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Killua Zoldyck...
 
Uma dádiva... um presente... trazido pelo simples acaso da vida, talvez pelo destino. Nunca vou saber dizer. Na verdade as razões que fizeram nossas vidas se cruzarem pouco me importa, o que me importa é que ele está aqui, com isso em mente não há nada mais que me afete.
  
Os primeiros raios de sol começam a aparecer, eu não consegui dormir, fiquei olhando para o teto, pensando. Vez ou outra eu o olhava.
 
Me sinto patético, pela forma que apareci ontem. Não queria ter trazido problemas, mas... Não é como se eu pudesse ter raciocinado direito, ontem foi a primeira vez que me desesperei, ver o sangue em minhas mãos, ver o olhar do Gon no medíocre corpo, me trouxe medo, desespero. Como um estrondo, notei que não posso perdê-lo, me apavora a ideia de não ver o seu sorriso mais, é como se eu tivesse em um grande impasse, pois sei que manter ele perto pode ser um risco para sua segurança, mas não sei se por luxúria, ou desejo, talvez necessidade, eu não consigo me afastar... Eu não vou deixar que nada aconteça com ele.
  
Ele se mexe, suas pernas estão jogadas em cima da minha, seu cabelo bagunçado e os lábios entreabertos. Dou um meio sorriso, ele está lindo... Tiro minha mão com o curativo das cobertas, e lentamente levo até seu rosto, tirando um fio de cabelo que estava quase em seus olhos.
- Nada vai te acontecer Gon, eu prometo - digo em um sussuro.
 
Ele mexe os olhos. Afasto minha mão no momento que lentamente ele abre os olhos.
- Kill?
- Bom dia.Desculpa, não queria ter te acordado.
  
Ele abre um meio sorriso.
- Tudo bem.Pelo visto já amanheceu - assinto. 
 
Ele olha para suas pernas cobertas.
- Desculpa - ele ri tirando as pernas de cima das minhas e se sentando  - Eu sou muito espaçoso quando estou dormindo.Te incomodei? -nego e me sento.
- Nem notei. Acordei quase agora também.
- E sua mão?
- Nem doeu muito. Está tudo bem - tiro as cobertas do meu corpo- tenho que ir antes que sua tia acorde, não quero te causar problemas mais do que causei vindo daquela maneira.
- Não foi problema nenhum. Pelo menos você está bem, e me sinto calmo por você ter vindo até mim. Eu me importo com você- olho para ele que abre um sorriso, sinto os ar se prender em meus pulmões, ao vê-lo sorrir desta forma, é quase como se o mundo parasse por alguns segundos - Bom... Quanto a minha tia, demos sorte, porque ontem ela foi dormir cedo, podemos dizer que você veio falar comigo e ficou tarde sem que notassemos, por isso você passou a noite aqui. Ela não vai achar ruim.
- Tem certeza?
- Sim.
  
Ele levanta da cama.
- Ela já deve estar fazendo o café da manhã. Vamos falar com ela, depois você pode tomar um banho primeiro . Certo? -assinto.
 
Em pouco tempo já havíamos levantado e arrumado a cama. Quando saímos, a casa já estava com cheiro de café fresco, e a Mito estava na cozinha.
- Bom dia - paramos na entrada da cozinha.
- Bom dia - ela se vira - oi ... Killua não é?
 
Assinto.
- Espero que não se importe, ontem vim ver o Gon, não notei que já havia ficado tarde... -ela nega e sorri.
- Não tem problema, foi até mais seguro você ter passado a noite aqui. Tem muita gente perigosa e esquisita na rua de madrugada.
 
Perigosa e esquisita ... acho que me encaixo nesse padrão. 
- Tia. Vou pegar uma das escovas novas para o Killua usar. Você já vai abrir a cafeteria?
- Não, esqueceu que disse que ia fechar esse fim de semana?
- Verdade. Você disse que ia descansar. Eu esqueci. 
  
A Mito me encara.
- Porque vocês não vão se arrumar e escovar os dentes para tomar café?
- Claro.
 
O Gon me guia até o banheiro, entramos. Ele pega uma escova fechada e me entrega.
- Pode usar. Meu sabonete é o da saboneteira verde, tem toalha nessa portinha embaixo da pia. Pode pegar uma roupa minha se quiser, antes de tomar banho. Eu vou tomar banho no banheiro da tia Mito.
- Até daqui a pouco - ele sai do banheiro. 
 
