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Killua Zoldyck...

Eu fiquei vendo ele se afastar cada vez mais, até que ele virou um pequeno ponto e sumiu. Eu deveria ter ido atrás dele, mesmo se eu começasse a correr um tempo depois o alcançaria. Desde pequeno eu aprendi que não poderia jamais deixar uma testemunha. Mordo o lábio inferior.

Mas eu não posso, eu vi o medo no olhar dele quando me fitou, o pavor, me olhando como se eu fosse um monstro... monstro .... no fim é isso que eu sou?

Está muito tarde, as ruas não possuem nenhum barulho. Por conta da chuva que ainda cai, eu estou com o skate na mão, indo a pé para casa. Depois que ele fugiu eu parei no lugar que ele estava, atrás das caixas. Acho que no impulso de correr ele deixou o celular cair. Apesar de estar molhado, acho que ainda está pegando. Esperei alguns minutos para ter certeza que ele já estava longe e liguei para o Illumi, geralmente ele que faz a limpeza depois, ou melhor, a pessoa que é responsável por isso faz.

Eu acabei indo no caminho que o garoto fez, ele parecia ter a minha idade, apesar de ser mais frágil fisicamente... no meio da rua tinha uma pasta que deve ter caído quando ele correu. Por precaução eu peguei e joguei em uma lixeira qualquer, não posso deixar ninguém saber que teve uma testemunha, principalmente que eu a deixei ir. Eu não quero matar alguém inocente, que teve apenas o azar de estar no lugar errado na hora errada. Abaixo a cabeça e fecho os punhos. Eu não queria ter que matar ninguém...

Monstro... É exatamente assim que me sinto... Desde o começo.  Mas não é como se eu tivesse escolha, tem certas coisas que a vida impõe que é quase impossível lutar contra. Toda a família Zoldyck é de assassinos profissionais de elite, eu cresci aprendendo a matar, está no meu sangue, na minha história... Eu não deveria me sentir mal por tirar a vida de alguém, como fiz agora a pouco, mas... Eu não consigo deixar de me sentir um lixo depois de fazer isso, tem tanto sangue em minhas mãos, que as vezes sinto que me afogo neles... em todos esses anos fazendo esse tipo de trabalho eu já vi todo tipo de pessoa, aquelas que se rendem facilmente, os que tentam escapar, os que entram em pânico ou aqueles que tentam me matar, mas a única coisa que não muda é aqueles olhos, quando notam que suas vidas não serão salvas, o pavor, medo, raiva, olhares que parecem me amaldiçoar... Meu primeiro trabalho eu tinha 6 anos, eu não sabia que ao matar aquela pessoa eu estaria me matando também, pela primeira vez, e toda vez que isso acontece, uma parte de mim morre também, apesar, de eu não saber se ainda existe algo para morrer...

Pego as chaves de casa no meu bolso e abro a porta. Está tudo escuro, acho que o Illumi já foi para a cama. Respiro fundo e vou para o quarto. Jogo a faca que já está limpa em um canto qualquer, minha roupa está grudada em meu corpo, e meu cabelo caído em meu rosto por estar molhado. Deixo o skate encostado, e coloco a mão no bolso, tiro meu celular e... o celular daquela pessoa. Ando até o banheiro do quarto e tiro a roupa, jogando-a no chão do banheiro. Ligo o chuveiro. 

Sinto a água quente escorrer pelo meu corpo. Solto uma arfada. Pego o sabonete e começo a me esfregar. A esta altura já devem ter limpado toda a cena. York Shin é uma cidade suja, muitas coisas ruins acontecem por aqui e são encobridas muito bem por aquelas pessoas que deveriam proteger a todos, assim como em qualquer outro lugar na verdade ...

Passo shampoo no cabelo e começo a esfregar, um pouco acaba por cair em meus olhos.
- Merda - taco água nos mesmos até a ardência passar um pouco. 

Termino meu banho e saio do banheiro com uma toalha amarrada na cintura.  Depois de me secar, coloco um short preto e uma camiseta de manga comprida roxa. Olho para a escrivaninha onde eu deixei os celulares. Com certa relutância pego o do garoto.Tento ligar, mas não vai. Deve ter entrado água na parte interna, além de ter rachado a tela quando caiu no chão. Mas na verdade é melhor assim, celulares são uma fonte de informação completa sobre alguém. Se nem mesmo eu souber algo sobre ele, ninguém mais poderá saber. Ou seja, ele estará a salvo.

Deito na cama. Mas e eu ...estarei a salvo? Ele pode ter me visto, mesmo com a luz decadente do beco, não muito mas talvez o suficiente para uma descrição. Eu não notei a sua presença antes, mas tenho 100% de certeza que ele estava lá antes mesmo de eu chegar, o que significa que pode ter me visto por ângulos diferentes, eu estava com o capuz mas creio que ainda da para ver alguma coisa. Ele pode contar para alguém o que viu, ou quem sabe já não tenha contado. Droga. Eu realmente fiz certo em deixá-lo fugir? Não seria mais fácil eu simplesmente ter matado ele também?... definitivamente seria. Mas, passo a mão em meu rosto, não consigo. 

Fecho os olhos e derrepente me vem na cabeça seu olhar castanho, profundo, apavorado, mas ao mesmo tempo tão puro... abro os olhos.

E se ele falar para alguém? Vai ser questão de pouco tempo até o Illumi saber, provavelmente ele e o encosto do Hisoka vão querer acabar com o garoto e com quem mais souber, talvez queiram me mandar de volta para a montanha depois disso.

Me sento na cama. A verdade é que não adianta nada eu ficar me questionando sobre isso agora, não tem como voltar no tempo e fazer diferente. Bem provável que ele não conte para ninguém, dava para ver que ele tem muito medo de morrer, sabe que estaria em perigo se contasse, ainda mais depois de deixar o celular para trás... de qualquer forma, é improvável que eu vá vê-lo de novo, a cidade é grande e eu realmente não vou para lugares onde tem muitas pessoas. 

Nossas vidas jamais vão se cruzar novamente, ou assim espero...

A Luz da Minha Escuridão *Killugon* Onde histórias criam vida. Descubra agora