47 Não me arrependo

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Nick 

Me apoiei no volante, agradecido por finalmente parar, e poder relaxar meu corpo por um instante.

Peguei o celular, e liguei para o Jubi.

— Nick... O Al não tá aqui na porra do barracão! O que eu faço? — Disse ele aflito.

Pensei um pouco — Vê quem tá aí... entrega a grana... e  sai fora... Preciso... Preciso que esse dinheiro esteja nas mãos deles agora Jubi...

— Cara, você tá bem? Tô sentindo sua dor pra respirar daqui. Aonde cê tá? Eu vou aí te ajudar, já estou saindo.

— Não!  Eu tô bem... Faz o que eu pedi, e... E volta pra ficar com a Isabella.

Ele suspirou — Vou te esperar. — disse com a voz embargada, e sabia que ele queria terminar aquela frase com um palavrão.

— Tchau Jubi.

Desliguei. Apoiei a cabeça no encosto do banco puxando ar, lutando com a dor.

Peguei a arma escondendo-a no cós da minha calça. Abri a porta, e praticamente me arrastei para fora. Senti os tremores no meu corpo, estava tendo calafrios, e tinha quase certeza que estava com febre. Nem sabia como eu tinha conseguido chegar até lá. Aquela porra devia estar infeccionada.

Caminhei devagar, me apoiando no carro, e depois, na parede de acesso a entrada.

Me apoiei nos batentes da porta.

— Sou eu, Nickolas. Vim buscar a encomenda. Al já recebeu por ela.

— Entra aí. — ouvi a voz dele atrás da porta. Fechei os olhos sem acreditar. Já era...

Abri a porta, ainda me escorando para ficar em pé. E vi ele agarrando Helena pelo pescoço.

— O que está... fazendo, Al? Isabella... Já levou seu dinheiro.

Ele riu — Eu não disse, sogrinha... Isabella é uma idiota, acreditou outra vez nesse desgraçado. O que prometeu a ela, hein? O que você disse que ia fazer? Que ia levar a mãezinha dela de volta? Provavelmente também jogou a ideia de que eu que a sequestrei, né?

Balancei a cabeça negativamente, não tinha ar suficiente para argumentar muito mais.

— Al... — me apoiei na parede — Liga para... Os seus caras, e eles... Vão confirmar... Deixa eu levar a Helena... De volta...

Ele riu, baixou a mão que a segurava, para agarra-la pela cintura, tirando uma arma de suas costas. — Chama ela de mamãe, que eu quero ver, vai... Tá ligado que amo uma novela mexicana, né? Então vai, fala pra ela que você foi um bastardinho muito triste, e que cagava na calça de vontade de ter uma mamãe.

— Você já tem seu dinheiro Alex, deixe-o em paz. Por favor, ele está machucado. — implorou ela.

Ele riu ainda mais da tentativa dela — Esse merda tá sempre machucado, ele já tá acostumado. Quer ver?

Ele apontou a arma para mim, só tive tempo de arregalar os olhos, antes de cair. Ele acertou minha perna. Caí no chão, sem soltar um único gemido. Apenas trinquei os dentes, e ouvi o grito de Helena, enquanto eu fechava os olhos e ficava cada vez mais, sem ar. Estava sentindo meu coração bater em minha garganta. E já nem sabia mais, de onde a dor vinha.

— Tá bom, Al...  — falei, dessa vez sem conseguir reprimir o gemido de dor — Você tá se vingando... Tudo bem... Mas solta ela... Deixa ela ir embora, e você faz o que quiser...

Ele riu, mas ela entrou em desespero — Não! Eu não vou sair daqui sem você Nickolas, não vou!

Al riu outra vez — Ouviu a mãezinha? Acho que vou ter que me livrar dos dois.

— NÃO! Não, ela não tem nada com isso, Al... Para... Deixa ela ir.

Vi com meus olhos já perdendo o foco, ele caminhando na minha direção — Que interessante Atroz... Primeiro fez todo um esquema para matar a mãmaezinha, agora está implorando pela vida dela? O mundo da voltas mesmo, né?

