A partir do momento, que decidi aceitar a ajuda de Vó Lan para fazer a viagem dos meus sonhos à China, um frio se instalou em minha barriga. Ao mesmo tempo que desejo mergulhar no desconhecido, estou temerosa por me afastar da segurança, que sempre tive no convívio familiar. Mas sei que preciso sair da acomodação, me desafiar, ter novas experiências e tomar minhas próprias decisões, isso me ajudará a amadurecer.
Para a minha surpresa, meu pai, aceitou bem a ideia. Concordou que, essa viagem, serviria para enriquecer meu currículo profissional. Ele me inscreveu em um programa de Intercâmbio Internacional. Pelo período de 1 ano, ficarei hospedada na casa de uma tradicional família chinesa, estudarei no Institute of China, onde terei aulas de Mandarim, História da China, Artes, Filosofia e demais disciplinas relacionadas à cultura chinesa.
Minha mãe, foi a que mais relutou com a ideia. Sempre fomos muito ligadas. Saímos juntas para tudo, compras, consultas, passeios e viagens. E esse meu jeito introspectivo, a preocupa. Parte meu coração, ouvir suas conversas com meu pai:
"Não sei como você consegue encarar essa loucura de viagem com tanta tranquilidade, John! Deixar nossa menininha ir para o outro lado do mundo, sozinha!
"Jane, fique calma! Também me preocupo com nossa filha, mas ela já é maior de idade, não uma menininha. E precisa se independer um pouco, com segurança, claro! Poxa, ela é inteligente e tem personalidade forte. Saberá se cuidar sozinha!"
"Mas John, estamos falando da China! É muito longe! A princípio, a ideia de viagem, foi minha. Mas eu me referia a algo como, Disney. Não mandá-la para outro continente sozinha!"
Meu pai argumentou pacientemente:
"Querida, foi nossa própria filha, que escolheu o destino da viagem. Você sabe o quanto ela tem vontade de conhecer a terra de meus pais. Além do mais, ela não está indo morar lá. Ficará alguns meses, se gostar, pode ficar por um ano. E pode voltar ou nos visitar, quando quiser. Não ficará largada à própria sorte. Irá morar com uma família, que lhe dará todo o suporte e proteção, que precisar. Eu conheço o dono da casa. É um empresário bem sucedido em Pequim, com uma índole impecável, que também possui uma filha da mesma idade que a nossa."
"Eu sei, mas ainda assim fico temerosa! Nunca me separei, por tanto tempo dela!
Meu pai não disse mais nada. Só abraçou minha mãe e deu -lhe um beijo na cabeça. Ele entendia que era mais difícil pra ela.
Ouvi toda a conversa, do alto da escada. Eles não podiam me ver da sala. Voltei para o meu quarto em silêncio. Minha consciência pesava. Mas agora, não voltaria mais atrás. Preciso fazer isso por mim. É uma grande oportunidade. Talvez única. E algo dentro de mim, me diz, que essa viagem, causará uma grande mudança em minha vida.
Mais tranquila e decidida, terminei de arrumar minha mala. Estou levando peças básicas, que fazem meu estilo. Tênis, Jeans, camisetas, casaco e bota. Acrescentei um vestido floral e sandálias, caso precise participar de algum evento.
Prendo meu cabelo com elástico, fazendo um rabo de cavalo, coloco minha jaqueta, pego minha bolsa, penduro no ombro, respiro fundo, me despeço de meu quarto e desço a escada, carregando minha bagagem de rodinhas.
No aeroporto, todos foram se despedir. Minha família e meus amigos. Este é o momento mais difícil para mim. Me despedir das pessoas que amo, sabendo que nos veremos bem menos a partir de agora.
Minha mãe começou a chorar, abraçada em mim, lamentando por não ter conseguido tirar uma licença especial para me acompanhar, pelo menos no primeiro mês de adaptação.
Meu pai a repreendeu, dizendo que essa atitude só me deixaria mais insegura.
Me despedi de meu irmão, que me fez prometer, comprar vários games e outras bugingangas. Abracei-o e pedi que se cuidasse e tivesse mais paciência com nossa mãe.
Minhas amigas Kat e Amber também choraram, mas estavam felizes por mim.
Marcos me beijou na testa, desejou boa sorte e disse que sempre estará aqui, quando eu precisar.
Abracei meus pais e, por último, me despedi de Vó Lan. Ela me entregou um papel dobrado na mão:
"Não tenha medo pequena. Tenho certeza que essa viagem mudará sua vida. Vá em busca de seu futuro. Se precisar, nesse papel estão anotados nomes e endereços de possíveis parentes nossos. Se tiver interesse de procurá-los, me fará muito feliz em receber noticias de algum deles.
Aquela história que lhe contei, não acredito que minha irmã tenha morrido. Tente descobrir alguma coisa, por favor!"
"Pode deixar, vó Lan. Farei o possível para encontrar, alguma pista de suas irmãs e vou mandando notícia."
Vó Lan, com os olhos marejados, apertou minhas mãos e agradeceu.
"Obrigada minha querida! E não se esqueça! (O passado é história, o futuro um mistério e o presente uma dádiva). Aproveite ao máximo!
Já acomodada no avião, tiro meus fones de ouvidos de dentro de minha bagagem de mão, conecto ao meu celular e ligo o play, para ouvir uma das músicas de minha playlist (Something just like this). E ao som de Coldplay adormeço durante a viagem...