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Killua Zoldyck...
 
Quando a roda gigante parou para que possamos descer, soltamos os cintos.

Olhei para nossas mãos e sem nem uma vontade soltei nossos dedos, que ficaram juntos por um bom tempo. Ele olha para mim timidamente e saímos.
 
O Kurapika e o Leorio já nos esperavam.
- Onde vamos agora?
- Estou com fome - o Gon fala ao responder o loiro.
- Vamos pegar algo para comer, depois vamos em outra barraca então - o Leorio diz, todos assentimos e começamos andar no meio das barracas.
 
Os dois estavam em nossa frente de mãos dadas, e eu estou andando ao lado do Gon... eu queria segurar a sua mão novamente, mas sinto que talvez seja uma petulância maior que minha coragem permite.
- O que achou da roda gigante?
- Legal. Foi muito bom estar lá em cima, a vista é de tirar o fôlego. 
- Verdade.
  
Olho para um carrinho de peixe frito no espeto e do lado um de algodão doce.
- Vamos comprar um espeto- o esverdeado olha para mim e assente. Peço dois, pago e voltamos a andar. O Leorio e o Kurapika estão em uma barraca de lanche próximo a onde estamos.
- O que acha de sentarmos um pouco ?
- Pode ser.
- Só vou avisar o Kura- o esverdeado corre até eles, voltando rapidamente - Vamos.
 
Andamos no fluxo de pessoas que iam e vinham, tem muitas crianças correndo de um lado para o outro. Nunca gostei de multidões, mas até que não me sinto tão incomodado nesse momento, acho que ter alguém ao seu lado enquanto passamos por desconhecidos é mais confortável do que estar completamente só.
- Ali tem um banco vazio- ele aponta e rapidamente seguimos  para lá antes que se ocupe. Sento ao seu lado.
- Este espeto está muito bom.
- Verdade... - olho para ele que está concentrado em comer - Obrigado Gon.
- Pelo o que? - ele me encara confuso.
- Por ter me convidado para vir com você. 
- Você tem que perder esse hábito de agradecer a todo momento. Gosto de estar com você, torna as coisas melhores, os momentos sempre são divertidos- ele sorri - Acho que sou eu que deveria agradecer por você ter vindo,  ou eu estaria parecendo uma luminária andando com os dois -Rimos.
- Eles estão realmente apaixonados, dá para notar - jogo meu espeto na lata de lixo ao meu lado.
- Acho que depois de tanto tempo guardando o sentimento, deve ser muito bom poder expressar. Eles achavam que amarem um ao outro era errado, pelo laço que eles têm.
- Mas acho que entendo- seus olhos  estão cravados em meu rosto enquanto conversamos - A coisa mais difícil a se fazer é encarar os próprios sentimentos... é aterrorizante.
 
Ele desvia o olhar.
- Acho que sim... Mas acho que o fato de ser tão incerto o que pode acontecer é o que torna tudo belo, principalmente quando se trata de amor. Porque não tem meio termo.  Você arrisca tudo que estava construindo ao se declarar para alguém, pode dar muito certo ou muito errado.
- Como saber a hora que devemos ou não arriscar? - digo em um sussuro mas parece que ele me escutou.
- Acho que sempre sabemos ao olhar para a pessoa. O amor é sempre subentendido até que uma das partes resolve falar em voz alta.
 
O silêncio se instala. Não sei o que dizer, acho que nenhum de nós sabe. É como se o diálogo que se seguiu já não fosse direcionado simplesmente ao amor, algo mais íntimo. Algo que nós dois sentimos... Nossos olhares se encontram, as pessoas que passam em nossa frente nesse momento parecem estarem desfocadas.
 
Respiro fundo. Eu devo dizer a ele ? Que acho que gosto dele? Que tudo é melhor quando estou ao seu lado ?

Desvio o olhar para sua mão por alguns segundos . Eu quero sentir seu calor de novo, por Deus como eu quero toma-lo em meus braços nesse momento. Engulo em seco. Meu coração está gritando nesse momento, queria que ele pudesse ouvi-lo claramente tanto quando eu escuto.
- Gon, eu...
- Achei vocês - me assusto com a voz do Leorio.
 
Ambos olhamos para ele.
- Atrapalhei alguma coisa?
- o que você acha? - o loiro pergunta.
 
Vejo o Gon se levantar e faço o mesmo, esperando que meu coração volte a bater normalmente.
- Não atrapalhou nada, estávamos apenas conversando- ele sorri - Onde vamos agora?
- Quero jogar alguma coisa, depois do fiasco nos dardos estou decidido a ganhar alguma coisa - todos rimos.
- Acho melhor você comprar uma pelúcia em uma loja - digo.
- Você vai ver minhas habilidades Killua - ele arruma o óculos - É que eu ainda não estava totalmente concentrado aquela vez.
- Claro que era por isso - o Gon fala ironicamente, fazendo o Leorio revirar os olhos.
- Idiota.
 
Rimos e começamos a andar até uma barraca de jogos.
 
