Capítulo 34 - O Meio do Fim

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Dulce continuou a jogar as roupas, porta retratos, e outros objetos dentro das malas. Eu estava em choque e Mai parecia passar pelo mesmo! Como assim expulsa?

- Tenho duas horas pra deixar a república Annie e não vou poder mais pisar aqui, nem como visita! - Devo ter dito em voz alta, pois ela respondeu um tanto nervosa em meio as lágrimas.

- Essa é a condição pra continuar estudando, mas sabem o que isso significa? - Ela sentou na cama tampando o rosto com as mãos.

- Dulce... - Murmurei me abaixando na frente dela. - Não fica assim nós vamos dar um jeito.

- Além do mais, você não foi expulsa da faculdade. - Mai sentou ao lado dela também tentando confortá-la.

- Que jeito meninas? Eu não tenho como me manter aqui pagando um aluguel, meu emprego só me ajudava a contribuir com alguma coisa aqui em casa, os livros da faculdade e a gasolina do carro, nada mais. Eu vou ter que... eu não sei o que fazer.

Dulce podia ser uma destrambelhada, maluca, irresponsável, o que quisessem, mas não era má pessoa. Por mais que aprontasse, ela não merecia isso, quer dizer, sabia que ela tinha acabado buscando por isso, mas eu também tinha consciência de que se a situação ficasse realmente difícil para o lado de Christopher ela teria agido.

- Não importa nós vamos dar um jeito! - Eu queria realmente acreditar nisso. - Não vamos deixar que fique na rua, vai continuar estudando e vamos encontrar uma maneira de fazer com que volte pra casa.

- Isso é impossível. - Dulce suspirou secando os olhos. - Christopher me entregou, o reitor me pressionou, ameaçou chamar a polícia e... não pude mais negar. A coisa ia ficar realmente séria, podia acabar presa além de te envolver Mai... - Mai engoliu em seco talvez imaginando que ela poderia ter sido acusada de cúmplice. - Só não fui expulsa da faculdade também porque Christian interferiu. - Oh meninas o que eu vou fazer? Não posso voltar pra casa! Não posso dar esse desgosto a minha avó e o meu avô... não quero nem pensar no que ele vai fazer quando souber!

- Espere um minuto sim? - Maite abriu uma caixinha que estava ao lado da cama e tirou dela um celular. Estranhei afinal de todos nós, apenas ela não tinha o aparelho, ou ao menos era o que eu pensava. Ela mordeu os lábios, apreensiva, mas nem deu tempo de questioná-la, pois a pessoa do outro lado atendeu.

- Oi tudo bem? Sou eu Maite. - Quem quer que fosse respondeu alguma coisa que a fez sorrir. - Não se preocupe estou bem, mas... preciso de um favor. Aquele apartamento no centro ainda está vago? - Apartamento? Mas com quem ela estava falando? Até onde eu saiba ela não tinha ninguém os tios que a criaram e a prima moravam em Tuxtla. - Não, não é pra mim. Posso? - Ela sorriu e eu soube que estava tudo bem. Dulce não ficaria na rua. - Muito obrigada. Não se preocupe está comigo. - Ela concordou apertando a caixinha. - Eu também. Tchau. - Desligou com um suspiro.

Dulce e eu nos olhamos antes de voltar a encarar Mai. O que tinha sido aquilo? Com quem ela falava?

- Sinto muito, mas isso é... uma longa história. - Ela continuou depois de algum tempo pensando em que palavras usar.

- Tudo bem Mai, não precisa explicar nada. Você já fez muito por mim, obrigada. - Dulce assegurou dando uns tapinhas na mão da amiga. - Aliás vocês duas fizeram. Muito obrigada por... não me abandonarem. Eu sei... eu sei que eu errei, mas... obrigada.

- Oras pra que servem as amigas se não pra estarem aqui? - Mai nos abraços. - Já sabem, juntas nas boas...

- Juntas nas más... - Eu e Dulce completamos sorrindo. Em três anos foram tantas histórias, que as vezes tinha a impressão de conhecê-las da vida toda!

- Vou sentir falta de vocês meninas! Ai vou sentir tanta falta daqui!

- Hey não fale como se fosse morrer ou como se nós fossemos. Você vai estar a só... 15 minutos daqui! - Maite tentou animá-la.

- Mai tem razão. Não pense que vai ser tão fácil se livrar da gente! - Falei e ela sorriu se sentindo um pouco mais segura.

Descer com Dulce foi uma das coisas mais difíceis que já fiz. Nunca pensei que chegaria a ver qualquer um de nós abandonar a república. Era muito ruim e eu sabia que aquela casa jamais voltaria a ser a mesma sem a ruiva enlouquecida gritando pela casa.

Alfonso a tomou nos braços e sussurrou alguma coisa em seu ouvido. Dulce não chorava mais. Disse que não daria esse gostinho a Christopher, pois apesar de saber que estava errada, ele não tinha porque ter levado a situação até as ultimas consequências.

Dulce deu um pequeno sorriso e foi a vez de Christian abraçá-la. Christopher estava encostado na parede que ficava ao lado da porta de entrada. Tinha os braços cruzados e um sorrisinho irônico no rosto que me deu vontade de arrancá-lo a tapas.

- Eu levo você! - Christian se ofereceu. Ele também concordava que Dulce estava errada, mas também não queria que ela se fosse.

- Não, por favor, a Annie e a Mai vão me levar. - Maite havia pedido que fôssemos apenas nós. Tinha algo ali, mas na situação em que Dulce se encontrava não havia escolha.

Christian olhou feio pra Maite que resolveu fingir que não viu. Mai e seus segredos faziam minha paixão escondida por Poncho parecer coisa de criança.

- Vamos fazer o possível Dulce, eu prometo. - Christian beijou a testa dela e deu um abraço. Ninguém esperava por isso afinal ele não era dado a carinhos, ao contrário, as vezes tinha a sensação que só faltava ele rosnar.

- Está tudo bem...- Dulce deu mais uma olhada na sala e sorriu. - Vou sentir falta daqui, mas tudo tem a sua hora e chegou a minha vamos.

- Deixa, que eu levo até o carro. - Poncho pegou as malas de Dul e saiu junto com Mai e Christian.

- Cuidado com o tempo Maria, está se acabando. - Christopher soltou com visível satisfação. Juro que senti vontade de voar no pescoço dele.

- Não cante vitória antes do tempo Uckermann. Ganhou a partida, não a guerra. - Dulce deu um leve tapinha no ombro dele e soube que apesar do pânico que mostrou lá em cima, uma rainha de verdade nunca perde o ar de majestade e a admirei por isso.

Fiquei olhando a cara de Christopher mudar do sarcasmo para a raiva. Sorri. Ele estava merecendo por ser um cretino.

- Posso saber o que está olhando? - Perguntou zangado.

- Nada. Só que nem sempre a gente tem tudo que quer.

- Só quero lembrar que a errada nessa história é a sua amiga não eu!

- Sei disso, mas Dulce sabia até onde podia ir. Estava ciente de que se as coisas saíssem realmente fora do controle, ela iria desfazer o mal entendido, tanto que as ervas eram falsas.

- Não a defenda! Ela teve o que merece! Além do mais, não vejo o porque de tanto drama. Ela tem dinheiro o suficiente pra se manter fora daqui num lugar muito melhor! Patricinha, mimada, barraqueira...

Sabia que iria estragar as coisas, Dulce que me perdoasse, mas não podia manter segredo vendo ele acabar com ela.

- Seu idiota! Dulce não é rica, aliás duvido que ela tenha mais do que qualquer um daqui! Ela só veio morar aqui porque não tinha como pagar e manter a faculdade ao mesmo tempo!

- Isso não é verdade. Afinal ela tem aquele carrão na garagem!

- Foi presente do pai dela antes de morrer imbecil! - Christopher pareceu chocado e apesar do stress eu sorri, valeu a pena. Me aproximei da porta e passei por ele. - Você se acha melhor que a Dulce, mas acabou se saindo pior que ela. Espero que não se arrependa.

E deixei Christopher para trás. As coisas iam mudar e espero que eu esteja errada, pois tinha o leve pressentimento de que podiam piorar...

DespretensiosaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora