𝑨́𝒖𝒓𝒆𝒐𝒔 - 𝑺𝒆𝒈𝒖𝒏𝒅�...

By GlecioRamos

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Os Sete Imperadores de Híon estão fora de controle. Com a ausência de Kraj, os Espectros disputam o trono de... More

LIVRO DOIS
Book Trailer
PRÓLOGO
{1} DESPERTAR EM UM NOVO MUNDO
{2} SHINÊ, A TERRA DA TECNOLOGIA
{3} ORIGENS
{4} A PRIMEIRA CAMADA
{5} CONHECENDO AS REDONDEZAS
{6} DE VOLTA AO HOSPITAL
{7} A SEGUNDA CAMADA
{9} A ARENA
{10} RENASCER
{11} A TERCEIRA CAMADA
{12} AFINIDADE
{13} VAMPÍRICA
{14} AS RUAS DE ALVA
{15} REI CONDENADO
{16} CHAMAS BRANCAS E TECNOLOGIA ACETA
{17} AS LINHAS DO DESTINO
{18} VIDA COMUM
{19} BEIJO SOB AS ÁGUAS
{20} AS LÁGRIMAS DA SEREIA
{21} RASTREADA
{22} OCEANO NEGRO
{23} QUIAT
{24} AMIZADE FORJADA COM SOCOS
{25} O MAPA DO VÉU
{26} OS TRÊS PRATOS DA BALANÇA
{27} AINDA GUARDIÕES
{28} CONFISSÕES
{29} ESPIÕES
{30} AS PEÇAS DO TABULEIRO
{31} INVASÃO
{32} O PASSO A PASSO DE UM PLANO
{33} UMA FAÍSCA PRESTES A SE APAGAR
{34} SENTIMENTOS DESCOBERTOS
{35} SOPRO DE LÂMINA
{36} QUEDA LIVRE
{37} O RASGO NO VÉU
{38} COMPLICAÇÕES
{39} ONDE A TECNOLOGIA NÃO ALCANÇA
{40} INTERSEÇÃO
{41} O ESPÍRITO DO ÓDIO
{42} UMA ÚLTIMA PROMESSA
{43} O PODER QUE BROTA DO CHÃO
{44} A NOITE ANTES DA BATALHA
{45} O VÉU COMEÇA A RUIR
{46} A SEGUNDA GUERRA COMEÇA
{47} IMPERATRIZ
{48} OS TRÊS FILHOS DO VÉU
{49} OS LIMITES DA VAMPÍRICA
{50} APAGA-SE UMA LUZ BRANCA
{51} UMA ÚLTIMA FLECHA
{52} ANJO NEGRO
{53} A MORTE DA ASSASSINA
{54} O CÉU SE MOVE SOBRE UM SACRIFÍCIO
{55} UM NOVO CÉU SOBRE O ANTIGO LAR
{56} O ÚLTIMO ADEUS?
EPÍLOGO
AGRADECIMENTO

{8} O CONSELHO

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By GlecioRamos

Dimensão Shinê

   — Eu vou ter que dizer alguma coisa? – indagou Barton, nervoso. – E se eles quiserem que eu use minha aura?

    — Relaxe, vai ficar tudo bem. – Sauly o acalmou com a mão em seu ombro. – Só fale se eles perguntarem algo. E ninguém vai pedir para você usar seu poder lá dentro. E nem pense em fazer isso, é proibido! – Ela deixou claro, com o dedo indicador erguido.

    Estavam os dois caminhando pelos sinuosos corredores do prédio Cúpula, a cede do governo máximo de Shinê, onde se encontrava o Conselho das Auras, composto pelos mais influentes representantes dos portadores de aura e humanos. Toda vez que Barton se lembrava dessas palavras, ditas pela Arcana, seu nervosismo aumentava.

    Aquela audiência serviria para apresentá-lo oficialmente aos governantes dos países de Shinê e também seria o início da discussão sobre o envio das tropas para lutar em Híon. A Arcana havia deixado evidente a importância de causar uma boa impressão no membros do conselho. Passe confiança, ela dissera, eles precisam entender que você é a última esperança daquele povo. Barton tinha apenas balançado a cabeça, tentando concordar.

