras. Talvez sejamos um pouco como as Greene, mas sem laços de sangue, graças a Deus. Ter um irmão implicaria ter que dividir o apartamento, o que implicaria também na falta de espaço para uma pessoa com quem quero mesmo morar. 

  Ouço a porta da frente abrir e fechar, e passos se aproximando em seguida. Sei exatamente quem é, e meu coração erra uma batida. Essa é a primeira vez que Ariane entra no apartamento sem bater na porta, e isso me faz sentir como se já estivéssemos vivendo juntos. Francamente, as coisas que me fazem feliz desde que me apaixonei por essa criatura… Ela aparece na porta do quarto usando uma calça de pernas largas, com rasgos que me permitem ter um vislumbre de parte de suas coxas e joelhos, uma regata preta justa e os all stars pretos de sempre. Os cabelos estão presos em um dos raros rabos de cavalo. Gloriosa. 

  — E aí — sorri. — Estão prontos pra comemorar? 

  — Eu estava dizendo ao Keith sobre como comemoramos bastante anteontem. 

  — Você é um idiota — ela resmunga, ruborizando. — Vão cantar hoje? 

  — Com toda a certeza — Keith se aproxima e joga um braço por seus ombros. — Eu adoro karaokê. E se rolar bebida, boa sorte para me tirar de cima do palco. 

  — Você vai cantar? — pergunto, terminando de vez de me aprontar. 

  — Provavelmente não. Sou tímida demais pra isso. 

  — Qual é, você tem que cantar! Estamos saindo para comemorar seu contrato com a revista. 

  — Não é só por isso que estamos indo, também vamos comemorar meu aniversário e o da minha irmã, já que não vou estar aqui no sábado. Aliás, a ideia foi dela. 

YouWhere stories live. Discover now