— O que você quer Alex, eu faço o que você quiser, mas, por favor, não machuca meu filho, por favor. — Ela chorou desesperada, e sem forças, me soltei de costas, o sangue escorria abundante formando uma poça embaixo de mim. A dor para respirar era tanta que eu só sentia meu corpo queimar, o lugar do tiro estava amortecido.

Ele a soltou, jogando-a na parede próxima, com violência e se abaixou próximo a mim. — Eu quero tudo o que é seu, Nickolas! Tudo o que tomou de mim. Eu vou olhar você morrer, e sua mamãezinha também vai. E sabe por que? Porque você é podre! Não vai morrer como bonzinho, não vai ter o amor da sua mãe. Nem o de Isabella. Porque você é um lixo! E sempre vai ser lixo! Bastardo!

Com um empurrão, ele afastou meu ombro, virando meu rosto para ele. — Olha pra mim. Seu tempo está acabando, amigo.

— O seu também! — arregalei os olhos, vendo Helena com o que parecia ser uma estátua de bronze nas mãos, e o acertou no rosto.

O golpe foi fraco, e ele se virou, furioso para ela. Entrei em desespero. Ele ia matá-la.

Juntei o resto das minhas forças, nem sentindo mais meu corpo, e o agarrei pela cintura, ele apontou a arma para ela, mas consegui agarrar seu braço.

— Eu vou acabar com você! — ele gritou, e senti o cano da arma em meu abdômen.

Encostei minha testa na dele, mantendo-o preso em mim — Eu vou levar você comigo!

Agarrei sua mão, juntando meu corpo ainda mais ao dele, sentado no chão. E com a mão livre, deslizei minha arma na direção de Helena. Os olhos dele acompanharam o trajeto da arma até ela se abaixar para pegar, e então senti, antes mesmo de ouvir os sons dos tiros.

Meus olhos assistiram a cena desaparecer, enquanto minha respiração morria comigo.

Caí de lado e vi Al tombar também.

Helena correu para mim, se abaixando, e tentando estancar os sangramentos.

— Querido, está tudo bem, você vai ficar bem... — até mesmo sua voz estava trêmula

Assisti ela amarrar um tecido em minha perna, e avaliar a ferida em meu abdômen.

— Respira querido, respira. Por favor, meu amor, por favor...

Ela se sentou, chorando e amparou minha cabeça. — Nickolas... — desesperada, ela começou a vasculhar meus bolsos até encontrar o celular e ligar para a emergência.

Sua mão fria apertou a minha, e quase sem forças consegui apertar de volta.

— Me perdoa... — sussurrei com a boca cheia de sangue.

— Shhhh, quietinho amor, poupe suas forças, a ajuda está chegando. — ela apoiou sue queixo em minha cabeça chorando — Você tá tão quente... Amor... Você..

As lágrimas escorriam abundantes por meu rosto enquanto eu tentava falar entre puxadas de ar.

— Diz... Diz pra Isabella... Diz que eu... A amo mais do que tudo... E que eu... — fechei os olhos, não conseguia mais falar. — Não me... arrependo de sangrar por ela também...

Ela me apertou ainda mais. — Você vai dizer tudo isso Nickolas, você vai dizer! Vai ficar tudo bem, Deus não será tão injusto de me tirar você outra vez, querido. Deus não faria isso comigo... Com a gente. Fica acordado amor, fica comigo. Eu preciso de você na minha vida, eu... Eu te amo, meu bebê... Meu filho!

Dei um leve sorriso fechando os olhos. Eu queria dizer tantas coisas, eu queria muito ter tempo. Queria ver a Mi crescer, queria ver Isabella ser o que ela tinha capacidade para ser... Mas não veria, o rosto da minha mãe seia o último... Uma coisa com a qual sempre sonhei... Que nunca tive... Pelo menos ali, eu não iria morrer como Nickolas de lugar nenhum e filho de ninguém... Eu morreria nos braços dos quais eu nunca deveria ter saído.

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Desculpa gente😢🙈
Quem chorou levanta a mão 🙋🏻‍♀️

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