    Foi um pouco difícil para ele entender que Sauly, apesar de ser uma Arcana, não tomava todas as decisões ali. O conselho, na verdade, tinha até mais força de decisão que ela própria. Segundo ela, aquele modo de governo era o melhor para todos, sem a centralização. Porém, Barton tinha percebido algo a mais em seu tom de voz, um certo afastamento deliberado de seu lugar como Arcana.

    — ...E mantenha sua postura ereta. Está me ouvindo, Barton? – Sauly o chamou.

    Ele passou o dedo pela gola apertada de seu uniforme branco, preparado especialmente para aquela ocasião.

    — Sim. Entendi – disse, erguendo o queixo.

    Apesar de toda aquela pompa e dos protocolos de comportamento dos quais não se lembrava nem da metade, se sentia no corredor de uma prisão, sendo guiado para sua sela fria, onde ficaria largado para o resto da vida. E os soldados Áureos que os acompanhavam de todos os lados não ajudavam em nada para amenizar aquela sensação horrível.

    Queria que Lia estivesse aqui. Ela saberia lidar com isso tudo bem melhor do que eu, lamentou. Mas ela não estava. Lia tinha que ficar quieta para que pudesse se curar e era ele quem tinha que tomar as rédeas da situação agora. Estufou o peito e alargou os passos para chegar logo e acabar com isso. Passe confiança.

    De frente para um par de portas altas de madeira, com detalhes em ouro seu coração acelerou apesar da determinação. Quando os soldados a abriram, ele respirou fundo e acompanhou Sauly salão a dentro.

    Era enorme! Barton não resistiu ao ímpeto de erguer a cabeça e olhar para o teto abobadado e transparente, que o permitia ver o céu azul acima dele. Um lustre de tamanho exagerado flutuava sem muito uso durante o dia além de servir como ornamento. O salão parecia um estádio, em formato circular com as paredes apoiadas em pilares de madeira rústica, como troncos de sequoias antigas, um detalhe que contrastava com a modernidade tecnológica do lado de fora.

    Barton deu-se conta de que estava parecendo uma criança deslumbrada, com a cabeça erguida e o queixo caído com tudo o que via. Recuperou a concentração e a pose de antes, para fitar as pessoas à sua frente. Tinha bem mais gente do que esperava. Pensava que encontraria apenas os cinco membros do conselho, mas estava diante de dezenas de pessoas de aspecto sério. Entretanto, ele podia facilmente distinguir os conselheiros: eram os que se destacavam nos assentos dos patamares mais elevados da "arquibancada".

    O murmurinho que se espalhava e ecoava pelo grande espaço, sessou assim que Barton chegou no centro do salão e tomou seu lugar em um púlpito circular. Sauly o deixou ali e seguiu para sua luxuosa cadeira à frente de todos os conselheiros. Barton sentiu-se sufocado com todos aqueles olhares estranhos sobre ele. A gola do uniforme voltou a incomodá-lo, mas dessa vez ele resistiu a vontade de enfiar o dedo para afrouxá-la. Respirou fundo novamente e suas narinas se encheram com um perfume suave e doce, natural. Vinha dos pilares de árvores? Ele distraiu-se por um instante e esqueceu do que Sauly o dissera para fazer assim que estivesse a postos.

    Todos o aguardavam falar. Ele sacudiu a cabeça, pigarreou e tomou fôlego, como se fosse fazer um grande discurso, quando na verdade precisaria falar apenas:

    — Meu nome é Bartolomeu Aton e eu me coloco a disposição do Conselho Áureo de Shinê com a promessa solene de falar apenas a verdade entre essas paredes, na morada da justiça.

    Um dos conselheiros, um homem vestido de um escarlate escuro, Zaiman Utuls, o representante Niffj, como Sauly explicara, parecia estudar sua expressão corporal. O olhar duro perfurou-o de cima abaixo; sua expressão desdenhosa era tão obvia que Barton quase pode ler seus pensamentos: É ele o tal yomei?

