17 Ressaca moral

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Nick

Acordei sentindo o movimento na cama, esperei de olhos fechados para saber se ela me acordaria para tirar satisfação comigo sobre estar no meu quarto.

Senti a ponta de seu dedo traçar linhas em meu peito, e sabia o que ela estava fazendo. Até nessas horas ela era enxerida.

— Bom dia Isabella. — falei sem me mover, e senti o movimento brusco quando ela se afastou.

— Que droga garoto! Me assustou! — ofegou ela.

Abri os olhos e me sentei para encará-la, segurando o riso — Não sabe que não se mexe em quem está dormindo? Ou isso só vale para homens?

Ela fez careta — Credo! Só fiquei curiosa com a sua tatuagem. — ela fez beicinho. — Não ia abusar de você não.

Suspirei ajeitando o lençol sobre a cueca e erguendo a sobrancelha para sua frase me animando — Qual te interessou tanto a ponto de tocar em mim sem permissão? — perguntei tentando parecer desinteressado.

Vi seu braço se levantar e com a ponta do dedo, ela tocar a peça de quebra cabeças tatuada no meu peito do lado esquerdo. — Essa. — sussurrou ela.

Meus olhos encontraram os seus, a curiosidade brilhando ali a deixava radiante, mesmo após acordar, com a maquiagem toda borrada e o cabelo todo desgrenhado, além do bafo de cachaça dormida que eu sentia de longe... Ainda assim... Porra!

— Por que essa? — sorri para ela, saber uma possível teoria me deixou momentaneamente excitado.

— Não se parece com as outras, e não é uma coisa comum de se ver em um...

Sorri — Em um homem? É, não é... — respirei fundo — É o desenho de uma pessoa especial... Mirela, é como se fosse minha irmã, ela tem dez anos, e muitos problemas... Brincar de quebra-cabeça é uma coisa que a ajuda muito. Ela sempre diz que somos parte de um. Ela desenhou isso — coloquei a mão sobre a tatuagem — e me deu de presente, no dia que ela acha que é meu aniversário. Então tatuei, porque é exatamente como me sinto... Como uma peça solta.

Seus olhos se encheram de lágrimas olhando para mim — Ela é filha dele?

Assenti — É, eu já tinha oito anos quando ela nasceu, foi a melhor coisa da minha vida, como se alguém realmente me desse um motivo para viver. Cuidar dela, virou meu propósito. Eu faria qualquer coisa por ela. Qualquer coisa mesmo.

Não era exagero, e eu não precisava dizer, mas Isabella tinha o poder devastador de arrancar coisas de mim, por mais que eu tentasse me policiar, era como se ela tivesse uma conexão direta comigo, uma ligação que eu não previa, e não conseguia explicar. 

— Você o amava? — ela falou baixo, tentando desviar o olhar do meu rosto.

Engoli em seco — Eu... Eu amo a Mi, com todas as minhas forças, mas ele... Não dá para chamar o que eu sentia por ele de amor. Talvez respeito e admiração funcione melhor nesse caso.

— Você ainda tem contato com ela?

Baixei a cabeça para a pergunta — Tenho. Não a deixaria nunca.

— E por que você não fica com ela? Por que estava na rua quando minha mãe te achou?

Respirei fundo, outra maldita falha. — Preciso dela de outra forma Isabella, ela precisa de mim, mas cuido dela a distância. Ela é tudo o que importa na minha vida. E não faço nada, sem antes pensar nela. Por isso estava procurando emprego. Para ajudá-la. E sua mãe me achou, ou eu a ela. — sorri.

Ela limpou o rosto, e me abraçou, colocando sua cabeça em meu ombro, me apertando, e não sabia se aquilo era uma forma de me confortar, ou de ela se sentir melhor. Mas meu corpo adorou sua proximidade, seu cheiro era delicioso, e minha cabeça principal já não funcionava mais.

Atroz Where stories live. Discover now