9 Botando ordem

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Nick

Para a minha sorte, havia sido deixado em paz durante a semana, e fiz todos os tipos de serviços na casa, ninguém ficava ali, Helena era mesmo muito ocupada. Isabella, ia para o colégio de manhã e passava as tardes fazendo tarefas, agradecia mentalmente a cada vez que Dália a colocava para fazer algo bem longe de mim. Eu não podia lidar com aquilo naquele momento. Tinha coisas mais importantes para me preocupar do que com a minha situação perto dela.

***

Era meio da tarde de quinta, quando meu celular apitou no bolso da bermuda e atendi falando baixo.

— Qual é Jubi? Eu falei que só eu ligava, porra!

—Eu sei...  Mas deu merda aqui Nick, vem pra cá cara, só tu vai resolver essa caralha agora.

Ofeguei — Que tipo de merda?

— Vem pra cá, mano! Agora!  — sua voz oscilou, e aí eu realmente fiquei preocupado.

Olhei em volta - Me dá uma hora e me encontra no Fião.

- Beleza.

Desliguei, e enfiei o celular no bolso. Saí da sala e caminhei até a cozinha para encontrar Dália.

Fiz minha melhor cara de cachorro abandonado. - Dália, eu tenho que dar uma saída, mas é rápido, eu juro que volto antes que dona Helena chegue.

Ela sorriu - Menino... Você não colocou nem o rosto para fora dessa casa desde que chegou, vai, não se preocupe.

- Obrigado. Fico te devendo essa, de verdade.

Ela riu e me deu um empurrãozinho. Corri para o quarto para calçar os tênis que havia ganhado também de Helena. E saí correndo pelo portão. Peguei um ônibus e em meia hora estava na entrada do bairro, mais alguns minutos correndo e cheguei a padaria do Fião. Entrei até sem ar de tanto correr.

- E aí Nick? Tudo bem com sua tia?

Assenti ofegante - Tá sim, e por aqui, tudo bem? - perguntei abrindo a geladeira e pegando duas garrafas de água.

- Por enquanto sim, mas soube que você saiu daqui...

Balancei a cabeça negativamente, - Não, estou fora, mas nada mudou. Ou mudou? - estudei-o - Mandei as rondas continuarem, se não passarem por aqui, pode me ligar, que alguém vai pagar por isso.

Sorrindo sem graça, ele deu de ombros e voltou a passar pano na vitrine - Imagine, menino...

Coloquei as águas no balcão, já sentindo a raiva me dominar  - O senhor paga para ter proteção, e vai ter! É a minha palavra, porra! Minha palavra é lei!

Ele assentiu, e quando coloquei as notas sobre o balcão, ele as recusou. - Que isso menino, tem passe livre aqui, não precisa pagar.

Sorri e empurrei as notas para ele, vendo Jubi encostando o carro na frente da padaria. - Isso não está em nosso contrato, pode pegar. E me avise se algo acontecer. Vou dar uma dura nós cabeçudos.

Me despedi com um aceno, e corri para fora, levando a metade da segunda garrafa de água comigo, entrei no carro, e ele arrancou com tudo. Terminei a água e soltei a cabeça no banco, sentindo finalmente que eu podia me desfazer daquela casca de bonzinho que tinha vestido a semana toda.

- Você tá um trapo, mano. O que os ricos fizeram com você?

Quase gargalhei, porque estava mesmo me sentindo um trapo, um lixo ambulante. - Nunca trabalhei tanto na vida Jubi, é um caralho! Principalmente a parte de tentar ser bonzinho, acredita que tava achando que ia me dar bem com uma empregadinha gostosa, e descubro que a vagabunda é filha da coroa? A vida não é justa comigo.

Atroz Where stories live. Discover now