Capítulo 22⛩Lembranças⛩

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Além da manhã, Chen e eu passamos toda a tarde em Song Shan. Essa floresta primitiva dentro do Parque Nacional de Songshan, abriga inúmeras trilhas, cachoeiras, montanhas, pinheiros, pedras com manuscritos, estátuas feitas com toras de árvores e mais acima, no alto da montanha no Morent Song, um mosteiro, onde Chen viveu por um tempo com seu tio. Foi lá que Chen aprendeu a lutar.

"Mas você chegou a conhecer seus pais?"

Eu estava curiosa para saber um pouco da vida de Chen. Ele é sempre tão fechado e enigmático, que momentos assim são raros.

"Sim, conheci. Mas os perdi muito cedo. Então, só tenho vagas lembranças deles."

"Sinto muito."

Segurei a sua mão. Chen acariciou a palma de minha mão distraído. E continuou contando...

"Cresci em um orfanato. Assim que perdi meus pais em um acidente de carro em que somente eu sobrevivi, fui levado para esse abrigo, pois não tinha mais nenhum parente."

"Nossa, deve ter sido uma infância difícil. Um choque ter que se adaptar a uma nova vida assim tão pequeno e sem nenhum parente para apoiar."

Chen estava com o olhar tão distante.

"Mas apesar de tudo, tive sorte em conhecer meu (Dăoshī) tutor. (Xiānshēng Wu) Senhor Wu, cuidou de mim no orfanato e mesmo depois se preocupou comigo e continuou ao meu lado. Me levou com ele para o Mosteiro. Lá aprendi várias coisas, inclusive lutar. Ele é a única família que tenho. Não é meu sangue, mas o considero meu tio de verdade."

"Nossa, que homem digno. Gostaria muito de conhecê-lo."

Chen sorriu.

"Em breve lhe levarei para conhecê-lo. Tenho certeza que irão se dar muito bem. Já falei sobre você com ele. E ele também está curioso.
Agora moramos em um Hutong em uma casa antiga na colina. Preferimos a privacidade e o sossêgo em lugar do movimento do centro."

Ficamos por muito tempo sentados na pedra ao sol em silêncio. Tenho certeza que Chen estava relembrando os momentos difíceis da infância.
Eu o observava com um misto de sentimentos. Em meu coração crescia uma dor, não física, mas na alma. Sentia pesar por tudo que Chen teve que passar. Ternura em vê-lo se abrir para mim como nunca fez com outra pessoa. Gratidão aos céus, por ele ter conhecido um homem bom como o Senhor Wu, que cuidou dele quando mais precisou. E senti algo mais, uma aflição. Medo de perdê-lo, vontade de zelar por ele, de fazê-lo feliz, para compensar tanto sofrimento do passado. Além do desejo, que sempre me incendeia por dentro, toda vez que ele me toca...

Já estava entardecendo, quando Chen parou em frente a casa dos Yang, para me deixar

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Já estava entardecendo, quando Chen parou em frente a casa dos Yang, para me deixar. Desci da moto e entreguei o capacete à ele. Chen continuou montado, me observando.

"Devo estar um pavor. O dia inteiro na mata, descabelada e suada. Você está me olhando, como se estivesse vendo um E.T. "

Chen deu um sorrisinho. Segurou minha mão e me puxou para junto dele. Faltou-me o ar.

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