    — Então – Zaiman finalmente se pronunciou – você é o hioniano que passou pela fenda. – Coçou o cavanhaque e estreitou os olhos. – Eu esperava alguém mais... ameaçador.

    Ameaçador? Barton quis retrucar, mas preferiu fazer como Sauly o instruíra, só ia falar para responder perguntas. O conselheiro esperou que ele dissesse algo, como o jovem ficou calado mediante sua provocação, continuou:

    — Onde está a garota Niffj, a yvriniana que veio com você?

    — Ela não pôde comparecer, está hospitalizada e necessita de descanso. – Barton manteve-se firme.

    — Chegou ao nosso conhecimento que ela esteve em ciclo infinito. É verdade? – Quem falava era Helen Sant, a conselheira Nahin. Trajava o verde-oliva de sua casta e sua voz transmitia calma.

    — Sim – Barton respondeu. – Ela esteve em uma luta difícil contra Kraj e teve que chegar ao limite de seu poder.

    — E como sobreviveu? – Helen queria saber mais.

    — A aura de Kraj tem a habilidade peculiar de se alimentar de outras energias. – Ele relutou em continuar a falar, não sabia bem como aquilo funcionava. Nesse instante Barton se deu conta de que conhecia muito pouco de seu inimigo. Como pretendia vencê-lo? – Ele absorveu parte do poder de Liana e impediu o avanço do Vermelho Sangue.

    O burburinho recomeçou, nas mesas em volta. Os políticos, que Barton não soube dizer se eram Áureos ou humanos, aparentemente, duvidavam que ele falava a verdade. Até que a Arcana ergueu a mão e todos se calaram, ela assistia a tudo impassível.

    Quem retomou a discussão foi Edmund Altmor, um senhor calvo, que representava os Soma no conselho.

    — A Sra. Arcana nos deixou a par desse tal Kraj, um yomei metade Elenus que destronou Dim de seu posto como protetor de sua dimensão e agora comanda toda Híon com um séquito de guerreiros sob suas ordens. – Ele parou e olhou em volta para seus colegas conselheiros. – Mas, pelo o que você acabou de dizer, ele salvou a vida da Niffj que tentava matá-lo. Pode responder por quê?

    A voz de Kraj dizendo que amava Lia ecoou na mente de Barton, porém, aquilo não fazia o menor sentido. Kraj era um tirano impiedoso e um assassino cruel. Chegava a ser estranho pensar que ele poderia amar alguém.

    — Não, conselheiro. Não sei seus motivos – limitou-se a dizer.

    — Isso não vem ao caso – disse Zaiman com sua voz de trovão. – Há quase dezoito anos temos ignorado o fato de uma dimensão inteira estar sob o domínio de um déspota e não fizemos nada a pedido da Arcana. É hora de agir!

    Dezoito anos? Barton repetiu para si mesmo. Sauly dissera que o vigiava desde que tinha nascido, mas ela nunca explicara o motivo de ter esperado tanto tempo para fazer algo para ajudar Híon e agora... Ele encarou o olhar discreto da Arcana, sentada em seu trono como a entidade misteriosa que era. Perguntou-se até onde ia o poder da aura branca; até onde ia o seu poder? Era isso que Sauly esperou todos esses anos? Por ele?

    — Não vamos nos precipitar em nossas decisões, meus amigos. – A voz grave de Heitor Colt, conselheiro humano, o trouxe de volta à realidade. – Estamos falando em enviar nossas tropas além do Véu para lutar um guerra que não é nossa!

    Zaiman fechou a cara, sua natureza Niffj pedia por ação e somando isso ao fato de que não simpatizava nem um pouco com  Heitor, se viu obrigado a contra-argumentar:

    — O quê? Como pode dizer uma coisa dessas? Só por que estão em um mundo distante não significa que devemos ignorar a situação por ser mais cômodo para nós.

    — Meu dever... O dever desse conselho é zelar pelo bem estar do nosso povo. – Heitor aumentou o tom de voz. – Não vejo como enviar nossos soldados para morrer em uma guerra perdida pode cumprir esse propósito. Além do mais...

