55 - Memórias

Começar do início
                                    

- Ah, mas acontece que isso não é um carro numa estrada ruim! Se um troço desses cai, e no meio do mar, é pra matar essa galera toda! Inclusive a gente! – nesse momento aconteceu um movimento mais forte – Ave Maria! – olhei apavorada para os lados.

Eu estava na poltrona do meio e Regina na janela. Ela apertou minha mão.

- Calma, querida. – disse suavemente.

- Será que tem uísque aqui? – olhei para ela com os olhos arregalados.

- Uísque?? – franziu a testa sem entender.

- Quero beber até me danar! – outro solavanco – Virgem Santa! – me agarrei no assento.

- Você dizendo isso? A coisa está mesmo séria. – riu - Vamos fazer assim: encoste no assento. – tocou meu ombro e me empurrou de leve contra o assento – Feche os olhos. - obedeci – E apenas me ouça. – aproximou os lábios no meu ouvido – Pense em Deus, dará tudo certo. - disse suave e pausadamente.

Senti que me acariciava a cabeça e rezava baixinho. Aos poucos fui me acalmando e dormi. Só fui acordar quando as comissárias serviam o café da manhã. 

Chegamos no sábado de manhã e fomos para casa. Regina lavou as roupas e arrumou as coisas que comprou. Eu fiz uma faxina e comprei comida no mercadinho próximo que estava aberto. Fui olhar a caixa de correio e havia um bilhete de dona Márcia avisando que queria a quitinete até o dia 30 de maio.

"Que beleza, temos 22 dias para achar outro lugar!"

- Regina, - abri a porta entrando em casa – dona Márcia escreveu em um bilhetinho que quer a quitinete até o final do mês! – fechei a porta.

- Ai amor, e agora? É pouco tempo para encontrar algo! – ela veio até a sala preocupada.

- Faremos aquele esquema de alugar outro lugar e no futuro comprar nosso apartamento. Amanhã eu compro o jornal e a gente lê nos Classificados. – coloquei as sacolas sobre a mesa e me aproximei beijando seus lábios – Fica tranqüila que vai dar tudo certo.

- E se Júlio ou Arthur arrumarem viagens para fazermos?

- A gente negocia de alternar. Vai uma e a outra fica.

- Se você não se incomodar eu preferia ficar e procurar apartamento. – segurou minha mão.

- Não me incomodo não. Me sinto até mais segura com você aqui do que viajando sozinha. – abracei-a pela cintura.

- Você sempre age como se eu fosse uma menininha indefesa... – envolveu meu pescoço e beijou-me o queixo.

- Mas pra mim você é a minha menininha... - beijei sua boca – linda... - beijo – gostosa... - beijo – e indefesa... – mais beijo.

Nós nos abraçamos carinhosamente e então o telefone tocou.

- Deus do céu, quem será? – fiz cara feia – Não me diga que já é trabalho? – olhei para ela – Peraí amor, vou atender.

Caminhei até o telefone e atendi desconfiada. Regina foi até a mesa e começou a retirar as compras de dentro das sacolas.

- Alô?

Além do TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora