Capítulo 24 - Segredos - Parte 3

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Cai no chão do corredor e no mesmo instante a porta do quarto dele bateu com força. Fui dominada pela raiva dos pés a cabeça. As lágrimas começaram a cair, mas limpei-as do meu rosto com mais força tamanho o ódio que eu estava sentindo.

 

Poncho nunca havia me tratado assim antes. Estava certo que sempre acabávamos discutindo por causa de Alice, mas nunca chegamos a esse ponto. Me senti suja, como se fosse uma qualquer jogada na sarjeta. Naquele momento, me dei conta que se eu tinha alguma importância pra ele, havia deixado de ter.

 

Levantei do chão e desci as escadas correndo. Eu não estava certa do que faria, mas tudo o que eu não precisava era ficar sob o mesmo teto que aquele... me faltavam até palavras pra definir Poncho! Eu o chamei de trouxa, mas agora percebo que a trouxa na verdade, fui eu!

 

Passei por Dulce que me olhou novamente intrigada. Não dei a mínima pra isso e bati a porta da frente com raiva do mundo!

 

Eu não fazia a mínima ideia de pra onde iria. Só o que eu sei é que quanto mais me afastasse de casa melhor. Por isso me deixei levar e meus pés começaram a caminhar sem um rumo fixo.

 

As imagens daquela noite insistiam em me atormentar. Diego, Alice, Poncho... eu não sabia o que tinha sido pior, se a traição ou se o fato de Poncho não acreditar em mim! Bem, talvez as duas coisas fossem difíceis no mesmo nível, apenas... de uma forma diferente.

 

Sem perceber fui parar em frente a república onde Diego morava. Vi a luz da janela do seu quarto apagada e soube o que deveria fazer. Sim era arriscado, mas danem-se os riscos! Afinal, ninguém se importa comigo mesmo!

 

Abri a porta da frente sem nenhum esforço. Aquele nojento e agora meu ex-namorado, me disse que em uma das festas que os garotos deram na república, a chave se perdeu e desde então nunca mais providenciaram outra.

 

A casa estava escura, mas eu sabia muito bem que caminho seguir. Com calma para não tropeçar e para não acordar os outros as 3 da manhã,, subi as escadas e me dirigi até a última porta. O quarto de Diego estava vazio, como eu já imaginava, e dei graças por ele não dividi-lo com ninguém.

 

Me aproximei da estante de livros e tirei o 13º do lugar. Estava ali. As pílulas da felicidade me esperavam enroladas num saquinho no fundo da prateleira.

 

Peguei o pacote e recoloquei o livro no lugar. Sorri comigo mesma ao pensar na surpresa que Diego teria quando descobrisse que não estavam ali. Digamos que... se tratava de uma pequena vingança. 

 

Depois de deixar a casa pra trás, decidi que o melhor lugar para consumi-las sem correr risco, era atrás dos laboratórios de química. Costumava ser deserto ali, não haveria outros jovens de madrugada por ali, professores e muito menos seguranças, pois ficava mais ou menos no fim do campus universitário, muito distante dos outros prédios.

 

Sentei debaixo de duas árvores e suspirei pela primeira vez sentindo um pouco de tranquilidade. Sem esperar, engoli duas pílulas de ecstasy, em seco.

 

Poderia parecer maluquice pra quem visse. Mas eu não era louca. Só alguém cansada demais, que percebeu que ninguém se importa de verdade com ela e que está querendo apenas... se desligar um pouco do mundo.

 

Não, eu não queria me matar, apenas desejava um pouco de paz. Quando me sentia muito estressada, costumava tomar umas quando queria me sentir feliz. Não era nenhuma viciada, não precisava disso no diário, só quando realmente me sentia triste e precisava de um alívio.

 

A serotonina começou a ser liberada, no meu corpo. A sensação de súbita felicidade surgiu, mas ainda não era o suficiente. Peguei mais quatro comprimidos e fui brincando: um a um atirava em minha boca.

 

Me deitei na grama e fiquei olhando as estrelas. Elas pareciam dançar na minha frente. Sim, dançar! Gargalhei. Era tão simples, elas pareciam tão contentes e eram ótimas bailarinas! Voltei a rir e peguei mais duas pílulas no saquinho. Ingeri em meio a gargalhadas. Era realmente divertido vê-las dançando!

 

De repente elas pararam de dançar e começaram a correr. Soltei um grito ao perceber que elas corriam em minha direção! Alguém tinha que avisar a elas que iriam bater em mim! Me protegi com braços como pude, mas elas pinicavam em mim de qualquer forma. Pareciam agulhas! Foi ficando cada vez mais forte, que uma delas me atingiu na cabeça e eu não vi mais nada.

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Capítulo pequeno, eu sei, mas precisava fechar o flashback meninas.

Boa leitura!

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