    — Tem pessoas sofrendo lá! – Barton quebrou o protocolo e interrompeu a fala do conselheiro. – Humanos comuns, que não tem como se defender. Sofrendo dia após dia nas mãos dos Sete Imperadores. Kraj não é muito presente em nossas terras, mas eu posso garantir que seus lacaios cumprem muito bem o papel de tirano que cabe a ele.

    O queixo de Heitor ficou caído, congelado no meio da frase cortada pelo rapaz. Como se atrevia a interrompê-lo daquela maneira? Porém ele usara um argumento forte: os humanos. Como conselheiro responsável por cuidar do bem estar e dos interesses daqueles que não eram portadores de auras, como diria algo que contradissesse o rapaz? Qualquer coisa que falasse soaria como desinteresse de sua parte com o povo humano, dessa ou de outra dimensão. Decidiu manter-se neutro e apenas relembrou:

    — Fale apenas quando a palavra lhe for cedida, meu jovem.

    Um sorriso de triunfo surgiu no canto da boca de Zaiman.

    — Sra. Arcana, a palavra é sua – Helen ergueu a mão para indicar Sauly. – O que tem a dizer sobre toda essa situação?

    Ela levantou-se e caminhou até o púlpito de Barton. Ele perguntou-se se aquele ato quebrava algum protocolo, não sabia ao certo, mas quem se importava? Era a Arcana, ninguém a repreenderia como Heitor fez com ele.

    — Entendo a preocupação do conselho com uma decisão que talvez fuja de nossa alçada, e estão certos quanto a isso. – Sua postura firme fez Barton parecer pequeno ao lado daquela mulher de beleza elegante. – No entanto, meu dever como guardiã do Véu não diminuiu com o passar do séculos. Ergui a proteção que mantém Shinê isolada do resto do cosmo por causa da ganância dos meus irmãos, todos aqui sabem disso. Mas e quanto àquela gente em Híon, quem os protegerá da ganância por poder de outros? Dim não pode mais defendê-los, ele falhou há muito tempo nisso. E Nayrú não é alguém em que podemos confiar, ele, sim, virou as costas para seu povo.

    — Era nessa questão que eu queira chegar, Sra. Arcana – disse Edmund, pedindo a palavra. – Onde está Nayrú? Sei que é uma pergunta difícil de responder visto que é complicado enxergar além do Véu, mas esse Kraj nasceu em Yvrim e depois viajou por uma fenda até Híon. A responsabilidade de deter esse yomei é dele como defensor do Véu que é.

    Sauly caminhou em volta do círculo, deixando seu longo vestido branco esvoaçar enquanto andava. Parou de frente para o patamar onde o Soma se sentava.

    — Você está certo quanto ao o fato de meu irmão ter responsabilidade maior em ter permitido que as coisas chegassem ao ponto em que estão. Embora ele seja filho do Véu e tenha jurado proteger o equilíbrio do cosmo, Nayrú tomou decisões perigosas, assim como Dim. Ele pensa de modo completamente diferente de mim.

    — Sim, Sra. Arcana – Helen concordou com pesar. – Sabemos das medidas que ele tomou para impedir o nascimento de novos yomeis. Eu sugiro mantermos o Arcano de Yvrim fora disso. Se durante todos esses anos ele não moveu um dedo se quer para ajudar os soldados que enviou para lutar sua guerra, não podemos esperar que a ajuda venha agora.

    — Mas o que faz você acreditar que é capaz de vencer o tal Kraj? – Apesar de, aparentemente, Zaiman estar decidido a ajudar, ele queria saber o que Barton tinha de tão especial para estar sob a proteção de Sauly. – Pode me dizer?

    Sauly o olhou sem dizer nada, inclinou a cabeça esperando ouvir uma resposta, só então Barton percebeu que a pergunta fora dirigida a ele.

    — Ahn... É que... – gaguejou, não sabia o que dizer então disse a verdade: – Eu não sei.

    Ele viu sorrisos se formarem nos rostos da maioria dos conselheiros, até mesmo no homem vestido de preto, de braços cruzados à esquerda de Helen. Era Kyne Illar, o representante Elenus. Parecia o mais jovem entre todos, embora seu olhar demonstrasse tanta sabedoria quanto o resto.

    — É isso, Arcana? – Heitor ficou de pé para apontar para Barton. – Esse rapaz pode ser um yomei e pode até carregar a aura branca, mas não tem qualquer preparo para ser colocado em um campo de batalha. Como espera que enviemos tropas para lutar ao lado de alguém tão inexperiente?

    Droga, estraguei tudo!, Barton repreendeu-se. Sua preocupação era válida, se a decisão do conselho não fosse unânime, nem mesmo Sauly teria autoridade para permitir o envio do exército até Híon.

    — Ele será treinado durante os próximos meses – Sauly falou, confiante. – Barton é um yomei peculiar, assim como Kraj. E assim como ele, é capaz de grandes feitos. Nenhum exército que enviarmos poderá vencer Kraj, nem mesmo eu. Usarei muito do meu poder para abrir a fenda. O que deixa apenas esse jovem como alternativa de vitória para essa guerra.

    Os conselheiros se entreolharam depois fixaram o olhar em Barton, buscando a resposta para a pergunta que Zaiman fizera: o que ele tinha de tão especial? Edmund tomou a palavra:

    — Com todo respeito, Sra. Arcana. Entendemos a confiança que deposita nesse jovem, mas como espera que acreditemos que em alguns meses de treinamento esse rapaz possa se igualar a um yomei poderoso com mais de um século de experiência com sua aura, e que foi capaz de vencer até mesmo um Arcano? É impossível.

    Até mesmo Barton perdeu parte da confiança que tinha ao ouvir aquilo. Queria vencer Kraj, mas Edmund tinha razão, ele não tinha qualquer chance, mesmo que treinasse em Shinê pelos próximos dez anos – o que, definitivamente, não era uma opção.

    A postura confiante de Sauly não mudou quando respondeu a pergunta do Soma:

    — É simples: daremos a ele o aço de Ghara.

    As conversas cochichadas voltaram, alguns cobriram a boca com espanto, olhos arregalados e sobrancelhas franzidas tomaram lugar nas expressões dos presentes. Zaiman se recostou em seu lugar, com um sorriso indecifrável no rosto, enquanto Heitor se remexia, desconfortável.

    — Um amplificador, Arcana? – Helen perguntou, como se quisesse uma confirmação de que havia ouvido corretamente. – Quer entregar o mais poderoso amplificador conhecido nas mãos de um meio-áureo inexperiente no controle de seu poder?

    — Ele ficará melhor com o treinamento – foi tudo o que ela disse. Olhou para Baton, que estava tão surpreso quanto todos ali, e deu uma piscadela.

    — Não precisamos relembrá-la que o uso de amplificadores é estritamente proibido, não é, Sra. Arcana? – Edmund disse.

    — Não. Não precisam. Eu criei essa lei e estou ciente dos riscos, porém, a situação requer decisões arriscadas.

    — E como pretende encontrá-lo? – Heitor indagou. – Aço de Ghara praticamente não existe mais.

    — Eu encontrarei. Coloquem em votação. – Foi a primeira vez que Barton viu Sauly dar um ordem ali dentro.

    Sem perder mais tempo, os conselheiros ponderaram durante alguns minutos, conversando entre si. Exceto o Elenus, que se mantivera calado durante toda a discussão, ainda estava com os braços cruzados sobre o peito. Os outros não pareciam muito incomodados com isso. Estavam acostumados com o silêncio de Kyne.

    Terminadas as deliberações, os conselheiros se viraram para Barton e Sauly. Helen foi a primeira a dizer seu voto:

    — Arcana, devo dizer que ter um exército poderoso e bem treinado, como o nosso, e simplesmente fechar os olhos para a situação grave de Híon, seria um grande irresponsabilidade de nossa parte. Como portadores do sopro do Véu, é dever nosso proteger os mais fracos, mesmo que estejam além dos limites de nossa dimensão. – Ergueu a mão direita ao lado do rosto, como se fizesse uma promessa e anunciou: – A liderança Nahin vota a favor.

    Barton comemorou silenciosamente a pequena vitória, mas ainda haviam mais quatro votos. Bastaria um contra para que tudo fosse por água abaixo.

