Capítulo 13 - Consequência

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Diego... só de ouvir o seu nome senti como se o chão abrisse sobre os meus pés. Ali estava uma parte minha que eu fazia questão de nunca lembrar e se pudesse escondê-la do resto do universo, então com certeza eu faria.

Poncho sabia bem que aquele assunto era como um tabu: não devia ser falado, comentado, nem se quer ao menos pensado. Eu podia não mudar o passado, mas com certeza não cometeria o mesmo erro no futuro.

Eu tinha vergonha do meu passado. Não havia como se orgulhar quando você chega realmente ao fundo do poço e reconhecer que estava errada foi quase como morrer.

Morrer... literalmente eu quase tinha chegado lá. E o que é pior, por opção. Por tentar resolver algo que considerava terrível, acabei por criar problemas ainda maiores.

E parecia que ainda estava criando. Poncho me fulminava com os olhos. Seu olhar duro e a boca cerrada me fizeram sentir a pior pessoa do mundo. Eu via ali, naqueles olhos, todo o julgamento que temi no passado e nem ao menos podia ficar brava, eu bem que merecia aquela desconfiança.

- Dulce, pode nos deixar a sós, por favor. – Ele pediu sem desviar os olhos de mim. Abaixei a cabeça tentando escapar da sua mirada.

- Mas, a Annie...

- Dulce, por favor! – A voz tornou-se igualmente dura. Percebi os olhos de Dulce fixos em mim também, porém não a olhei apenas assenti com a cabeça ainda baixa.

Dulce saiu sem tentar dizer mais nada. Eu nem ao menos levantei os olhos, não suportava aquele olhar de condenação que eu sabia ainda estar ali.

Não faço ideia de quanto tempo passou. Talvez fosse pouco, mas para mim, cada instante em silêncio representava uma distância ainda maior no abismo que parecia estar se criando entre mim e Poncho.

- Se está querendo se matar, deveria ter me avisado para providenciar o velório.

Arregalei os olhos e o fitei pasma. Por mais que eu soubesse que ele estava irritado, aliás, até podia sentir isso no ar, não imaginava que ele fosse capaz de falar algo tão duro. Senti os olhos úmidos, mas não permiti que as lágrimas caíssem, isso não resolveria nada no momento.

- Poncho, eu não... – Mas o que eu poderia dizer? Que não me encontrei com Diego? Aliás, que nem ao menos o vejo em dois anos? Até poderia, mas estava ciente de que se fizesse isso, poderia me meter em problemas ainda maiores ao ter que explicar aquela confusão toda. Estava tão nervosa que se tentasse, poderia acabar confessando sem querer a verdade sobre a garota misteriosa.

- Você não o que? Não pensou nas consequências? Ou quem sabe achou que vê-lo de novo não faria mal nenhum... assim como uma droga, não é verdade? Pensei que tínhamos um acordo Anahí.

Doeu ouvi-lo me chamar assim. Isso era pior do que qualquer acusação. Não eram as suas palavras difíceis que me magoavam, era a sua decepção. Sim, nós tínhamos um acordo, muito mais profundo do que ele podia imaginar. Na época o fizemos porque ele acreditava que eu realmente estava arrasada por Diego e eu porque achava que ele não devia cair novamente nas mãos daquela mulher... não gostava nem de lembrar e contar pra ele que ela não era o anjo que ele imaginava estava completamente fora de cogitação, afinal não havia porque decepcioná-lo depois de tanto tempo.

- Mas quer saber? Se vai se matar, faça isso sozinha. Porque eu não pretendo ficar aqui pra ver.

Não impedi as lágrimas de caírem depois que a porta bateu com força, após a saída de Poncho. A sensação que eu tinha é que estava a um passo de perdê-lo, mas então me lembrei que de fato não tínhamos nada. Era duro, mas não se pode perder o que não se tem. O que havia entre nós era apenas uma amizade, uma linha fina que separava o que sentíamos de um imenso abismo vazio e de alguma forma, eu estava muito próxima de mergulhar nele.

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