- Meu Deus, e por que isso??? – perguntou chocada.

- É que o trabalho é em uma favela, em um lugar pobre, e infelizmente muitos traficantes vão para estes lugares para mandar nas pessoas e ganhar dinheiro. Daí quando surge briga entre eles, ou quando a polícia cisma de ir atrás deles acontece isso.

- E nesse caso, por que aconteceu? – perguntou ainda apavorada.

- Não sei, vó! Só sei que foi uma loucura. Eu corri e chamei os pedreiros para fugirem também. Levei comigo uma menininha que estava sozinha chorando e nós nos escondemos em uma vala cheia de barro e esgoto. Ficamos imundos!

- Ai Emmy, e eu sem saber desse perigo! – pôs sua mão sobre a minha.

- Mas nada me aconteceu, linda, e nem com nenhum de nós. Alguns arranhões e muito susto, só isso. Depois eu levei a menina até a mãe e ela era filha de um traficante que apareceu muito bem armado atrás de mim.

- Deus! E então?

- Ele me disse umas bobagens e depois agradeceu. Disse que não ia mais ter trabalho por hoje, aí eu dispensei o pessoal e fui para o escritório. Lá eu tomei banho e vi que esqueci a blusa na obra, aí a secretária me emprestou aquela que eu estava usando. O chefe então me dispensou por hoje.
- Blusa da secretária...? – Regina perguntou com uma cara não muito boa.

- É! – olhei para vovó, querendo mudar de assunto – Mas não se impressione, porque isso não acontece sempre e nem em todo lugar.

- Cada país com seu problema. Na Inglaterra tivemos guerras, os conflitos com os irlandeses e hoje rumores de terrorismo. Vocês têm isso. Paciência!

Reparei que Regina me olhava desconfiada, mas não retornou o assunto da blusa de Simone. Porém eu sabia que ela voltaria a falar sobre isso.

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Apesar de seus protestos, vovó Granny deitou na cama, dizendo que só iria descansar os olhos e acabou dormindo como pedra. Regina disse que ainda não havia falado da safadeza de seu pai, mas no momento certo o faria. Eu estava colocando as roupas sujas de molho quando ela perguntou:

- Por que você estava usando uma blusa da Simone?

"Ai, eu sabia!"

- Eu disse. Eu não tinha outra e ela se ofereceu pra me emprestar aquela.

- Mas se você mal conversa com ela, por que se ofereceu?

Respirei fundo e disse a verdade:

- Quando eu e Raimundinho chegamos no escritório, naquele estado deplorável, ela foi a primeira a nos ver e se espantou. Tirei os sapatos, fui pro banheiro e tirei a camiseta lá dentro. Só aí percebi que não tinha trazido a minha blusa comigo. Ao mesmo tempo eu estava chateada e me apoiei na pia pensando. Ela chegou, perguntou do ocorrido, eu falei  ela viu que eu não tinha roupa e ofereceu a dela. Só isso.

- Só isso? Ela viu você sem blusa e você diz só isso? – cruzou os braços e me olhou séria.

- Só. Eu tava de sutiã, Regina. Além do mais somos mulheres. Qual mulher nunca viu uma colega de sutiã? – não olhei para ela.

- Então ela é sua colega agora? – perguntou com deboche.

- E não é? Colega pra mim é quem trabalha no mesmo lugar, e é esse o caso, não é?

– É só isso mesmo, Emma?? – perguntou mais firme.
Fechei os olhos, respirei fundo e disse:

- Tá bom, Regina. Ela veio com um papo de duplo sentido e insinuou que tava a fim e não dei abertura. Aí eu disse que ela ia ficar na vontade e entrei no box. Então ela deixou a blusa e a toalha pra eu usar e saiu.

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