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Gon Freecss...

Não posso acreditar na mórbida história que saem dos lábios do homem, envolta em uma voz profunda que faz meus ossos tremerem.
- Isso é mentira. Você está falando isso para me ... me - escuto a risada do Illumi.

As palavras parecem estarem presas em minha garganta, meu peito arde em uma dor alucinante... sinto que vou perder o ar só de imaginar o peso que a Mito teve que carregar em silêncio, o medo, o horror por trás do forjado acidente no qual meus pais teriam morrido.
- No fim seu pai pagou com a própria vida pelo erro de ter se metido em meu caminho- ele segura meu rosto me forçando a olhá-lo- E você fez o mesmo... mas, ao invés de ferir alguém, você está tentando tirar meu filho de mim.
- Seu filho? - meus olhos estão marejados e minha voz sai falhada, todas as lágrimas suportadas a cada sórdido detalhe dos últimos suspiros do meu pai, parecem se prender em minha garganta esperando uma brecha na minha pose para sairem. Não deixei de ter medo da figura na minha frente, mas a raiva parece ser maior- Que direito você tem para chamar o Killua de filho? O que você entende de ser responsável pela vida de alguém? - uma lágrima cai - Você o deu uma vida de merda de reclusão, privou alguém que você deveria amar de viver... pior ainda, você sujou as mãos do seu próprio filho com sangue em troca de dinheiro.

O homem na minha frente esboça um sorriso no rosto antes sem expressão.
- Você me diz essas palavras duras, mas olha a situação que você o deixou- meu olhar imediatamente vai até o Kill ainda no chão- Patético. Jogado como um animal. O levou a tentar proteger você à qualquer custo, até mesmo indo para cima do próprio irmão... Você... Gon Freecss- o albino se abaixa ficando de frente para mim - fez o Killua olhar para um mundo que não o pertence, você apresentou uma ridícula ilusão de amor... mas não estava lá quando ele precisou de você. Agora... Você vai levar o resto das pessoas importantes pro inferno diante do seus olhos...

Meu coração parece perder a força... se eu não tivesse aparecido e insistido em me aproximar do Kill nada disso estaria acontecendo, a Mito não estaria em risco... nem ele. As lágrimas caem sem freio, incapaz de limpá-las com as mãos, apenas sinto escorrer pelo meu rosto, um choro silencioso mas que parece estar me rasgando. Eu não sei o que fazer ... está tudo tão confuso... frio... estranhamente assustador ...
- Gon... - meu olhar sobe em direção a tão familiar voz, e do outro lado no meio da escuridão seus vibrantes olhos azuis me fitam.
- Killua - bruscamente faço o movimento para levantar, sendo puxado de volta no mesmo momento.
- Gon - ele se levanta mas cai em seguida.
- Não adianta tentar se mover o efeito ainda não passou- o Illumi diz.
- Seu filho da puta, solta ele agora- ele olha para seu pai - Eu volto para a montanha, eu faço o que você quiser, eu deixo você me surrar, testar armas novas em mim sem soltar um único suspiro... mas, solta ele.

Alguns segundos de silêncio se instalam quando o som vibrante de um tapa chega aos meus ouvidos. Logo um baque do corpo do Killua indo para o chão.
- Esse verme é tão importante assim para você?

Tosse. Um rastro de sangue está no chão nesse momento. Eu não consigo dizer nada, estou tremendo da cabeça aos pés, a única coisa em meu sistema que não está paralisado é minhas lágrimas, e essa dor, esse medo... em cada pequena parte...
- Ele... é... porque - suas palavras saem devagar, sangue escorrendo de sua boca, seu rosto ainda no chão se vira levemente para me encarar- Eu... O... amo...
- Você o ama?

O homem levanta a perna pisando no Killua, um grito de dor se faz presente.
- DESGRAÇADO- jogo meu corpo todo para frente, tão forte que a corrente parece ceder um pouco, um grito de dor sai dos meus lábios... mais um pouco - Kill - no momento que falo seu nome escuto um som de algo se rasgando e uma dor, com um baque estou de volta no chão. Agonizando em dor. Olho para trás e vejo que os pontos em meu braço se soltaram o sangue começa a jorrar.
- Gon - com a roupas manchadas de vermelho o Killua tenta se levantar mas é chutado novamente batendo o corpo em uma pilastra.

A silhueta do Illumi aparece e ele se abaixa olhando para meu braço.
- Querendo acelerar a hora da morte? - ele leva a mão até mim mas a voz de seu pai o para.
- Algum sinal do Hisoka?

Olho o Kill se recompondo, tentando suprimir a dor enquanto os outros dois conversam casualmente. Eu não posso fazer nada... Eu só queria fechar os olhos e quando abrir novamente ver que não passa de um pesadelo.
- Será que... - Antes do Illumi terminar de falar som de algo de metal caindo é escutado... é o portão do galpão. Olho para o local... uma silhueta... se torna duas e depois outras atrás. Meu coração se acelera.

