As desculpas mudavam de acordo com o mês; neste, por exemplo, era de que a empresa mandou centenas de relatórios e que para não se sobrecarregar, ficaria até mais tarde em seu trabalho.

Shawn Mendes, com seus 38 anos, era um excelente contador norte-americano. Era disputado por diversas empresas e usava essa estatística para me convencer com um discurso barato de que sempre estava trabalhando para lucrar mais e conquistar o tão desejado sonho da casa própria. Das sete às onze da noite. Todo santo dia. Estranhamente de quatro meses para cá.

Mas acontece que eu estava desempregada, logo, a única coisa que tinha para fazer era justamente lavar, limpar e deixar as coisas bem organizadas na casa. Inclusive sua roupa de serviço, cujo vinha sempre manchada por um batom vermelho sangue na gola. Ou posso citar também o perfume feminino, ao passo que impregnava o seu traje social por completo.

— Ally disse que não vai poder vir conosco — proferiu Dinah Jane, enquanto entrava no próprio carro e ajustava o cinto de segurança. — Disse que está cuidando do Nicki e que ele está doente. — afirmo com a cabeça, também já dentro do automóvel — Você está bem? — respiro fundo, resmungando que sim, ansiosa.

Eu preciso ser forte e fazer isso acontecer. Porque eu escolhi estar aqui. Escolhi descobrir a verdade e se for preciso, enfrentar ela também.

Dinah e Ally eram minhas melhores amigas e há exatos três meses estavam ouvindo meus lamentos sobre o quão ausente meu marido estava se fazendo as vezes. Duvidavam de uma suposta traição, coisa que eu já sabia, mas odiava ter que concordar em público. Shawn ainda era meu companheiro, o mesmo cara que há oito anos atrás me pediu em casamento, e eu o zelaria até ter minhas certezas.

Ademais, era horrível ter que admitir que em algum momento da nossa relação eu deixei de ser atraente para ele. Que não era mais suficiente para lhe dar prazer e que por isso fora buscar outra na rua.

Também era difícil dizer o momento correto quando aconteceu e o que de fato eu teria feito para ocasioná-lo, mas tinha para mim que era minha culpa e encontrar a amante do meu marido para saber o que ela tinha de diferencial seria a resposta para acabar com tudo isso e retomar o meu relacionamento.

— Fico feliz que queira enfrentar seus medos, Chan — Dinah comenta, ao que estacionava na esquina da saída da empresa de Shawn Mendes, o meu marido. "Chan" era uma abreviatura de "Chancho", ou seja, um apelido íntimo. Da mesma forma, eu a chamava de "Chee" — Porque hoje você vai descobrir tudo.

Mas e se eu não quisesse descobrir tudo? E se fosse mais confortável deixar tudo do jeito que está?

— Não tenho para onde ir. — respondo, cabisbaixa — Não tenho casa, não tenho emprego, por mais que eu descubra algo hoje, Chee, terei que lidar com tudo isso de bico calado.

— E os seus pais em Cuba? — arrisca.

— Acha brilhante a ideia de voltar para o seu país de origem, depois de oito anos, com a sua mãe se vangloriando de que sabia que a nossa relação nunca daria certo? Como que eu vou olhar na cara das pessoas após isso? — a grandona engole em seco — Foi isso que pensei.

— Pode dormir na minha casa se quiser...

— Dormir é diferente de morar, Chee. Mesmo assim, eu agradeço, mas recuso a proposta. — retiro o cinto de segurança, passando as mãos pelos meus cabelos. — Acha que a mulher que ele está me traindo é como? — fito-a, um tanto preocupada.

— Não sei... Deve ser horrorosa. — guarda o celular que nos serviu de GPS no bolso — Uma mulher nojenta. Talvez até mesmo uma prostituta barata.

Dinah pensava que trazer à tona qualidades pejorativas iriam fazer eu me sentir melhor. Entretanto...

— Sendo assim, eu sou pior que elas, não?— rio nasal, extremamente sem graça.

A Amante do Meu Marido (Concluída)Where stories live. Discover now