Solto o ar. Acho que vou ficar com a mesma roupa que dormi. A regata e a bermuda está de bom tamanho.
 
Fecho a porta e começo a me despir. Deixo as roupas em um canto.
 
Vou até o box do banheiro e ligo o chuveiro. A água inicialmente cai meio morna, até ficar um pouco mais quente. Fecho os olhos, meu cabelo começa a grudar na nuca... a água escorre pelo meu corpo, trazendo um alívio imediato. Abro os olhos. O curativo. Eu esqueci do curativo.
 
Ele está todo molhado.
-Merda- com a outra mão o tiro delicadamente para não arder, me estico e abro o box o jogando no lixo.
 
O ferimento não é tão grande, é um buraco médio na mão. Mas mesmo assim arde. Olho atentamente e não vejo nenhum sinal de vidro. Acho que o Gon conseguiu limpar bem.
  
Não posso demorar muito. Pego o sabonete e começo a me esfregar e logo em seguida escovo os dentes.
  
Desligo o chuveiro e me seco, coloco a mesma roupa que estava. Me olho pelo espelho relativamente embaçado, e seco meus cabelos com a toalha, passo a mão os deixando minimamente arrumados.
 
Quando saio vejo que o Gon estava sentado no sofá me esperando com a caixinha de primeiro socorros. Quando me vê, ele rapidamente olha para minha mão.
- Imaginei que você ia esquecer do curativo.
- Me tornei previsível? - ando até ele, sentando na sua frente. Ele dá de ombros.
- Eu só te conheço um pouco mais. E você parece meio avoado.
 
Estico minha mão quando ele passa o medicamento em um gases.
- E sua tia?
- Saiu. Foi encontrar uma amiga.
 
Fico em silêncio vendo ele terminar o curativo. Quando ele estava apenas amarrando e colocando a fita, ele para, e olha nos meus olhos.
- Killua... Eu não vou perguntar o que aconteceu de madrugada para você ter ficado naquele estado. Mas, sinto que é algo importante ao seu respeito, que te afeta muito... Mas também sei que se eu te perguntar, não vou ter nenhuma resposta...  Certo?
- Gon ... - ele faz um sinal para eu parar.
- Quando você me perguntou se ainda ainda estaria com você mesmo se você não fosse uma boa pessoa... eu disse que estaria. Porque, nada ia mudar a forma como te vejo.
-Mesmo que eu tenha feito coisas horríveis?
-Você queria ter feito essas coisas horríveis?
 
Fico em silêncio e desvio o olhar. Ele pega na minha mão que estava sem o curativo.
- Não -respondo. 
- Então não tem o porque eu não estar com você. Kill... nem toda ação é uma plena verdade, mas um olhar é. Quer saber ... - olho para ele - eu não vejo mentira nos seus.
- Eu também não vejo nos seus. Por isso eu vim até você... porque - instintivamente levo minha outra mão até um lado de seu rosto. O que eu estou fazendo?- Quando eu estava em pânico, a única coisa que me veio a cabeça foi você... - Me aproximo, até que nossos rostos ficam muito próximos um do outro. Fecho os olhos quando aperto a sua mão que estava na minha - Você é minha luz Gon... - digo a última frase quase que em um sussuro. Ele solta minha mão, quando abro os olhos sou tomado pelos seus braços.
  
Nossos corpos em um abraço apertado, sinto meu coração alto, sinto o dele batendo em meu peito.
- Eu gosto dessa versão sua- ele diz baixo.
- Que versão?
- Essa que não tem medo de sentir...
  
Nos afastamos lentamente. Olho para ele que estava corado. Um barulho de algo apitando vem da cozinha.
- O chá- ele levanta.
- Hã?
- Eu fiz chá para a gente tomar café da manhã. Vamos? - assinto.
 
Ele anda até a cozinha, eu logo atrás de seus passos. Levo uma mão até meu peito, que ainda não estava calmo... aperto minha blusa ... esse sentimento... Não é ruim.
-Killua?
- Já estou indo.

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  Passando brevemente, para agradecer a todos que estão acompanhando a história, e espero que estejam gostando 💞

A Luz da Minha Escuridão *Killugon* Where stories live. Discover now