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Gon Freecss...

Fui despertado pelos raios da manhã, levemente percorrendo o quarto do hospital até chegar em meus olhos. Chamei a enfermeira que fez a avaliação básica, antes de me levantar e ir fazer minha higienes pessoais. A Mito dormia encolhida no sofá encostado na parede, estava tão serena que não ousei acordá-la, assim como o Killua que dormia pacificamente. A enfermeira me disse que possivelmente  terei alta entre hoje a noite e amanhã de manhã, o que é maravilhoso, mas ao mesmo tempo inquietante. Confesso que deixar o Killua neste quarto sozinho não é uma ideia muito atrativa, mas de qualquer forma, o mundo lá fora continua correndo.
  
O Kurapika vai para a escola todos os dias, a cafeteria está sendo aberta normalmente nos últimos dois dias, porém fica algumas horas a menos com as portas abertas, e o loiro pacientemente explicou aos meus professores que sofri um acidente, por isso não estou indo, com a ajuda de um laudo médico, ainda ficarei em casa por mais uma semana, porém recebendo atividades de compensação, só de pensar minha cabeça começa a doer, já deve ter muitas acumuladas.
  
Já a situação do Killua é um pouco mais delicada, apesar de ele poder tomar alta na próxima semana, as fraturas em suas costelas podem demorar até dois meses para se recuperarem por completo, então nesse período ele ainda não poderá frequentar a escola, mas a Mito irá cuidar de tudo para que quando ele esteja 100% possa frequentar as aulas.
 
Respiro fundo e sinto meu peito queimar, minha mente ainda revive intensamente a ideia de que vamos morar juntos a partir de agora, ou seja, irei vê-lo todos os dias, seu rosto esculpido, com os longos cílios caidos fazendo uma sombra tão tímidas em suas bochechas, os lábios adornados de uma aura delirante que me faz querer beijá-lo, até que meu corpo ceda pela falta de ar... será a última coisa que verei antes de dormir e a primeira ao despertar... todos os dias. Na mesma intensidade que isso é muito bom é enlouquecedor...
 
Enquanto estou divagando em meus pensamentos e a Mito está tomando café da manhã lá embaixo, observo a figura deitada na cama, tão lindo... abro um sorriso. Vejo seus cílios se mexerem e instantes depois uma tempestade azul me atinge, quando o canto de seus lábios se curvam em um sorriso, sinto meu coração amolecer e queimar ao mesmo tempo que o mundo parece desmoronar.
- Bom dia - digo em um sorriso.
- Bom dia.
  
Levanto da minha cama e me curvo dando um beijo em sua testa, minhas mãos brincam com os fios de seus cabelos desgrenhados.
- Como está se sentindo hoje?
- Eu acordei com a bela paisagem de você me olhando, tem como ser melhor que isso?
  
Rio.
- Bobo- afago seus cabelos- Vai tomar um banho, vou te esperar aqui.
- Certo. Vou chamar a enfermeira.
- Não gosto dessa ideia.
 
Antes de apertar o botão ele me encara.
- Que idéia?
 
Desvio o olhar corado. Que idiota. Eu realmente me sinto mesmo que seja levemente incomodado, com a idéia de alguém o banhando?
- Nada.
 
Ele ri.
- Só para você saber ninguém vai me dar banho não- ele ri - só preciso de ajuda para chegar até lá, consigo levantar com a fratura na costela, mas não deixa de ser doloroso, então só me ajudam a me posicionar melhor no chuveiro.
   
Sinto meu rosto corar mais... como ele consegue saber exatamente o que estou pensando?
- Gon- olho para ele - Só uma pessoa tem carta branca para me dar banho ou fazer o que quiser com meu corpo... essa pessoa é você- ele diz essa frase com um meio sorriso nos lábios que faz meu corpo se arrepiar.
- O que você está falando logo cedo? - desvio o olhar e ele começa a rir.
- Você está muito corado.
- Você não ia tomar banho?
- Sim... sim... - ele chama a enfermeira poucos segundos depois ela aparece, vejo ela o levar até o banheiro e momentos depois sair do mesmo.
- Quando ele estiver saindo, você poderia desligar o chuveiro por favor?
  
Assinto.
- Muito obrigado - com um sorriso meigo ela sai do quarto.
  
Com um longo suspiro me deito na cama, escuto o som da água abafado pelas paredes...
 
O problema de se ter uma mente fértil é imaginar as coisas sem sequer tê-las observado. Surpreendentemente imagens do rosto molhado do Killua invade minha mente, os cabelos caídos em seu rosto fino, os olhos furtivos fechados, os longos cílios com gotas cristalinas respingadas, gotas identicas as que escorre por sua pele quente, inibida pelo vapor...
- NÃO - fecho os olhos. Para com isso Gon Freecss, ele está machucado, seriamente machucado e está apenas tomando um banho.
 
Começo a me repreender mentalmente quando escuto um som vindo do banheiro.
- Gon...
- Oi - Me levanto rapidamente.
- Você poderia desligar o chuveiro para mim?
 
Justo agora?
- Estou indo- ando até a porta do banheiro mas fico relutante em entrar. - Você está...
- Já enrolei uma toalha na cintura - respiro aliviado.
- Estou entrando - logo sou atingido pelo calor da recente ação do chuveiro, não olho para o Kill, sigo até meu destino e fecho o aparelho antes de virar as costas.
- Obrigado.
- De nada- saio correndo do banheiro e me jogo em minha cama. Meu coração está estranhamente acelerado. O que está acontecendo comigo hoje?
  
Alguns minutos depois escuto passos e o Killua aparece.
- Eu te ajudo - ele se apoia em mim e juntos vamos para sua cama, o ajudo a se sentar.
- Valeu Gon. 
 
Olho para seu cabelo pingando.
- Você não secou os cabelos? - balanço a cabeça em negação enquanto ando até uma toalha - Você pode pegar um resfriado- fico em pé e passo a secar delicamente os longos fios brancos, tão brilhantes e macios...
- Gon.
- Hm?
 
Um momento de silêncio se segue, como se ele estivesse em dúvida se falasse ou não.
- Ouvi que terá alta hoje - paro de secar seus cabelos.
- Acho que sim... mas virei vê-lo nos horários se visita até você ir para nossa casa.
- Nossa casa... - ele sussurra - Sabe, parece surreal que vamos estar juntos todos os dias, que a Mito está com a minha guarda, é tudo tão... perfeito que parece não ser real.
- Kill... - ele se vira para me encarar mas meus dedos seguram seu queixo, e rapidamente me abaixo selando nossos lábios, ele parece estar surpreso...
 
Meu coração bate freneticamente, qual foi a última vez que senti o doce sabor de seus lábios?
 
Minha língua entra em sua boca, em um beijo calmo mas apaixonante... eu não quero soltá-lo, mas o ar começa a faltar e me afasto, ainda com os olhos fechados, nossos narizes batendo um no outro. Quando abro os olhos vejo seu rosto em um leve tom avermelhado, creio que não estou muito diferente.
- Você... - ele levanta a mão em direção a meu rosto, se move lentamente- Ah - uma expressão de dor se segue e ele volta a se encostar no travesseiro.

Começo a rir.
- Cuidado , você está ferido. 
- Você faz eu esquecer até da dor.
 
Nos olhamos por alguns segundos até que o riso incapaz de ser contido dá vida ao cômodo solitário, nossas vozes em uma profunda sintonia.

A Luz da Minha Escuridão *Killugon* Where stories live. Discover now