Capítulo 46 - O Dia Seguinte

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Sabe aqueles momentos em que você não sabe o que falar tamanho o constrangimento? Pois bem eu estava vivendo um deles!

Na minha frente Dulce e Christopher estavam... como vieram ao mundo. Ninguém sabia o que dizer, eu os olhava como se estivesse diante de um par de extraterrestres e creio que estivesse acontecendo a mesma coisa com eles.

- Annie... é.....eu.... – Dulce puxou a colcha do sofá e se cobriu.- Cobre isso! – Falou pra Christopher que puxou uma almofada cobrindo o... santo Senhor tão grande assim?! Eu teria dado risada pela situação se não tivesse visto algo tão... descomunal.

- Er... Annie... o que a Dulce quer dizer é que....

- Tudo bem, não é da minha conta, não precisam se explicar. – Trato de acalmá-los, afinal a situação já estava complicada o bastante. – Bem... – cocei a cabeça tentando organizar as ideias. – Eu pretendia falar com você só amanhã, mas... humm acho que não cheguei em boa hora. Vou chamar o taxi e...

- NÃO! – Os dois gritaram me fazendo parar.

- Opa! – Christopher disse recolhendo a almofada que deixou cair.

- Annie, senta aqui. – Dulce me colocou sentada no sofá e se abaixou na minha frente.- Olha... Christopher e eu... – murmurou alguma coisa sem terminar.

- Está tudo bem Dulce. Eu já disse que eu não...

- Nós estamos saindo! – Christopher declarou e recebeu um olhar pasmo meu e de Dulce. – É complicado explicar. – Admitiu sem saber o que fazer com as mãos. – Ela está... me ajudando.

Ok essa era uma situação realmente bizarra. Imaginem a cena, eu sem casa diante do casal mais estranho que poderia imaginar: Dulce, a marrenta expulsa da república e Christopher, o gay, ex-gay, quer dizer sei lá e maior inimigo dela. Ao menos era isso que eu pensava. Tudo tão confuso que até eu mesma ficava sem entender.

- Hum... certo. Por que não deixamos essa conversa pra amanhã? Digo... já é tarde não? – Sugeri e os dois pareceram respirar aliviados.

- É pode ser, mas... por que está aqui Annie? – Dulce indagou.

Uma pergunta relativamente simples é claro, mas não pra mim. Parei de respirar e a resposta ficou presa na minha garganta. Senti a onda de pânico se aproximando a medida que um buraco negro ia surgindo diante dos meus olhos.

- É melhor deixá-la descansar. – Christopher falou e a nuvem preta foi se dissipando. – Tenho certeza que seja o que foi que aconteceu pode esperar até amanhã.

- Tem razão. – Dulce concordou e a nuvem se foi de vez. Era um milagre que ela estivesse concordando com ele, mas dei graças a Deus por ser agora. – Vem Annie, você fica comigo no meu quarto e...

- Não! – Neguei e os dois me olharam. – Quer dizer... vocês já estavam lá, não quero atrapalhar e....

- Nada disso. Não atrapalha em nada. Vem comigo. – Insistiu.

- Eu agradeço Dulce, mas posso ficar no quartinho menor.

Depois de muita discussão ficou decidido que eu iria pro quartinho menor. Christopher insistiu em ficar na sala, mas tinha quase certeza de que uma hora ou outra acabaria indo pro quarto de Dulce. Além do mais eu precisava ficar sozinha e tentar por ordem nos pensamentos.

É claro que não dormi nenhum pouco, praticamente nada. Não saia da minha cabeças a cara de Poncho ao ouvir as coisas que Alice dizia. Eu deveria estar satisfeita por ele ter descoberto a verdade, mas ao contrário do que eu imaginava, um imenso vazio se formou dentro de mim. Percebi que quando a gente ama uma pessoa somos capazes de colocar o sentimento dela a frente, inclusive do nosso próprio, tudo para ver o outro feliz e foi exatamente isso que eu fiz. Só que depois de tanto lutar pela felicidade dele, me dei conta que nada parecia ter valido a pena, afinal estávamos os dois machucados.

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