Epílogo

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2 anos depois

Nick

Minhas mãos tremiam, não conseguia parar de balançar minha perna direita naquele tique nervoso irritante. O tecido das coxas de minha calça jeans já estava molhado de tanto que minhas mãos suavam, e eu tentava inutilmente secá-las ali.

O avião pousou em Guarulhos e eu já nem sentia mais minha respiração. Já fazia seis meses que não voltava para casa. Estava vivendo em Medellín com outros estudantes de sociologia.

Passei no vestibular junto com Isabella, ela ficou em São Paulo, e quando a oportunidade de um estudo de campo surgiu, no quarto período, as três quase me chutaram até o aeroporto. Não que eu não quisesse ir, mas sabia que seria difícil ficar longe delas por tanto tempo.

Mas eu tinha planos na cabeça desde que entrei para o curso, e ver de perto como a cidade colombiana, considerada um berço do tráfico e líder de violência no país, se tornou modelo a ser seguido, era uma oportunidade que tive que aproveitar. Porque eu podia ter saído da quebrada, mas ela não sairia de mim enquanto ainda houvessem pessoas com quem eu me importava lá.

Minha mãe, enfrentou um longo processo por ter matado Al, mas conseguimos provar legítima defesa. Toda a culpa pelo sequestro, recaiu sobre ele e meu nome nem foi citado.

Meus documentos ficaram prontos a tempo da matrícula na faculdade, também precisei ir até a antiga escola na quebrada e conseguir que refizessem meu histórico com o nome novo.
Minha mãe ficou impressionada com minhas notas, e olhando para trás, até eu me surpreendia, mas estudar era um escape para mim. Enquanto a maioria jogava bola na rua, eu me recuperava das surras lendo, estudando. É claro que tive momentos quase normais, eu e Jubi aprontamos muito também. Eram momentos raros, mas tive.

Sobre a vida nova, além de ter as três sempre comigo, Filó passou a frequentar mais a casa, levava sua neta com ela, e Mi adorava ter uma amiga para brincar.

Ela sempre me perguntava dos estudos, estava sempre interessada nas minhas ideias, embora, eu acreditasse, que ela nos visitava mais por causa dos jantares da Isa. E que saudade eu estava da comida da minha Merdinha... Não só da comida, claro.

Peguei minha mala de mão, única que havia levado, e segui pelo corredor de desembarque, já checando os horários e abrindo o aplicativo do Uber.

Mas quando ouvi a voz dela, nem acreditei, ergui a cabeça procurando a direção do som e deixei até meu celular cair no chão, fiquei imóvel, quase não conseguia respirar, ela... Ela estava...

- Mi! - gritei, deixando a mala no chão e correndo para ela, chorando, rindo, totalmente bobo...

Ela estava de pé... De pé, com duas muletas, mas... De pé!

A abracei com força, notando todas elas ali, também com os olhos cheios de lágrimas.

- Monstrinha... Você... - acariciei seu rostinho, amando ver até sua manchinha, morto de saudade. - Você tá andando. Meu Deus... É o dia mais feliz da minha vida. - a abracei de novo.

- Não chora Nick. - disse ela, soltando uma das muletas e limpando meu rosto - Monstrão... Tava cum saudadee.

- Eu também... Eu também estava morrendo de saudade. E você me enganou direitinho... Desde quando você tá andando?

Ela sorriu envergonhada, sem responder, e olhei para cima, sem vontade de deixá-la, a apertei em mim, para ficar em pé.

Filó me abraçou, me dando um beijo demorado na bochecha. - Bem-vindo de volta, querido.

- Obrigado, Dinda. - sorri, beijando sua bochecha também. E agora, esse era o jeito que eu a chamava, minha madrinha, uma boa, para variar.

Dália também me abraçou, acariciando meu rosto - Saudade de você, meu menino.

Atroz Where stories live. Discover now