    Era a vez de Edmund:

    — Concordo com a conselheira Helen, nossos deveres não se limitam ao nosso mundo. Se a Sra. Arcana acredita na vitória, eu também acredito. – Ele imitou o gesto da Nahin. – A liderança Soma vota a favor.

    — Não será por minha decisão que um tirano manterá uma dimensão inteira presa em correntes. – Zaiman se pronunciou. – A liderança Niffj vota a favor.

    Barton sorriu, mas logo voltou a ficar sério quando viu quem era o próximo: Heitor. Demonstrara o tempo todo uma inclinação a negar ajuda a Híon. Ele havia mudado de ideia nos últimos minutos? O coração do jovem bateu mais forte quando ele começou a falar:

    — Então estamos todos caminhando para a guerra? É certo que o tal Kraj é um inimigo poderoso e nos causará muitos problemas. – Barton não acreditava, ele ia votar contra. – Entretanto, não posso negligenciar socorro ao povo que não carrega uma aura e que não tem mais a quem recorrer. Eu me alegro em saber que nossa amada Arcana ainda se importa, quando ninguém mais o faz. A liderança humana vota a favor.

    Barton se permitiu respirar aliviado, por um momento achou que Heitor fosse tão mesquinho a ponto de dizer não e abandonar os humanos de Shinê à própria sorte. Ainda havia um voto a ser dado. Era o momento do calado conselheiro que representava os portadores da aura negra dar sua opinião.

    Foi então que passou pela cabeça de Barton o fato de que ele estava ali pedindo um exército para lutar e matar milhares de Espectros. Kyne era um Espectro, mesmo que chamado em Shinê de Elenus. Ele tinha o poder para negar o envio das tropas e salvar as vidas de seus semelhantes. O nervosismo voltou a tomar conta de Barton, que começou a tamborilar com os dedos na madeira do púlpito.

    Kyne descruzou os braços para falar, inclinou-se para frente e apoiou-se em sua mesa.

    — Ouvi dizer que você tem uma espada capaz de matar qualquer portador de aura negra, é verdade? – Sua voz era firme, ele sequer piscava enquanto encarava seu interlocutor.

    — Eh... É sim – Barton respondeu, decidido a não colocar tudo a perder dessa vez. – Se chama Assassina das Sombras. Foi forjada por um Nahin do ar em Híon, especialmente para matar Kraj.

    — Você lutou com ele com essa espada?

    — Sim.

    — Mas ele continua vivo...

    Era uma afirmação? Uma pergunta? Barton não soube identificar pelo modo como ele falou, então resolveu ficar calado.

    — Adoraria conhecer esse tal de Kraj, parece ser um cara interessante – ele continuou. – É um pena que ele tenha escolhido um caminho tão perigoso. Devo dizer que essa arma que você possui é uma ofensa para meu povo. Vejam só, uma lâmina especificamente criada para destruir a aura negra, isso não me agrada. Sei muito bem que os yvrinianos tratam os Elenus de forma bem diferente, e, embora não concorde, eu entendo os motivos desse Nahin ter fabricado essa coisa. – Kyne fez uma pausa dramática. – Vou te dar um aviso, rapaz. Não quero ver você andando por aí com essa Assassina das Sobras. Nunca. Não vai precisar dela aqui. Ouviu bem?

    — Sim – Barton respondeu de imediato, entendia muito bem os motivos dele.

    — Então estamos entendidos. Vamos mostrar aquele yomei o que Shinê pode fazer. – A mão larga do Elenus ergueu-se devagar. – A liderança Elenus votar a favor.

    Barton quis agradecer, mas um orador ergueu sua voz estrondosa que tomou todo o salão para anunciar oficialmente a decisão do conselho. Enquanto ele discursava de forma pomposamente exagerada, Sauly aproximou-se do rapaz.

    — Deu tudo certo, viu só?

    Ele respirou aliviado, percebendo que seus ombros doíam de tensão.

    — E agora, qual o próximo passo?

    Ela o fitou séria e disse:

    — Agora temos que tornar você um combatente digno de usar um amplificador.

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