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Kaito...

Respiro fundo e solto o ar da maneira mais silenciosa que consigo.
- Assustado? - tento ao máximo fazer minha voz não sair sem nenhum tipo de ondulação.
  
A risada familiar volta aos meus ouvidos.
- M... - antes que a fala pudesse ser completada, jogo mais uma faca diretamente para o ponto mais forte que a voz contaminava - Tentando me acertar? Por que não desiste logo? - diferentemente de antes, a voz sai rude, em outras circunstâncias faria meu corpo tremer.
 
Jogo a faca que estava na minha mão esquerda para dentro da manga enquanto me levanto. Sorrio.
- O que acha de sair das sombras e me encarar frente à frente? - faço um sinal para os agentes abaixarem as armas. Alguns parecem receosos, mas basta um olhar para que entendam que não possuem opção de contrariar minhas palavras. Volto a olhar para minha frente - Só eu e você... parece divertido?
 
Em resposta apenas encontro o silêncio.
- Sabe... - coloco a mão na cintura ainda sorrindo, as palavras do Killua voltam a minha mente... a impulsividade do Kalluto é sua fraqueza ao mesmo tempo que é seu ponto forte. Uma característica que notei, em todos os lunáticos impulsivos que estiveram em meu caminho ao longo dos anos, é a instabilidade emocional e mental, o ato de tentarem se provar cada vez mais, provar sua superioridade, sua habilidade - Me parece que você está com medo de me enfrentar - abro os braços- Está com medo de ... - antes que termine de falar vejo uma silhueta sair das sombras em minha direção.
  
A cada passo seu rosto fica mais nítido, o sorriso doentio estampado, enquanto corria em minha direção, sua mão puxa uma grande lâmina antes presa em sua roupa, a fria estrutura brilha aos meus olhos.
- Medo? - sua voz alta é substituída por uma risada. Ele está cada vez mais próximo. A lâmina se aproxima de meu corpo, seus braços se movimentam bruscamente, em um corte rápido pelo ar, o objeto é direcionado para meu pescoço.
 
Instintivamente meu corpo se move para a esquerda, desviando do ataque. Antes que tenha tempo de me recuperar, o pequeno e ágil corpo dá um giro pelo ar, a lâmina cantando ao meu redor. Como ele está muito perto, sei que não conseguirei desviar. Em um movimento rápido abaixo o braço, a faça escorrega para as minhas mãos, mesmo que não esteja bem posicionada em meus dedos, bloqueio o ataque.
 
Meus cabelos voam com o contato.
- Você está me dando uma chance - antes dele se afastar passo minha perna rapidamente para frente, chutando sua articulação. Seu corpo inevitavelmente vai ao chão, na fração de segundo que se segue, sua lâmina já está nas minhas mãos... posso ver que é uma katana, recentemente afiada. 
 
Levanto o olhar, mas quando dou por mim, vejo que um dos agentes já havia atirado o tranquilizante no Kalluto. Abaixo lentamente até ficar perto do rosto, a expressão deixando claro a insatisfação e raiva, os olhos pesando porém se recusando a fechar.
- Um segredo Kalluto. Quando você está enfrentando alguém mais forte e mais experiente, pequenos truques e ataques abertos não vão funcionar. Se minha intenção fosse te matar... no momento que você me atacou, uma faca seria cravada em seu peito.
- Quem é você para me dizer alguma coisa?
 
Levanto.
- A pessoa que saiu ilesa de você.
 
Viro as costas e olho para meu esquadrão que parecia comemorar, enquanto dois cercavam o Kalluto para prendê-lo e levar o mesmo para um lugar seguro até que possamos sair daqui.
- O que estão sorrindo? - seus lábios vão se descurvando aos poucos- Não comemoram porque sobreviveram a uma criança, o pior está por vir. Não relaxem... Vamos - corro até o túnel e escuto os passos atrás de mim...

Bisky...

Droga... droga... a situação está saindo do controle. Vejo os três corpos caídos em poças de sangue, manchando o chão com suas vidas. Vejo o Zeno segurar o pescoço de outro agente, troco de munição do meu calibre, quando os projéteis das demais armas cortam o ar em sua direção.
- Vou salvá-lo - um agente grita em meio ao som de tiros e dá um passo. Rapidamente agarro a gola se sua farda e puxo.
- Se quiser bancar o herói- olho para frente e vejo o braço do Zeno levemente a vista, aponto a arma e puxo o gatilho, encaro atenta a bala se alojar em seu braço, seu corpo cambaleia levemente  para trás, derrubando o já sem vida agente no chão. Volto minha atenção para o que havia gritado, enquanto os demais aproveitam a momentânea instabilidade do Zoldyck para o deixarem sem saída. - Olha para mim - seguro o rosto do agente- Eu sei que era nosso colega de equipe, mas se quiser bancar o herói você vai morrer junto com ele. Perdas são inevitáveis, algumas podem ser evitadas. Não seja imprudente.
- Me desculpe.
- Não é hora para isso - faço um sinal e avanço com o mesmo seguindo meus passos.
 
Todos estão em volta do Zeno que segura seu braço por um momento, antes de dar um passo, mas parando em seguida, todas as armas estão apontadas para seus pontos vitais.
- Como vai ser? - falo, fazendo com que o mesmo me encare - Vai se entregar... ou terei que buscar você... patriarca Zoldyck?
 
Ele abaixa o olhar. Sem falar nada, noto sua mão baixando quase que imperceptivelmente para o interior de sua roupa. Ele vai tirar alguma coisa... Sem pensar muito atiro em sua mão, que é jogada para o lado oposto com o disparo que pegou de raspão.
- Não tente me enganar Zeno - dou um passo para frente- Você não vai passar por mim.
- Claro... - rapidamente seu corpo avança em minha direção, em uma velocidade além do normal, desvia de todas as balas, não tenho tempo de reagir, só sinto o objeto de cravando em meu ombro... profundamente.
  
Mordo meu lábio inferior, ele está perto de mim. Aproveito a chance e tiro a pistola com o tranquilizante com a mão livre e atiro em seu pescoço.
 
Sorrio quando suas pernas perdem a força e  a passos tortos se afastam. Meu olhar cai para meu ombro, a faca com várias pontas cravada até a metade em meu corpo, o uniforme sendo manchado pelo meu sangue. Mas por sorte, a fratura não é grande.
- Sabia - levo minha mão até o cabo e fecho os olhos quando puxo o objeto.  Talvez pela adrenalina do momento. sou incapaz de sentir a dor. Jogo a faca nos pés do corpo quase inconsciente na minha frente. - Eu também sei suportar dor.

A Luz da Minha Escuridão *Killugon* Where stories live. Discover now