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Killua Zoldyck...

A noite chegou tão rapidamente quanto meus próprios pensamentos simultâneos, a medida que ela se aproximava o clima ia ficando mais calmo. Olho pela janela a lua pálida brilhando incansavelmente no céu escuro, uma luz imortal com um certo ar de poesia... Ainda estou tentando processar a conversa de hoje a tarde com a Bisky e o Kaito, creio que o maior choque foi saber que a Mito se posicionou como minha responsável legal, claro que fiquei muito feliz ao saber que ela não me considerava culpado pelas ações do meu pai e do Illumi, que aprovava minha relação com o Gon... Mas, jamais poderia imaginar que ela me incluiria tão profundamente em sua vida assim. Não sei muito bem como reagir a isso, ou o que falar quando vê-la. Algo que está prestes a acontecer pois o Leorio acabou de sair do quarto, está na hora da troca de acompanhante e a Mito que passará a noite hoje.
 
Olho para o Gon dormindo tão profundamente em sua cama, ele teve que fazer alguns exames para ver se pode ter alta nos próximos dias, e tomar alguns medicamentos, para aliviar a dor que ele ainda sente em seu braço, funciona basicamente como uma morfina, alivia e deixa a pessoa relativamente sonolenta, então pouco tempo depois que ele retornou ao quarto, fechou os olhos e dormiu. Mesmo que ele esteja em completo silêncio e alheio à tudo que acontece em seu redor, gosto de observá-lo, geralmente fico parecendo um idiota, sorrindo a maior parte do tempo... Mas me dá paz vê-lo ao meu lado, tão angelical que parece uma ilusão das mais belas.
  
Escuto o barulho da porta e olho para mesma, no momento que a Mito entra, ao me ver abre um sorriso e olha para o Gon, a porta se fecha atrás de seu corpo e em passos silenciosos chega até minha cama.
- Faz muito tempo que ele está dormindo?
- Cerca de meia hora - me arrumo para me sentar, franzo a testa ao sentir uma leve dor enquanto tento arrumar meu travesseiro para encostar.
- Deixa que te ajudo- ela arruma meu travesseiro, colocando uma sacola na beirada da cama- Está bom assim?- me encosto.
- Muito obrigado.
- De nada - ela passa a mão em um fio de meu cabelo que cobria meus olhos - Como você está se sentindo? 
  
Dou de ombros.
- Sabe, algumas costelas quebradas, reflexo de uma bala em meu peito, sob influência de medicamentos, mas mesmo com tudo isso, estou bem- rio.
    
Ela balança a cabeça em negação com um sorriso nos lábios.
- Está com fome? - nego.
- Me deram janta faz pouco tempo.
- Eu... - vejo a sacola em suas mãos e logo em seguida uma embalagem saiu da mesma - Fiz pão de creme... o Gon gosta, trouxe para vocês dois, não precisa comer agora mas... - o pão é colocado do lado do travesseiro- irei deixar aqui.
- Obrigado Mito. - olho para o pão e logo em seguida para seu rosto. Um silêncio percorre, posso ouvir apenas o som de nossas próprias respirações- Hoje... A Bisky e o Kaito vieram falar sobre a minha situação daqui em diante.
- Como é que foi? - ela senta perto de mim, parcialmente na cama.
- Bom... melhor do que esperava, com um acordo não vou precisar ficar o resto da minha vida na prisão...
- A Bisky me contou um pouco sobre as exigências... está pronto para essa mudança?
  
Dou de ombros.
- É uma nova fase, acho que tudo que é novo é difícil, dá um pouco de medo imaginar uma vida normal, talvez porque eu cresci ouvindo que jamais viveria isso, mas ao mesmo tempo... é excitante e me sinto... feliz, como se o pior tivesse ficado para trás, entende?
  
Ela assente.
- Estou com algo parecido agora - com uma leve risada seu olhar para no Gon por um tempo antes de voltar a me olhar- Nesses últimos anos, sabia que estava segura mas mesmo assim não deixava de ter medo que algo pudesse acontecer... eu perdi meu irmão, minha cunhada, pouco antes disso minha avó havia falecido de causas naturais, enquanto ainda morava na Ilha da Baleia... depois eu fiquei responsável pelo Gon, mesmo que a vida estivesse pesada eu tinha que aguentar... porque ele dependia de mim sabe? - vejo seu olhar parado em mim e um brilho neles, refletidos timidamente pela iluminação branca do quarto- Me desculpe- ela balança a cabeça em negação- Estou falando coisas inúteis.
- Não é inútil... Não me importo de te ouvir - ela sorri gentilmente.
- Sabe Killua, mesmo com isso, os anos foram passando... E eu o vi crescer diante de meus olhos, o Gon sempre será meu maior orgulho, pode não ter nascido de meu ventre mas é meu filho, nada menos que isso. A vida também me trouxe o Kurapika, que aos poucos foi ocupando um grande espaço em meu peito, com ele o Leorio e antes que eu percebesse minha família já não era apenas eu e o Gon. Pessoas não precisam estar unidas pelo sangue, mas sim pelo amor... isso ficava claro na minha vida a cada dia. 
 
Um silêncio se segue.
- Mito... eu sinto muito pelo sofrimento que minha família trouxe para você, pelo fardo que você carregou sozinha durante esses anos, e agora por...
- Não termine essa frase, fardo? - ela balança a cabeça em negação- Nunca foi um fardo para mim, pois coisas ruins são inevitáveis, mas as boas certamente superaram cada uma dessas feridas em meu peito. E... eu sei que você é uma dessas coisas boas na vida do Gon, isso não tem nada ver com o sangue que corre em suas veias, sabe? Porque o laço seu e do Gon está além disso - ela olha para o Gon e para mim com um sorriso no rosto - Você o salvou de ser atropelado por um ônibus, se jogou na frente de uma bala por ele... você cuida dele, cuidar é amar. E no momento que você o protegeu dessa forma- suas mãos lentamente encosta na minha pele, meu rosto sente seu toque acalentador- Um laço entre a gente também se formou.
  
Meu peito parece ser preenchido por um conforto nunca antes sentido, será essa sensação de quando as crianças abraçam seus pais, e sente o carinho escorrendo por sua pele, transbordando de seus corações?... não sei dizer.
 
Engulo em seco.
- Por isso você pediu para ter minha guarda?
 
Ela parece surpresa por um momento antes de sorrir.
- Eu já não havia dito antes que somos uma família agora?
 
Meus olhos enchem de lágrimas, mesmo que nada tenha acontecido sinto uma vontade imensa de chorar, e sem que eu perceba uma lágrima solitária escorria pelo meu olho direito. Não é um choro desesperador, nem de medo, nem de pânico ou de angústia é uma sensação... de estar onde deveria estar, como se um véu tivesse caido ... uma família...
- Não chora ou também choro, sou emotiva.
 
Limpo as lágrimas.
- Me desculpa.
- Não se desculpe por coisas pequenas - ela limpa minha lágrima- Por que não come o pão?- assinto.
- Boa ideia - Pego o mesmo e abro a embalagem. Dou uma mordida.
- Como está?
- Muito bom- sorrio.
 
Ela ri.
- Que bom que gostou.
   
Volto a comer, olho para o Gon ainda dormindo... quem diria que ele me traria não apenas um amor, uma razão para viver, uma luz, mas que me traria uma família, pessoas de valor inestimável, lugares a qual pertencer... um lar acalentador para qual voltar mesmo no mais frio dia...

A Luz da Minha Escuridão *Killugon* Where stories live. Discover now