E assim a noite se seguiu, com o Leorio fracassando na maioria dos jogos, em um ele chegou a ganhar um chaveiro, pelo menos é melhor que nada. Fomos em alguns brinquedos depois, quando já estava ficando tarde, sentamos todos juntos para comer crepe.
 
Em cada momento eu guardava no arsenal de minha memória as feições do Gon, cada detalhe. E como ele estava lindo em cada uma delas, é algo que não sei descrever. Não apenas dele, as risadas que nós quatro compartilhamos, tiramos algumas fotos juntos também. Esses momentos alegres que nunca pensei que viveria, sentir que faço parte de algo... é algo verdadeiramente extraordinário.
 
Neste momento seguimos até a casa do Kurapika, nos despedimos e fico sozinho com o Gon, decidi que vou levá-lo até sua casa.
 
Quando o Leorio fecha a porta olho para o esverdeado que indica para voltamos a andar.
- Estamos perto daquele beco que te vi na primeira vez - ele diz e um sorriso toma seus lábios- Engraçado, que parece que faz anos - assinto.
- Muita coisa mudou desde aquele dia- olho em seus olhos  - Você me mudou.
- Gosto dessa mudança. Pelo menos agora eu vejo você sorrir.
 
A rua está deserta, talvez pelo horário, o único som é o de nossas vozes.
- Mas ainda acho que tem muita coisa para saber sobre você. Você é um grande mistério Kill.
 
Seguimos andando, ao virar a rua paramos em frente ao beco, que assim como naquela noite, está com a luz precária. Como se minha mente estivesse me pregando uma peça, vejo o corpo do homem caído no chão, o terror em seus olhos. Minha vista fica embaçada e perco o equilíbrio, sinto a mão do Gon me segurando.
- Está tudo bem ?
 
Olho para ele, e as poucos o ar volta ao meus pulmões, minha vista volta a ficar nítida. É a mesma sensação sufocante daquele dia...
- Estou bem- me arrumo- foi só um mal estar.
- Tem certeza?

Abro um meio sorriso.
- Não se preocupa- dou um passo - Vamos dar a volta, não quero passar por aí.
- Ok - seguimos caminhando até o fim da rua, é um caminho mais longo até a casa dele, porém não quero correr o risco de sentir aquilo de novo- Por que você não quer passar por lá?
- Me faz lembrar do dia que nós vimos.
 
Ele fica em silêncio.
- Está falando do homem?- assinto.
- Por que você matou ele?
 
Fico em silêncio, viramos a rua e já posso ver ao longe a cafeteria.
- Você não vai me dizer não é? - não respondo.
- Eu não quero que você saiba algumas coisas, pelo menos não agora. Porque eu não quero te perder.
 
Ele para de andar. Estou a alguns passos na frente dele. Paro, e sem me virar volto a falar.
- Você é a melhor coisa que me aconteceu Gon, é tudo muito ... muito escuro sem você  - minha vista se embaça. Droga.  Sinto que vou chorar. Quando me tornei tão emotivo assim? - Eu não quero perder isso, nosso laço, eu não quero perder você- meu olho começa a arder - Os sorrisos... Não quero que o brilho no seu olhar se apague ao me ver. Mesmo eu sabendo que não mereço... O melhor de você. - escuto passos. 
- Kill- me viro. Em um movimento rápido ele me puxa, na ponta dos pés, sinto seus lábios nos meus... uma lágrima caí...
 
Meus olhos se fecham. Seus lábios são macios e delicados. Levo minha mão até sua cintura segurando. Ficamos alguns segundos assim... Ele se afasta e coloca a testa na minha.
 
Quando abro os olhos me perco na tempestade castanha de seu olhar, que me fita. Ele leva a outra mão até meu rosto e seca minha lágrima.
- Me escuta- ele sussurra - Não importa o que você me diga, eu sempre vou te olhar do mesmo jeito. Você é minha pessoa especial Killua... ouviu ? - ele fecha os olhos e passa o nariz no meu delicamente- Eu não consigo imaginar meus dias sem você. Sabe o que isso significa? - ele abre os olhos. Uma outra lágrima minha escorre do olho direito, ele passa o polegar limpando a mesma - Significa que eu gosto de você... significa que eu não vou te deixar por nada.
 
Minha garganta começa a arder. Fecho os olhos e o abraço. Suas mãos apertam minha cintura e as minhas param eu suas costas. Sinto algumas lágrimas descer, mas sei que não são de tristeza. Isso é amor?

Aperto o Gon em meus braços. Eu não quero solta-lo nunca.
- Eu... Gosto de você- sussuro.
 
Ele afasta o rosto da curvatura de meu pescoço e leva uma mão até meu rosto, seu toque faz com que eu abra os olhos. Vejo que os dele estão marejados.
- Eu também... - ele fecha os olhos e se aproxima devagar... Sinto seus lábios nos meus... e o mundo explodir dentro de mim.

A Luz da Minha Escuridão *Killugon* Onde histórias criam vida. Descubra agora