3 Princesa na Quebrada

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Isa

— Para, caralho! Vai atolar a mão nas tuas vadias, falou! Me deixa, vou pra casa!

— A sua mãe ligou, disse para você ir para a sua aula de espanhol.

Bufei, — Até parece! E tem mais! Não vai mais atrás de mim Alex! Já deu dessa merda. Tá me achando com cara de quê? De caixa eletrônico? Que é só enfiar a rola que a grana cai no teu colo? Vai trabalhar, vagabundo!

— Vou dizer para a sogrinha que você vai para a aula direitinho. — sua mão agarrou minha nuca me puxando para ele. — Vai aprender a enrolar essa linguinha... Bem aqui. —  tentou forçar minha cabeça contra sua calça, e lhe dei um beliscão na virilha, me soltando dele, que resmungava aos gritos.

— Fica longe de mim, inseto irritante do caralho!

Saí colocando a mochila nos ombros e batendo a porta da frente da casa dele. Sil já me esperava no carro, e me lançou um olhar de desaprovação pelo retrovisor. Mostrei o dedo do meio a ele, fazendo-o rir e me curvei dando um beijo em sua bochecha.

— Para onde menina?

Pensei um pouco, e me soltei no banco traseiro do carro. — Para casa, por favor, não aguento mais esse mundo infernal.

— Sua mãe já deve estar em casa a essa hora, menina.

Joguei a cabeça para trás revirando os olhos. — Então por favor, me leva para qualquer lugar, menos lá.

Ele me lançou aquele sorriso torto que eu amava — Sei do que precisa. — e começou a dirigir.

Realmente não queria encarar a dona onça depois de uma noite fora, ela viria com todo aquele papo de "você só tem dezessete anos Isabella! Quer se matar? O que vou dizer quando sair nos jornais, em manchetes policiais?" Aquilo tudo era um grande saco, meu pai não seria como ela, ele me daria sermão é claro, mas de uma forma diferente, ele sempre esteve do meu lado, ele me conhecia, não era como ela. uma parte de mim sempre imaginou que ela só se preocupava com status, o que iam dizer, o que iam pensar... Ora... Foda-se, iam dizer que eu era a filha problemática de uma ricaça... Nada mais clichê que isso.

Suspirei olhando pela janela, reconheci o caminho e sorri, senhor Silvio, como minha mãe mandava que eu o chamasse, sempre fora meu confidente, ainda mais depois que meu pai morreu. Ele realmente sempre sabia do que eu precisava. Era um amigo adulto sensato e que "quase" não pegava no meu pé.

Passamos  em uma lanchonete, pegamos três lanches para a viagem e seguimos até a casa dele. Eu amava ficar por lá, era como uma bolha de oxigênio para quando eu estava sufocando no meio daquela gente certinha e extravagante demais. Sempre que eu reclamava, ele soltava sua frase favorita "Menina, você se diverte na pobreza, porque quando o dia acaba, é no luxo que vai dormir. Se vivesse com as dificuldades da maioria, não acharia engraçado" E eu entendia, de verdade. Mas mesmo assim... Eu podia apreciar aqueles momentos fora do mundo que minha mãe criou, não era errado. Era? Eu estava sendo uma escrota de merda? Provavelmente, mas era o que eu sentia.

Ele parou o carro, e desci com ele, tinha que confessar que estava com uma roupa pra lá de indecente para meus padrões, só tinha vestido aquilo na noite passada porque queria infernizar a vida do Alex. Consegui? É claro que sim, mas acabei (de novo) na cama daquele desgraçado. Eu sei, sou uma anta, e não julgo que estejam pensando isso de mim.

Sil passou o braço gigante por meus ombros, me conduzindo para dentro de sua casa, mas me parou na soleira da porta.

— Se sua mãe perguntar, estávamos fazendo trabalho voluntário no LALEC, tá? Soube que ela saiu de lá onze da manhã, um problema no carro, ou sei lá.

Ergui uma sobrancelha para ele — Como se ela fosse acreditar. — gargalhar.

Ele sorriu, me conduzindo para dentro com os lanches na mão.

— Antônio! Trouxe comida! — gritou ele. E na mesma hora quis me esconder, não sabia que o sobrinho extremamente gato dele estaria lá naquela hora, e eu estava (sem exageros) com metade da bunda de fora, e com os peitos quase pulando do decote. Não que eu tivesse muito peito, mas mesmo assim...

Me sentei no sofá, puxando minha bolsa para o colo, quando vi aquele Deus de ébano de quase dois metros de altura cruzando o quintal modesto da casa para entrar pela porta da cozinha. Sério! Ele era uma visão do paraíso, que abdômen era aquele? E que rosto de anjo ele tinha. Eu o conhecia já há uns dois anos, desde que  Sil me levara lá pela primeira vez. Mas caralho! O cara só ficava cada vez mais gostoso!

Ele entrou na sala dando aqueles trotinhos de quem quase corre, e não dava para não notar a blusa suada marcando seu abdômen. Que perdição!

Quando me viu, ficou imediatamente constrangido, e se inclinou para o tio. — Caramba, como cê nem avisa que tem beldade na casa? Olha o estado que eu tô, pô!

Dei um sorrisinho e ele levou um tapa na nuca. — Não precisa mudar de estado, essa não é para o teu bico não. Senta para comer, se conseguir fechar a boca. — Sil piscou, sorrindo para mim.

— Não se incomode, Antônio, também estou um trapo... — sorri sem graça.

Ele riu — Gata, se esse é o seu estado trapo, mal posso esperar para ver você em, modo Grã-fino.

Sil o repreendeu, dando outro tapa em seu braço — Tenho um número para você filho... 17! Esqueceu? Isabella tem 17 anos, fecha essa boca.

Ele revirou os olhos e enquanto dava as primeiras mordidas no lanche, voltou a falar. — E o que te traz aqui, princesa Isabella de 17 anos? Veio apreciar a quebrada? Esse velho não tem vergonha na cara mesmo, trazer uma mina como você aqui.

Soltei o lanche tomando um gole de refrigerante — Estou dando um tempo da Isabella princesa. Seu tio é um anjo por me tirar do pedestal de vez em quando.

— Bom... É um bom motivo, mas não sabia que a realeza era assim tão cansativa. — riu ele.

Sorri — Você tem Netflix? Tem pelo menos meio catálogo de filmes que falam disso. Princesas fujonas são o clichê mais querido das adolescentes certinhas.

Sil se levantou, e ele se virou para mim — Deve ser porque a maioria das princesas, não teriam coragem de botar um short mostrando a raba e ir curtir a vida de verdade, aí elas assistem filmes para suprir a necessidade.

Sorri interessada. — Fico lisonjeada por ter reparado na minha "raba", mas como seu tio te disse. Não é para o seu bico. — voltei a comer, e ele riu.

— Nem que fosse, princesa, eu curto uma loirinha, tá ligada? De negão, já basta eu.

Quase gargalhei. — Racismo reverso? Que ótimo saber. — debochei, tentando não ser rude. Mas aquilo era tão babaca de se dizer, que eu nem tive forças para responder. Tive vontade de jogar alguma coisa na cara dele, ou de dar alguma resposta malcriada que ofenderia até mesmo seu linguajar, mas eu não queria arrumar confusão, eu adorava o tio dele, e não arrumaria problemas.

Almoçamos, o insuportável narciso, foi para o que  Sil chamava de "trabalho" entre aspas mesmo, e ficamos ali, conversando, rindo de alguns filmes, e já era quase seis da tarde, quando me levantei para infelizmente, ele me levar embora.

Era muito idiota da minha parte, dizer que eu me sentia muito mais em casa ali com ele, do que na minha enorme casa com minha mãe? É... Era realmente babaca da minha parte. E isso vinha com todo aquele papo de adolescente rebelde, e de "não dar valor ao que se tem" mas realmente, eu não conseguia mudar o que eu sentia. A minha identidade com eles, a maneira de conversarmos. Aquilo era uma conversa, não aquela fala de nariz em pé, e autoritária que minha mãe tinha. Aquilo era ridículo!

Mas eu ia ter que superar, entrei no carro e ele me levou para casa, me peguei torcendo pelo trânsito me deixar mais tempo ali, até chegar em casa, mas  cheguei, e por mais que a tarde tivesse sido bem divertida, minha cara mudou para o modo "bosta com chantilly" assim que desci do carro e Silvio, fez um gesto, pedindo um sorriso no rosto.

Respirei fundo e entrei.

Atroz Where stories live. Discover now