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Killua Zoldyck...

Todos estamos sentados ao redor da mesa perfeitamente organizada, o Gon está ao meu lado enquanto a minha frente está o Kurapika que come atentamente assim como o Leorio. Apesar de estarmos comendo, vez ou outra alguém fala alguma coisa e um diálogo se segue, antes de sequer ter chegado a metade do meu prato, já havíamos compartilhado algumas risadas, até mesmo o Kaito, que ria junto com todos.
 
É tudo muito diferente de antes... Eram raras as ocasiões que os membros de minha família se reuniam para um jantar, e quando acontecia, era mais como um enterro, pois ninguém falava sequer uma palavra, o único som era o tilintar dos talheres e a própria respiração que saia de meus lábios. Não me lembro de um único momento feliz em conjunto... as únicas coisas boas que ocorreram nos muros daquela prisão, que deveria ser meu lar, eram compartilhadas com a Alluka, ela sempre foi um doce... ao pensar nela sinto um sorriso se curvar em meus lábios.
 
Ela é minha irmã mais próxima, sempre correndo atrás de mim ao redor da casa. Com o tempo meus pais notaram que sua atitude infantil não modificava, além dos lapsos de personalidade, uma hora ela estava brincando alegremente e sorrindo como sempre, em outro ficava brava por coisas pequenas e se recusava a falar com alguém... além de mim. Depois que notaram que havia algo errado, ela passou a ficar cada vez mais distante, quase não a via pelos corredores. Pois enquanto ela estava sonolenta pela ação de remédios em um quarto, eu passava por meus treinamentos no outro. As vezes ouvia sua risada ao longe em conjunto com a voz do Gotoh, mas se me distraia por um segundo, uma dor angustiante tomava meu ser, antes que eu notasse já estava no chão, como um animal.

Meu treinamento era como uma tortura diária, aprendi desde cedo a suportar a dor, a levantar mesmo que meus membros estejam estilhaçados.
 
Escuto o som de algo caindo, o familiar cheiro metálico no ar, a fragrância vinha do líquido que escorre pelo meu corpo nu...
- Kill - como se fosse despertado, pisco o olho por algumas vezes antes de olhar para o Gon. Minhas mãos apertam firmemente o talher parado, todos conversaram ao meu redor - Você está bem? - sua voz está normal, diferente de seu olhar, que posso ver nitidamente a preocupação, como se ele soubesse que minha mente havia me levado para lugares que eu jamais deveria regressar.
 
Abro um sorriso e solto o talher segurando levemente sua mão.
- Estou bem.
 
Seus dedos apertam os meus.
- Depois de terminarmos aqui, tenho uma surpresa para você - levanto a sobrancelha.
- Uma surpresa?
 
Ele sorri e vejo as maçãs de seu rosto delicado, ficarem avermelhadas.
- Sim. Está no nosso quarto.
 
Meu coração está prestes a explodir, cada vez mais se acelera, a medida que as palavras do Gon se repetem em minha cabeça... nosso quarto.
- Quem quer sobremesa? - a voz da Mito faz com que eu desvie o olhar e solte a mão do Gon.
- Eu te ajudo a pegar - O Leorio se levanta e juntos ambos vão para a cozinha.
 
Sinto o olhar do Gon preso em meu rosto, volto minha atenção para o mesmo.
- O que foi?
- Seu rosto... está muito vermelho.
- Hã? - coloco a mão em meu rosto - Está tão assim?
  
A risada do Kurapika invade o cômodo.
- O que o Gon te disse para você ficar nesse estado?
 
O esverdeado dá de ombros com um meio sorriso.
- Pronto- a atenção é voltada para a bela torta de morango que é colocada no centro da mesa, ao seu lado o Leorio coloca os pratos.
- Está linda- digo maravilhado.
- Você se supera cada dia mais Mito - O Kaito diz fazendo a mesma sorrir envergonhada.
  
Em poucos minutos todos já estavam com uma fatia no prato, como um pedaço e não posso deixar de notar o gosto maravilhoso.
- Está muito bom.
- Verdade. É uma receita diferente da que você faz não é tia?
 
Ela assente olhando para o Gon.
- O Kaito me passou essa receita, juntei com a minha e ficou assim, aproveitei a ocasião especial para testar.
- Bom... Está totalmente aprovado - o Leorio diz, com o canto da boca sujo de cobertura. Rimos.
- Você come como uma criança- o Kura limpa o canto dos lábios do mesmo, e por um segundo o olhar de ambos se conectam, incapazes de desviar mesmo que por um instante.
 
Olho de solsaio para a pessoa ao meu lado, e sorrio involuntariamente ao ver a expressão dele, o sorriso malicioso nos lábios me faz querer rir.
- Oww mas vocês são tão doces um com o outro- todos concordamos rindo, no mesmo momento o loiro volta ao seu lugar com o rosto corado.
- Eu... estava apenas ajudando.
- Sei... Ajudando.
 
Seu olhar ameaçador é voltado para o Gon, que arqueia as sobrancelhas sugestivamente.
- Não sei o que você está falando sobre o Kurapika, você olha do mesmo jeito para o Killua - o Kaito diz fazendo não apenas o Gon mas até mesmo eu ficar envergonhado.
 
O loiro ri.
- Verdade.
- Vocês deveriam se ver, é quase como se eu estivesse vendo um belo filme de romance - a Bisky fala.
- Concordo. Nos três nos tornamos meros espectadores.
- Não poderia estar mais certa Mito. 
 
O esverdeado balança a cabeça em negação.
- Devemos comer antes que esfrie - o encaro.
- Mas a torta é um prato frio - suas mãos se abanam.
- Que seja.
 
Rio e volto a comer.
 
Assim o jantar vai se passando, com conversas paralelas, trazendo uma calmaria tão almejada ao ambiente... Se o objetivo disso tudo era fazer com que eu me sinta acolhido, certamente deu certo... Não tem como eu estar mais feliz, tendo a pessoa que eu amo ao meu lado e ao meu redor... as pessoas que estão cada vez mais se tornando mais especiais em meu peito... quando estamos juntos assim, não penso no passado doloroso, pois fico mais focado na felicidade tão única de meu presente, posso até imaginar um futuro... a qual vale a pena viver.
 
Quando terminados de comer, juntos retiramos a mesa. Me abaixo para pegar os últimos pratos, quando a Bisky me chama.
- Sim?
- Será que podemos conversar um pouco?

A Luz da Minha Escuridão *Killugon* Where stories live. Discover now