39 Puta que pariu, Nick!

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Jubi

Isabella voltou chorando para minha casa, chegou desesperada, e eu não entendia caralho nenhum que ela falava. A segurei pelos ombros chacoalhando-a de leve.

— Ou! Para velho! Respira e fala direito. Não tô entendo porra nenhuma, meu.

— O Nick... Antônio, acho que ele vai fazer uma besteira.

Relaxei os ombros — Não seria a primeira, relaxa, o cara é safo princesa... O que ele te falô?

Ela voltou a soluçar — Ele se despediu, como se... Como se...

Revirei os olhos, a Preticinha não estava me ajudando, ainda não entendia língua de pitangas derramadas.

Senti meu celular vibrar e vi que era o número dele.

— Alô.

— Eu te amo cara. — sussurrou do outro lado da linha. Arregalei os olhos e tirei o celular da orelha para gritar com ele. — Que porra é essa Nick? Que caraio cê tá fazendo?

Em seguida, só ouvi barulhos e no fundo, a Mi chorando. Depois  um barulho ainda mais alto e a voz dela ficou mais perto.

— Jubis... Jubis! Jubis!

— Gatinha? Gatinha, o que foi? Cadê teu irmão? Cadê? Me fala.

Ouvi ela chorando ainda mais — Jubis. Nick... Mamaaee

Prendi o ar engolindo em seco.

— Ah caralho! Gatinha calma, tô indo, aguenta aí.

Entreguei meu celular para Isabella e a arrastei comigo. Saí correndo pela rua segurando-a pelo braço. Não era possível..  Ele ameaçava fazer isso já fazia tempo, mas não... Ele amava a Preticinha, ele disse, e... Não ia deixar a pau no cu da Dulce vencer essa parada.

— Anda meu! Corre logo! — gritei para Isabella, que estava mais preocupada em ouvir  a Mi gritando pelo celular do que prestando atenção em mim, a arrastando.

Corri como nunca corri na vida, e deixei Isabella pra trás, ela que se virasse, se eu estivesse certo, Nick já tinha feito a maior burrada da vida fodida dele.

Invadi a casa ouvindo Mi gritar ainda do lado de fora. A cena que vi na cozinha me fez perder o equilíbrio. Se eu tivesse um espelho ali, podia jurar que tinha ficado mais branco que o mandioca do Nick.

Dulce estava perto da porta, caída em uma poça de sangue, e Nick de bruços perto do fogão. Tinha menos sangue nele, mas mesmo assim... A faca ainda estava em suas costas e entrei em desespero.

Vasculhei a mesa atrás do celular da maldita e liguei para Andressa. Ela me atendeu rapidamente, mas achando que fosse Dulce.

— Dêssa, é o Jubi, manda alguém na casa do Nick agora, eles tentaram se matar.

— O que? Ele tá bem?

Balancei a cabeça, imóvel — Eu não sei! Caralho, eu não sei! Ele tá no chão, e tem uma faca nele.— falei desesperado, já com a voz embargada.

Ouvi ela gritando, e sua respiração se acelerando enquanto corria.

— Jubi! Me escuta, em que lugar tá a faca? Me fala, já estou indo.

— Nas costas, do lado direito, ele não tá se mexendo...

— Pega nele, vê se tá respirando.

Engoli em seco sentindo falta de ar  — Não dá... E se não estiver? Eu... Não consigo...

Ouvi ela bufando — Tá, eu tô chegando.

Continuei com o telefone no ouvido e aproveitei a deixa para chutar aquela desgraçada perto de mim, ela, eu tinha certeza que já estava nas profundezas do inferno, estava cheia de buracos nas costas, toda ensanguentada.

De repente, ouvi o portão da casa, e Isabella entrou correndo. Me virei para segurá-la e não deixar que ela visse aquilo.

— Ô, ô para aí, não vou deixar você entrar.

— Ele tá aí? — disse desesperada.

Assenti calmamente — Já chamei ajuda, fica calma.

Ela se debateu para conseguir se soltar de mim — Me solta Antônio! Que merda tá fazendo, o que aconteceu com Nick?

Agarrei seus ombros com mais força — Para mano, ou! Num quero que cê veja isso não, espera a ajuda chegar.

Seus olhos se encheram de lágrimas outra vez e ela parou de lutar. — Essa gritando é a Mi? A irmã dele?

Assenti com pesar.

— Não pode ficar parado ouvindo uma garotinha gritar assim! Antônio! — esbravejou — Eu vou lá!

Puxei-a de volta — Não vai!

E finalmente vi Andressa e a equipe chegando. Arrastei Isabella da frente deles e deixei eles entrarem tomando cuidado para que ela não conseguisse ver Nick daquele jeito.

Andressa e os paramédicos com ela, começaram a trabalhar, podia ouvir as ordens quase gritadas que ela dava aos outros. O que me parecia bom. Nas séries, sempre que os médicos estão nervosos, é porque os ditos cujos dos pacientes ainda estavam vivos. E puta que pariu, Nick não podia morrer. Ele falava daquele caralho de morrer e matar Dulce desde pequeno, desde depois da Cristina. Mas achei que era coisa de criança doida. Também não acharia estranho depois de tanta surra que levou daquela desgraçada. Mas aceitar morrer? Por quê? Agora que tinha dado cabo da mãe ricaça, agora que ia cuidar da Mi, e quem sabe até ficar com a Preticinha só pra ele... Eu não entendia a cabeça dele. Na verdade nunca entendi. Ele sempre foi o diferentão. Tive que fazer ele ver o quanto era bom ele ser o branquelo. Nunca tomou nem um enquadro, aquele filho da puta... Se safava de tudo, ainda se pá fodia a vida dos parça falando que tava sendo assaltado, aquela bicha miniatura...

Não... Ele tava vivo! Precisava estar, ou com toda a certeza eu morreria. Não existia Jubi sem Atroz. Não existia Jubi sem branquelo. Não existia a parceria KinderOvo...

Abracei Isabella sem me dar conta realmente do que estava fazendo. Afundei meu rosto em seu cabelo tentando consolá-la, ou talvez, me consolar.

Os paramédicos levaram Nick na maca, não sabia ainda se ele estava com cara de vivo, não dava para saber.

Andressa parou em nossa frente.  — O pulmão dele foi perfurado, e ele está com hemorragia interna, ele perdeu muito sangue. Vamos fazer uma cirurgia, quando terminar, eu te ligo Jubi.

Assenti — E a filha da puta?

— Morta. Manda os caras darem um jeito nela, ninguém vai sentir falta mesmo. — ela se aproximou ainda mais — E por favor, tirem a menina daqui. Ela não pode passar tanto nervoso assim.

— Posso ir junto? — Isabella quase implorou para ela.

Andressa a encarou de cima a baixo — Desculpe... É a Isabella, né? Acho que o Nick preferiria que cuidasse da irmã dele. Ele vai ficar bem, Jubi te passa as informações.

Ela assentiu com pesar e Andressa correu para a ambulância para levar Nick embora.

Eu estava sem fala, estava imóvel, ouvia Mi chorar, mas não conseguia me mover.

— Tem outra entrada nessa casa?
— a voz de Isabella quebrou meu silêncio interno.

— Tem, eu vou abrir pra você. — falei atordoado deixando-a ali e seguindo para dentro da casa, pulando o corpo da velha maldita e alcançando a porta da sala para destrancá-la.

Isabella entrou e parou próximo a mim. — Não sei o que ela quis dizer com dar um jeito, mas faz logo, vou ficar com a irmã dele no quarto e depois que resolver a bagunça, levo ela embora daqui.

Baixei os olhos, nem acreditando que estava mesmo recebendo ordens dela. Mas fazia sentido. E assenti levando-a até a porta do quarto da Mi.

Deixei ela ali e voltei para a cozinha para ligar para os caras me ajudarem a dar um fim na velha. Aquela merecia uma cova rasa no lixão! E eu daria isso a ela. Por tudo que vi ela fazer com Nick. Por tudo o que ela fez durante anos! Ela ia queimar no meio do lixo que era o lugar dela! 

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