Capítulo 16 - Virando o Jogo

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“Como eu não percebi logo de cara?” Essa pergunta se repetia na minha mente várias e várias vezes. Agora que tinha a chance de olhar de um para o outro, percebia que as semelhanças não eram poucas. Os olhos, o nariz, os cabelos quase negros, a covinha na bochecha, o sorriso...

 - E então? Estou esperando uma resposta! – A voz de Poncho saiu baixa, como um sussurro, mas nem por isso, menos perigosa.

- Irmão! – Damian se levantou e ignorando que Alfonso estava furioso, se aproximou. – É assim que recebe seu primo? Que tal um abraço de boas vindas?

Eu tive a impressão de que Poncho estava prestes a saltar no pescoço do primo e ai cheguei há duas conclusões: ou Damian era muito burro ou muito corajoso!

- Não se faça de idiota! Me telefonaram dizendo que você estava aqui. Que merda você fez dessa vez?

- Oras vamos com calma priminho. Não está feliz em me ver? – Damian sorriu despreocupado. Parecia não saber que estava mexendo no fogo.

- Damian. Que. Merda. Você. Fez?

Não dava pra enrolar mais. Em poucas palavras, Damian explicou o que havia acontecido pra parar ali e disse tudo com uma naturalidade que fiquei espantada. Era como se ele tivesse dito que tinha ido comprar pão de manhã ou qualquer outra coisa sem importância.

Em compensação a reação de Poncho não foi nada banal. No minuto em que terminou de contar a história, Alfonso voou pra cima do primo. Assustada de que os policiais pudessem nos prender pela briga, resolvi interferir.

- Parem! Por favor, parem! – Não sei como, mas consegui me enfiar no meio deles. Parecia ter me esquecido do soco que levei da ultima vez em que fiz a mesma coisa, mas, felizmente, dessa vez escapei sem ferimentos. – Não percebem que estamos num delegacia?

Finalmente eles pareceram me ouvir. Damian abriu um sorriso presunçoso que não fazia nenhum pouco de sentido pra mim. Revirei os olhos e me concentrei em fitar Poncho que, ao contrário do primo, não sorria e me olhava com uma seriedade que fez com que um arrepio percorresse todo o meu corpo.

- Não se meta nisso Anahí! Não é da sua conta. – Rugiu e sua voz forte em nada me lembrava o Poncho, meu melhor amigo. Ao contrário, mais parecia um oponente numa batalha prestes a bombardear o campo inimigo.

Do susto, fui levada rapidamente à raiva. Eu estava ali, tentando ajudar a não passarmos o resto da noite numa cela e ele, a única coisa que sabia fazer era me olhar como toda a culpa fosse minha. Alfonso agia como uma criança mimada ressentida, mas até o ressentimento tem um limite, e, no meu caso, o copo já tinha transbordado.

- Da próxima vez que quiser um saco de pancada Alfonso, me avise. Eu terei o maior prazer em te comprar um. – Coloque o dedo sobre o seu peito e ele me olhou chocado. Se não fosse trágico, seria engraçado, eu com o meu 1,58m enfrentando um cara que tinha mais ou menos 1,80m. – Mas não me compare com um, porque eu não sou. – Dei um esbarrão em seu ombro e sai sem olhar pra trás, sem me importar com o que ele estava pensando.

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