Capítulo 7 - A Casa da Mãe Joana

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Por mais estranho que possa parecer, o jantar seguia de forma tranquila. Normalmente as refeições eram regadas a fofocas, conversas sobre a faculdade e o que era mais comum: discussões. Sobre o que? Oras basicamente tudo, desde uma toalha molhada em cima da cama, alguma tarefa mal executada até um gosto musical diferente. Dependendo dos ânimos, qualquer coisa já servia de motivo.

Porém hoje, estranhamente, estavam todos calmos. Maite e Dulce trocavam algumas palavras em voz baixa e os meninos comiam olhando apenas para o prato, só falando pra pedirem alguma travessa. “Melhor assim”, pensei. Afinal, depois do dia estressante que tive, tudo o que eu mais queria era um pouco de paz. Resolvi então seguir o exemplo dos garotos e não levantar os olhos do prato.

Apesar de eu gostar muito de cozinhar, devo confessar que Maite era a melhor cozinheira que tínhamos. Ela conseguia transformar um prato simples em uma iguaria dos deuses. E dessa vez não foi diferente. A lasanha ao molho de quatro queijos e filé de salmão estavam simplesmente divinos.

- MEU DEUS! – Ela gritou colocando as duas mãos sobre a boca enquanto Christian levantava e agarrava a jarra de água bebendo tudo.

Christopher, Dulce e Poncho acompanhavam a situação abafando as risadas e eu de olhos arregalados tentando entender o que acontecia.

- O QUE VOCÊ COLOCOU NESSA COMIDA MULHER?! UM VIDRO DE PIMENTA?! – Christian berrou partindo para a jarra de suco de abacaxi.

Os mexicanos são conhecidos pelo gosto pela pimenta e pela comida extremamente temperada. Pois bem, realmente os alimentos tinham um toque especial com o tempero forte, porém até nós reconhecemos que há um limite para o apimentado, por isso mesmo estranhei a reação de Christian e com um pouco de cautela, experimentei o peixe.

- Que estranho! Não sinto pimenta nenhuma. – Falei e Christian me fitou como se eu tivesse um par de chifres na cabeça. – É sério! – Provei mais uma garfada. – Não tem pimenta em excesso. Aliás, está uma delicia. – Ele só podia estar provocando a coitada da Mai ou então...

- MAITE PERRONI! – Ele rugiu fitando-a com um ódio que me deixou até arrepiada.

- Christian eu não... – Ela se encolheu um pouco por causa do grito.

- Fui eu! – Todos olhamos e para minha, não tão surpresa, Dulce confessou. A danada era capaz de qualquer coisa, por isso não estranhei. Uma vez ela me contou que quando estudava num colégio religioso, colocou pó de mico na cama da madre superiora porque ela tinha castigado todas as meninas injustamente, segundo ela é claro. Vai saber a lógica da Dulce? – Vamos lá. Não foi “macho” o suficiente para gritar com ela?! Então por que não grita comigo? Aposto que acha muito bonito humilhar as pessoas, mas não gosta quando é com você!

- Oras sua...! – Christian partiu pra cima de Dulce.

- Pode ir parando por ai! Você não vai encostar a mão nela! – Christopher interferiu parando entre os dois. Segurei a respiração, agora sim surpresa, assim como os demais, com a reação dele, afinal, Dulce não era a pessoa preferida dele na casa.

- Você não ouviu o que ela disse? ELA QUIS ME MATAR COM PIMENTA!

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