41 Traído

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Nick

Abri os olhos sentindo a dor, quase como se fossem queimados com a claridade. Minha cabeça estava pesada, e sentia como se fosse apagar outra vez a qualquer momento.

Com muito esforço, consegui mover uma das mãos, e me inclinar levemente.

— Ei... Cuidado. Não se mexe assim.

Ainda atordoado, olhei para o lado, vendo Dêssa de pernas cruzadas, segurando um livro, e me olhando de cara feia.

— Por que eu tô vivo? — perguntei, sentindo minha garganta arranhar, e meus pulmões arderem, eu quase não conseguia ar suficiente para falar, mas a mangueirinha empurrando ar para mim, ajudava e muito.

Ela fechou o livro, descruzou as pernas, e se aproximou, checando as máquinas ligadas a mim no monitor.

— Vaso ruim, eu já te disse...— desdenhou.

— Ela...

Dêssa segurou minha mão — Tá morta. — sorriu afagando de leve, meu braço — Você nunca mais vai se machucar Nick...

Me esforcei, e com a ajuda dela, consegui ficar quase sentado, quando ela ergueu minha cama.

— E a Mi? E Isabella?

— Estão bem, sua querida levou a Mi para a casa de bacana dela, você esteve apagado por dois dias. Mas...

Dois dias? Ah, que porra! 

Olhei em volta, não havia sinal de ninguém, e aquilo era problema, alguma coisa havia saído errado.

— Acha que demoro por aqui ainda? — falei atordoado.

Ela revirou os olhos — Nickolas, ela perfurou seu pulmão! E trincou os ossos da sua cara. Eu disse que estava feio. Agora eu vou cuidar de você, nem que tenha que te amarrar nessa merda de cama, tá ouvindo?

Fiz careta ao tentar me mexer. — Preciso do meu celular, e preciso que me tire daqui. Dêssa, eu preciso resolver uma coisa...

— Do que está falando?

— Por favor, eu tenho que sair daqui. — comecei a ficar desesperado e as ondas de dor me acertavam como um mar revolto.

— Não tô gostando disso. — ela bufou e apontou para os soros ligados ao meu braço — Você tá vendo isso? É um litro, de antibióticos, seu idiota, você estava com febre até ontem de manhã. Se sair daqui, você vai morrer, Nick.

Tentei respirar fundo — Faz o que eu tô pedindo Dêssa, por favor, eu juro que volto aqui quando eu resolver, você pode me enfaixar como múmia se quiser, mas eu preciso sair.

— Tá bom! Calma aí, vou pegar o celular.

Assenti, vendo-a sair do quarto e quando tentei respirar fundo uma onda de dor varreu meu corpo como se aquela maldita faca estivesse me perfurando outra vez. Que caralho... Eu tinha que estar morto! Seria o melhor para todo mundo. Como eu olharia para Isabella agora?

Dêssa voltou, e me entregou o celular já com o número do Jubi pronto.

Soltei o ar, sentindo meus olhos cheios de lágrimas de dor.

— Não é com Jubi que eu quero falar...

Ela pareceu ainda mais confusa.  Mas não expliquei nada enquanto apertava as teclas.

Não conseguia colocar o celular no ouvido, então, pedi para que ela me deixasse sozinho para eu poder falar no viva voz.

Ele atendeu no terceiro toque.

— Olha quem retornou dos mortos. — riu com deboche.

Engoli em seco juntando minha voz — Al... Você fez o que eu...

— Ah Nickolas... Estava esperando você me perguntar isso. Eu até ia seguir o seu plano, mas, velho! Quando cheguei lá, desacreditei.  Você me mandou a sogrinha, mano! Aí não rola não, né?

Fechei os olhos, eu devia saber que ele iria aprontar. — Al, eu não tô brincando, pensa em me trair e não vou ser bonzinho com você outra vez.

Seu tom mudou — Ei Nick! Baixa a bola, irmão. Eu fiz o que tu mandou, ponto! Você morreu, agora tá na minha mão. Tá achando que não vou lucrar com isso? Meu parça já tá dando a fita pra minha mina lá...

Meu sangue ferveu e mesmo com toda a dor, aproximei o celular do rosto.

— Resolve essa merda comigo Al! Não mete Isabella no meio!

Ele gargalhou — Ah não! Tu traçou? Filho da puta! Mas entendo... Quem resiste à sentada da nega, né? Tô te sacando Nick... Temos o mesmo gosto, a gente pode até dividir.

— A única coisa que eu vou dividir, é a sua cara em duas! — rosnei.

— Vamos ver... Quer resolver? Bora então, vai atrás da Isabella e vê se ela vai confiar em você agora. E ah... Dá uma olhada nas companhias dela... Acho que cê vai gostar de saber com quem sua mina tá andando.

Arfei de raiva. Do que é que aquele merda estava falando? 
— Eu vou matar você! Eu vou acabar com a tua raça, tá ouvindo?

— Você já teve a sua chance... — riu, usando a mesma frase que usei com nele — Perdeu playboy.

Ele desligou e soltei meu braço pesado sobre a coxa com o celular. Eu imaginei tantas vezes Al me traindo de alguma forma suja e dissimulada. Eu no fundo corri o risco, meio que já sabendo o que poderia acontecer. Mas saber, no meio do caminho que ele era o ex de Isabella devia ter me mostrado o quanto eu podia me foder.

Dêssa voltou, parando no batente da porta me olhando com aquela cara de acusação que era o ápice da minha falta de paciência.

— Ele te traiu... — Assenti de cabeça baixa. — E você enganou o Jubi... — Assenti outra vez. — O que você tem na cabeça Nickolas? Jubi é seu melhor amigo! Como você faz aliança com o Al? Nickolas, com o Al! Porra, não confiaria nele nem pra me comprar um salgadinho, e você dá essa fita pra ele?

— Para porra! Ele me fodeu, mas não tanto. Jubi segue as minhas ordens a risca, e ele era manjado pela Dulce, eu não podia envolver ele nisso!

— O que vai fazer agora?

Fechei os olhos — Preciso da Isabella...

— Pra que? Já não fodeu a vida da menina o suficiente?

— Só ela pode me ajudar a arrumar isso Dêssa, me ajuda... Me ajuda a sair daqui.

Ela balançou a cabeça negativamente, mas foi até as sacolas nos pés da minha cama pegando minhas roupas para me ajudar a me vestir.

Todo meu corpo doía, antes da facada, naquele mesmo dia, Dulce havia usado seu instrumento favorito em mim, a tábua de carne era quase um deleite para ela.

As marcas ainda estavam bem feias, e meu rosto ainda bem inchado, minha cabeça ainda doía e o ar era quase que insuficiente para mim.

Dêssa me vestiu com cuidado, me desligou dos monitores, retirou meu soro, e por último, tirou a mangueira de ar do meu nariz, senti o resultado na hora, aumentando a dor e a dificuldade para respirar.

Apoiei o braço sobre seus ombros, e ela me conduziu até seu carro. Entrei quase me espremendo, e ela se sentou ao volante.

— Para onde, Nick?

— Para o condomínio.

Mesmo contrariada, ela resolveu começar a dirigir. E o caminho todo... Eu só pensava no que eu poderia dizer para Isabella. Como eu podia fazer ela acreditar em mim. Como fazer ela me entender... Me perdoar.

Atroz Where stories live. Discover now