A poeira levantada pela queda do portão se abaixa gradualmente, e meus olhos param no Kaito... que antes que eu perceba o que está acontecendo avança com uma enorme arma em direção ao albino.

É tudo muito rápido e confuso, minha vista está embaçada e minha mente preenchida pela dor. No meio de tantos corpos em movimentos, agentes fardados, perco o Killua de vista. Olho para frente... onde está o Illumi?

Cerca de cinco homens se aproximam de mim.
- Você está... - antes que ele termine a frase seu corpo cai no chão e sangue escorre como um chafariz de seu pescoço. Fecho os olhos e o farfalhar do sangue quente espirra em minha face. Quando abro novamente, todos estavam mortos. O Illumi me encara e sorri com a faca na mão, antes de correr para outros agentes.

Enquanto isso o Kaito está em luta corporal com o Silva, eu não sei dizer quem está em desvantagem, pois a troca de socos está bem proporcional.

Eu tenho que tentar sair daqui. Mexo meus braços na esperança de escapar, tentando suprimir meus gritos de dor... tenho que achar o Killua...
- Gon... - olho para meu lado e o albino com o rosto pálido e os cabelos brancos tingidos de respingos vermelhos me encara.
- Kill - Seu sorriso se curva em um sorriso forçado.
- Eu vou te tirar daqui.
Ele se arrasta até as correntes.. Olho para o local de onde ele veio e vejo o rastro de sangue... ele veio se arrastando para me soltar...

Killua Zoldyck...

Tudo está doendo, meu corpo parece estar explodindo. Em um dos chutes do Silva senti o tilintar de minha costela quebrando... me falta ar, mas mesmo assim aproveito a confusão para me arrastar até o Gon, eu não me importo se vou sair vivo disso, ou se meu pai ou meu irmão vão... mas eu tenho que solta-lo... eu preciso saber que ele estará bem.

As correntes estão muito bem presas... Olho para o chão a procura de algo para me ajudar, rapidamente vejo um pequeno prego enferrujado, me estico e o pego. Respiro fundo.

Eu vou conseguir...
Eu tenho que ... conseguir.

Em um click as correntes de soltam. Meu olhar para no braço do moreno, e o sangramento... apesar de não ser em grandes quantidades... pode lhe causar danos.

Com um balançar dos braços as correntes escorregam por sua pele caindo no chão.
- Kill - ele vem até mim. Seu rosto machucado, faz meu coração doer... é por minha culpa- Temos que sair daqui.
- Sai... vai ser difícil me arrastar até lá.
- Não.
- Gon.

Olho em seus olhos mas ele não se move, lágrimas se formam no canto de seu olhar.
- Acabou Silva - olho em direção a voz. O Kaito está prendendo as mãos do meu pai, com uma grande arma apontada para sua cabeça. Logo três agentes correm para ajudá-lo.
- Peguei ele- o Illumi estava nas mãos de uma mulher loira que presumo ser a Bisky - Acabou- ela olha para o Gon e vejo a preocupação em seus olhos- Vai ajudar ele porra - ela grita para alguns agentes que vem em nossa direção.
- Acabou? - escuto uma risada saindo dos lábios do Illumi. Ele rapidamente pega uma arma de suas mangas e aponta para o Gon - Bum... - O som em seus lábios segue o disparo, a Bisky não teve tempo de impedir , quando o jogou para baixo o disparo já havia sido feito. Os agentes correm até nós, tarde... vai acertar em cheio o peito do Gon.

Olho para ele o olhar desesperado sem saber o que fazer. Respiro fundo. Um grito de dor ecoa quando me jogo em sua frente, meu corpo cai no chão com um baque, sinto a bala se alojar em meu peito.
- Killua- ele segura meu corpo e me envolve seus braços ao meu redor... - O que você... fez?- as lágrimas caem desenfreadamente.

Ao fundo escuto alguém gritar que estava chamando a ambulância, e grande movimentação... mas tudo está turvo demais.
- Gon... - meus olhos estão cada vez mais desfocados mas não preciso olhar para ele para ver seu rosto, está profundamente gravado em minha mente, só isso que está nela nesse momento - Eu te ... - tudo fica escuro e os sons aos poucos ficam distantes até sumir, escuto a voz do Gon ao longe mais não sei o que ele disse.

Eu estou morrendo? Acho que sim.

Não sinto dor, mas ao mesmo tempo é como se tudo ardesse, estou inconsciente já... mas nesse momento não me arrependo de ter me jogado em frente à bala...

Gon... Você conseguiu ouvir eu dizer que te amo?

...

A Luz da Minha Escuridão *Killugon* Onde histórias criam vida. Descubra agora