Pedi que a vendedora me contasse tudo que sabia sobre a artista, dona daqueles trabalhos maravilhosos, expostos na loja em que trabalha. Ela me disse que sabia pouco sobre a dona das artes, apenas que era uma velha amiga de sua avó. Mas que se eu quisesse saber mais, poderia voltar mais tarde e conversar com sua avó a respeito.
Saí da loja, um pouco decepcionada, mas pelo menos esperançosa, por ter descoberto uma nova pista.
Parada na calçada com Meili, novamente vi o menino que falou com Xing no restaurante. Ele nos seguia indiscretamente, tomando conta de nossos passos. Tentei me aproximar algumas vezes dele, mas aí ele fugia.
Fizemos uma parada para o almoço. E enquanto Meili descansava no nosso quarto do hotel, planejei dar uma volta pelos jardins e tentar falar com mais alguém.
Ainda apoiada no gradil da sacada de nosso quarto, ouvi um assobio baixo, olhei para baixo e vi o menino fujão. Ele fez sinal para que eu descesse. Confirmei com a cabeça e saí de fininho para não ser percebida por Meili, nem pelo Senhor Su, no quarto ao lado.
Encontrei o menino me esperando no jardim.
"Nī hāo!" "Olá!" Ele disse.
"Nī hāo!" Respondi.
"Xìnxī" "Mensagem" Ele me estendeu um papel dobrado.
Assim que peguei o garoto saiu correndo. Abri o bilhete e li um endereço. Guardei no bolso e voltei para meu quarto.
Na certa, quem mandou o menino me entregar o bilhete, sabia quem eu era e quem estava procurando.
Eu pretendia visitar o endereço, que me foi dado, ao anoitecer, assim seria mais fácil de despistar Meili e o Senhor Su. Era necessário que eu fosse sozinha, pois Meili não podia ouvir minha conversa com quem quer que seja, que tenha marcado o encontro.
O endereço citado era mais afastado do centro do Vilarejo. Era no início da floresta. Me informei com o Senhor Ming, como chegar lá. Era evidente que ele também sabia alguma coisa, mas não se opôs à nada, pelo contrário, me deu todas as dicas de como chegar lá.
Após alguns minutos de caminhada, encontrei a casa.
Bati na porta, escutei sons vindo lá de dentro, e depois a porta se abriu. Uma bela senhora surgiu com olhar confuso. Depois ficando um pouco espantada.
"Wăn shàng hă!" "Boa noite!" Cumprimentei, sem saber se ela falava meu idioma.
A Senhora permaneceu espantada, somente com metade da porta aberta. Mas respondeu:
"Boa noite."
Ah, ela fala meu idioma. Assim fica mais fácil.
"Liang? A Senhora é Liang Wang?"
A Senhora muito desconfiada perguntou:
"Quem quer saber? Quem a mandou?"
Notei que a idosa segurava uma espécie de rifle ou algo parecido.
"Me chamo Jéssica Lin. Sou neta de Lan Wang. Procuro Liang Wang, irmã de minha avó. A Senhora conhece?"
Os olhos da senhora arregalaram mais e agora marejados, ela respondeu:
"Sou eu".
"Posso entrar?"
Ela continuava meio pensativa, me encarando, como se estivesse na dúvida se poderia confiar em mim. Então, se tocou e pediu:
"Minhas desculpas! Claro, entre! Por favor!"
Liberou espaço para que eu passasse.
A casa era toda rústica. Muita madeira e pedras. Em seu interior, mais peças parecidas com as que vi na lojinha no centro.
Liang depositou sua arma em um canto e desculpou-se.
"Uma velha, vivendo sozinha no meio do mato, precisa estar sempre prevenida."
Sorri tensa. Me sentando em uma poltrona, próxima a lareira.
"Certo."
"Aceita algo para beber?"
"Sim, obrigada!"
Me servindo, Liang perguntou:
"Diga-me como me encontrou?"
Então contei-lhe tudo. Toda a minha saga até chegar nela. Notei que Liang, diferente de Lien e minha avó Lan, não era muito emotiva. Era mais durona e desconfiada. Também não era para menos, depois de tudo que já passou.
Então, ela perguntou, com a voz um pouco trêmula:
"E...Lan e Lien? Onde estão?"
Senti que a pergunta abrigava mais significados. Ela queria saber se as irmãs estavam vivas e bem.
"Estão bem. Minha avó Lan, mora na América. E Lien vive na China mesmo. Em um bairro de Pequim."
Ela balançou a cabeça satisfeita, porém um pouco sem graça.
"Vi seus trabalhos na lojinha do centro. Fiquei admirada com a beleza das peças."
Toquei em um assunto fácil para ela. Então, ela começou a falar e mostrar suas peças preferidas. Contou-me como aprendeu o ofício.
Descobri que a loja era propriedade dela e que ela conquistou tudo que tinha sozinha, com muito esforço e trabalho.
Contou-me que seu filho a ajudava nos negócios, mas depois que ele partiu, ela precisou cuidar de tudo sozinha.
Falei também um pouco de mim a Liang e percebi um olhar de admiração em seus olhos.
"As mulheres de nossa família são fortes, menina. Seja qual for o desafio que vier para você, enfrente bravamente. Não recue jamais. Acredite em si mesma. As Wang são guerreiras. Cada uma, enfrenta seus problemas, com as armas que tem, mas com a mesma natureza de coragem e determinação. "
Liang Wang
Lien Wang
Lan Wang
De repente, senti um orgulho enorme de ter o sangue dessas mulheres correndo em minhas veias. Eu conhecia boa parte da história de cada uma. Histórias de superação, coragem e amor.
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