23 Eu sou uma pessoa bem merda

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Isa

Ele passou o domingo inteiro dentro da casa, a porta nem foi destrancada, eu sabia que ele estava lá, porque passei o dia sentada na janela esperando um sinal de vida. Eu queria poder entendê-lo, queria saber sobre ele. Era fato para mim, que ele me atraía, e sua confissão me deu um vislumbre do que eu podia ter. Nick era tão diferente, tão... Eu nem sabia colocar em palavras. Aqueles discursos, aquela forma de falar das coisas, a forma como colocava em palavras os medos que ele lia em meus olhos.

Vi ele conversando com minha mãe na noite anterior, e pelo tanto que ela chorou depois, o resultado não foi diferente daquele que eu havia previsto. Minha mãe não tinha noção do quão machucado Nick era. Ela nem sequer aproveitou o tempo dele em casa para conhecê-lo antes de ter aquela conversa.
Aposto que foi logo jogando na lata a ideia de ele ser o filho perdido... Dona Helena era um poço de bondade, mas também era um poço sem fundo de falta de noção.

Lutei comigo o dia todo para não ir bater em sua porta. Era estranho para mim ter sido rejeitada depois de estar tão perto, ninguém nunca havia feito aquilo. Eu não entendia, ao mesmo tempo estava indignada e inesperadamente impressionada com ele. Outra vez, e em outra área. Era verdade que eu não sabia como ele havia sido criado, mas também sabia que ele tinha ideias fortes e revolucionárias, era educado, desenvolveu uma mentalidade tão diferente da que se espera de jovens de como ele chama, da "quebrada"... Eu me sentia pobre perto dele. Não de dinheiro, mas de todo o resto.

Ouvi meu celular tocar e revirei os olhos sem querer deixar a visão de sua porta por nem um minuto.

Mas a insistência do Green Day tocando no volume máximo me fez levantar bufando. Peguei o celular e senti o couro cabeludo formigar, era Patty. Gelei, e atendi na hora.

—  Amiga! Como você está? —  perguntei aflita.

Sua respiração estava pesada, como se ela não conseguisse respirar direito. Como se estivesse passando mal, muito mal.

—  Isa, você... O Nickolas tá perto de você?

Mordi o lábio. —  Não, não tá, mas me fala, você está bem? Quer que eu vá aí?

—  Não! Não, por favor, eu só quero falar com ele... Amiga...

—  Patty, me diz se está tudo bem, eu vou atrás dele, mas me fala!

— Me liga quando ele estiver com você...

Ela desligou depois de uma respirada profunda. Nem preciso dizer que meu coração nem cabia no peito, e eu era tão, mas tão egoísta, que por uma centelha de segundo, meu eu mesquinho comemorou por eu ter um motivo real para ir atrás dele.

Calcei os chinelos, e com o celular na mão, corri escada a baixo, passando por Dália e minha mãe, sem nem olhar.

Parei na porta do quarto dele, fechei os olhos e bati frenéticamente.

—  Nick! Abre, preciso falar com você, é importante!

—  Vai embora Isabella! Me deixa em paz! —  ouvi sua voz abafada de dentro do quarto.

—  É sobre a Patty! —  falei perto da porta, em um volume não muito alto, porque, se dona Helena ouvisse, já era.

Esperei impaciente, mordendo as orelhas do coelho da capinha do meu celular.

Ele abriu uma fresta da porta para me encarar —  O que foi?

—  Ela quer falar com você. —  implorei com os olhos enquanto mostrava o celular a ele.

Seu olhar baixou, como se pensasse a respeito. Mas abriu a porta e me puxou pelo braço, para dentro de seu quarto. Que por sinal, estava uma zona! Com toda a certeza, ele havia tido um ataque de fúria. Demorei tempo demais olhando as coisas espalhadas pelo chão, e ele me encarou.

Atroz Where stories live. Discover now