Capítulo 30 - No amor e na guerra

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“Sonhe enquanto pode e aproveite, porque pode ser a melhor coisa que já aconteceu.”

 

Costumava ser muito realista. Sempre amei Poncho da forma mais despretensiosa que encontrei, sem ter a esperança de que um dia as coisas poderiam ser diferente.

Pra mim, era muito fácil viver assim, estava acostumada e agora não sabia o que sentir. Era uma situação tão... estranha!

Durante toda a minha vida imaginei como seria tê-lo como algo mais próximo do que amigo, e agora que aconteceu, eu simplesmente não sabia o que dizer.

Depois daquele beijo, Poncho me puxou pela mão e voltamos pra casa no mais profundo silencio. Mas também o que eu podia esperar? Conversar sobre o tempo? Ou quem sabe sobre uma receita de bolo?!

Definitivamente nada parecia fazer sentido. Deitei a cabeça no travesseiro sem me trocar ou tirar a maquiagem. Eu ainda estava em choque! Como as coisas podiam mudar em apenas uma noite?

Está certo. Eu tinha que colocar todos os fatos numa balança e manter-me o mais racional possível. Sabia que tudo o que aconteceu naquela festava estava atrelado à presença de Alice e Diego de novo em nossas vidas. Não era o bastante pra acreditar que Poncho estava caindo de amores por mim!

- Posso entrar? – Poncho perguntou colocando apenas a cabeça pra dentro do quarto. Olhou para os lados vendo que estava vazio e mordeu os lábios. Nunca o tinha visto tão apreensivo.

- Cla-claro. – Praguejei mentalmente por gaguejar. Por que sempre tinha que fazer isso?

Poncho deitou-se ao meu lado e ficou olhando para o teto como tantas outras vezes. Só que ao contrário de outros momentos, eu não o sentia relaxado. Ele estava tão tenso quanto eu, como se algo pudesse escapar e estragar com aquilo que eu já nem sabia como chamar.

- Deve estar confusa. – Fitei seu rosto, mas ele continuava olhando para o teto. Fiz o mesmo e segui para o teto de estrelinhas florescentes.

- Bem, eu... – Nem sabia o que dizer

- Não se preocupe. – Ele pegou na minha mão e se virou de lado. Sabia que seus olhos estavam em mim, mas eu ainda não tinha coragem de encará-lo. – Sou eu quem deve explicações.

Me virei de lado e nossos olhos se conectaram assim como os dedos que ele fez questão de entrelaçá-los.

- Está brava comigo? – Ele mordeu os lábios e eu sorri, ele sempre fazia isso, desde quando éramos crianças.

- Não. Não tenho porque ficar brava. – Garanti e ele pareceu relaxar um pouco. Chegava a ser engraçado vê-lo tenso, já que sempre era tão seguro de si.

- Eu devia ter avisado. Na verdade eu... nem imaginava fazer algo assim. Mas a raiva me subiu a cabeça e não podia deixar aqueles dois levarem a melhor.

Não vou mentir.  Ainda que eu imaginasse porque ele havia agido daquela forma tão precipitada, me deu uma certa melancolia ouvi-lo dizer isso.

- Me desculpa sim? – Me abraçou e depositou um beijo na minha testa. A lágrima quis escapar, mas não deixei. – Você é minha amiga. Não quero magoá-la.

- Não vai... - ... mais do que já magoou. – Fique tranquilo.

Ele beijou novamente minha testa e ficamos assim, por alguns instantes, apenas abraçados na minha cama num silencio confortável.

Ainda que não fosse como eu queria, era bom ver que ele não estava me tratando diferente. E acho que Poncho se sentiu igualmente aliviado.

- Poncho?

- Que?

Engoli em seco me preparando pra tirar a duvida que estava me queimando por dentro.

- Como vai ser... de agora em diante? – Ele franziu o cenho parecendo pensativo. – Quer dizer, eu sei que não é... bem você sabe um namoro, mas todo mundo acha que é então... eu não sei.

- Coloquei a gente numa confusão não é mesmo? – Ele sorriu envergonhado.

- Bem sim, quer dizer não. É só que... as pessoas vão... bem, isso é...

- Sei o que as pessoas pensam, mas o que me importa é o que você pensa. Eu preciso que me ajude, é claro, afinal não quero bancar o imbecil, mas não vou fazer nada que não queira. Niña... – Ele tocou meus cabelos carinhosamente. – O que você quer?

Essa pergunta era como uma bomba. Por um lado, se dissesse que sim, ele acharia que eu estava interessada, mas se disse que não ele ficaria chateado e com cara de idiota diante de todos depois da cena que fizemos.

“Não seja boba menina! Aproveite pra tirar uma casquinha dele. Não vai ter outra chance! Seja guerreira, vá a luta e conquiste-o antes que a vaca ruiva de a volta por cima!”

 

Só esse pensamento foi o suficiente pra me deixar irritada. Aquela mulher não ia se aproximar dele novamente. Não mesmo! Não no que dependesse de mim é claro. Além do mais, minha mente, ainda que louca, estava certa. Pela primeira vez em anos eu tinha uma chance. O namoro seria de mentira, mas quem sabe se não poderia se tornar algo real?

Antes que a coragem me abandonasse beijei o cantinho da sua boca e sorri. Ele me olhou confuso e eu sorri me sentindo mais segura.

- Acho que arrumou uma namorada Alfonso. – Pisquei e ele finalmente compreendeu, sorriu também e me abraçou.

Estava feito e podia vir o fosse. Eu estava pronta pra guerra, também para o amor... Porque no amor e na guerra, vale tudo!

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Por hoje é só minha gente! Espero que gostem!

Está sendo um pouco complicado de escrever por causa da faculdade, mas com um pouco de esforço dá tudo certo!!!

DespretensiosaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora