Capítulo 1 - Conto de Fadas x Vida Real

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         Quando eu era criança, costumava brincar de casinha. Acreditava que um dia iria crescer e assim como fazia com as bonecas, teria os meus filhos e o meu marido. Imaginava que em algum ponto da vida iria me apaixonar, me casar e então teria minha família e minha própria casa para cuidar.

Parecia tudo tão simples e tão fácil que não imaginei que o mundo dos adultos pudesse ser bem mais complicado que isso. Tenho 21 anos, nenhum namorado e muito menos pretensão de casamento. Isso era realmente algo que pertencia ao mundo dos sonhos. A casa que eu imaginava na infância com um jardim imenso e um cachorro, era um cubículo que eu dividia com mais cinco pessoas e um gato que aparecia apenas pra me arranhar e tomar leite. E aquele príncipe que eu imaginava quando criança era na verdade um tremendo de um sapo...

E sabe o que era mais espantoso? Mesmo não sendo como eu imaginava, eu ainda queria aquele sapo pra mim. Queria ter a chance de beijá-lo e quem sabe assim despertá-lo e ver no seu lugar um lindo cavalheiro de armadura branca...

- Annie? Annie? ANAHI!

        Fechei o diário com pressa e o coloquei dentro da bolsa. Procurei assustada olhando para os lados tentando ver quem estava me chamando. Vi Christian encostado na porta rindo da minha cara enquanto atacava uma maçã.

        - Puxa vida até que enfim! – Deu outra mordida. – Não acredito. Escrevendo nesse livro ridículo de novo?

        Christian era legal, mas sabia ser insuportável quando queria. Sua língua ferina não poupava ninguém, Maite era a prova viva disso. A coitada vivia levando os coitos dele e o que era pior, de graça. O lema dele era “honestidade total” e não estava nem ai se isso ofendia alguém. Por outro lado, ele era o único cara determinado e racional o suficiente para resolver qualquer problema naquela casa. Acho que por isso mesmo resolveu fazer direito. Seu jeito prático e o sangue frio sempre achavam solução pra tudo inclusive para o que acontecia naquela república, o que não era pouco. Afinal numa casa onde moravam seis jovens sempre há algum tipo de confusão.

        Levantei e arrumei a manta do sofá. Tinha uma mania irritante de organização, mas acho que era graças a isso que não vivíamos num chiqueiro e que ainda não tínhamos sido expulsos pela vigilância sanitária.

        - Não é ridículo Chris. – Respondi não querendo me irritar ao menos por um dia. Eu sei que isso era quase impossível, mas a minha cota de paciência estava chegando ao nível máximo e me estourar com um amigo por nada não era algo que valesse a pena. O melhor mesmo era mudar de assunto.  – Seu esfomeado! Acabamos de almoçar! – Empurrei o seu ombro e ele então me acompanhou no riso. Aquilo era uma coisa rara, geralmente era tão sério. Ele deveria rir mais se soubesse o quão atraente ficava.

- Puxa vida que calor está na rua. – Maite entrou largando duas imensas sacolas junto à porta de entrada. – Está realmente quente hoje. – Passou a mão na testa enxugando o suor.

 Mai era como um cristal: bonita, transparente e extremamente frágil. Dentre todos nós, era a única que sempre estava disposta a ouvir. Era capaz de sacrificar qualquer coisa pelos outros. Ao mesmo tempo isso lhe causava alguns problemas: se magoava com facilidade e todo mundo percebia quando estava triste, o que devo dizer, era quase um hábito.

- Como sempre vive reclamando. Uma tarefa tão simples e só sabe reclamar. Se tivesse feito na hora que eu mandei não estaria assim, parecendo uma mendiga agora!

DespretensiosaWhere stories live. Discover now