1 Plano solo

5.3K 380 235
                                    

Nick

Cinco Meses depois

Me joguei no sofá fodido, levantando uma nuvem de poeira, estava abandonado há meses, e a sujeira acumulou sem dó.  Mas mesmo assim, cruzei as pernas despreocupadamente, olhando para ele, depois de comunicar o meu plano.

— Tá bom, é um plano lindo, mas pode dizer, por que caralhos tem que ser você? — Jubi me encarou cruzando os braços.

Sorri ajeitando o cadarço de meus tênis — Mano, você tem mesmo que perguntar? Olha pra vocês, mó cara de favelados, madame nenhuma colocaria vocês para dentro.

— Pau no seu rabo! Todo mundo sabe que as madame paga o maior pau pra negão. Deixa eu ir cara!

Sorri — Nem ferrando! Madame só gosta de negão pra foder, ela tem é que confiar em mim, não quero ter que chegar a isso.

Ele correu, e se jogou ao meu lado. As vezes eu me sentia um babaca mais do que o normal, em ter que dizer aquelas coisas idiotas só para tentar ser o fodão. Mas naquele caso, dizer uma coisa contra o que eu pensava, era melhor do que dizer a verdade. Pelo menos por enquanto.

— Cê tá louco mano? A coroa é mó gostosa! Comia fácil!

Revirei os olhos me levantando, Jubi era mesmo um retardado, e sim, provavelmente ele traçaria ela — Você não come fácil, nem cu de bêbado. — brinquei —Agora vai! Avisa os outros que vou ficar fora por um tempo, e manda eles botarem ordem na quebrada, que isso aqui não é galinheiro! Fiquei sabendo que os pardal voltaram, não quero esse negócio aqui não, se deixarem entrar, logo tá todo mundo na gaiola.

Ele ficou me encarando de um jeito esquisito, e não aguentei — Que foi Jubi? Perdeu o cu na minha cara?

— Só tô vendo que esse seu plano vai broxar assim que cê abrir essa boca. Pode ser todo branquinho e pagar um pau com esse teu olho verde, mas tem a boca de um negão da quebrada. A madame vai botar você pra limpar piscina, se pá, ainda vai botar segurança atrás de tu.

Quase gargalhei — É aí que você se engana caro amigo, tenho muitas faces, e não é essa que vou usar quando encontrar a coroa. Tá ligado o gato do Sherek? Sei fazer melhor.

— Uhhhh! Essa eu queria ver, esse puta bandidão, pagando de menor abandonado.

Baixei a cabeça meio que pensando, era estranho que um plano fodido daquele tenha saído de mim. Mas na situação atual, não via outra forma. Eu mais do que precisava fazer aquilo, eu queria, e queria com todas as forças.

— A gente trabalha com o que tem Jubi. Mas sério, quero que fique esperto, estão rodeando muito por aqui, não quero que essa porra saia do controle. Apaga uns pra servir de aviso. Manda essa porra espalhar, eu tô saindo fora, mas não quero bagunça na minha área.

— O Pedenga já tá ligado que cê vai sair fora... Tá só de olho, aquele filho da puta.

— Tô ligado, antes de ir, vou fazer uma visitinha. Com nego folgado, eu mesmo me resolvo.

Ele assentiu, e me afastei, indo para a frente do nosso barracão, ouvindo a chuva começando a martelar as telhas, Jubi me acompanhou. Era meu melhor amigo desde a infância, crescemos juntos pelas vielas, atrás de pipa, cortando tudo quanto é papagaio inimigo com o melhor cerol. Um tempo fácil de se viver, um tempo de roubar manga e pitanga, onde cachorros corriam atrás da gente, e não tiros. Parecia mesmo outra vida.

Para meus amigos, eu era apenas o Nick, o branquelo da quebrada, mas para os rivais... O nome era Atroz. Apelido esse, dado por uma professora muito da atrevida que narrou os sinônimos na minha cara, depois de eu ameaçá-la de morte, aos quatorze anos. Eram eles, desumano, cruel, intimidador, desalmado, feroz, incontrolável...

Atroz Where stories live. Discover now