Capítulo 12 - Furiosa

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Um fim de semana nunca me pareceu demorar tanto a passar quanto aquele. Christopher preso na reitoria, a briga com Dulce, Poncho pressionando para ver os desenhos... foram o suficiente pra fazer com que o sábado e o domingo parecessem intermináveis.

A segunda feira chegou trazendo um clima um tanto estranho. O tempo fechado e o silencio sepulcral numa casa normalmente barulhenta me davam a impressão de que uma tempestade estava se formando.

A única sensação de normalidade eram as aulas. Nunca pensei que diria isso, mas dei graças a Deus por ter que ir a Universidade, pois de certa forma, a rotina me dava um pouco mais de segurança.

- Bom dia Annie, quer café? – Mai ofereceu assim que pus os pés na cozinha.

- Não to com fome... – Ela me olhou enfezada - ... mas seria bom tomar um café. – Acabei completando.

Apesar do comportamento um tanto retraído com Christian, Maite era uma espécie de mãe naquela casa, uma verdadeira guerreira. Cuidava de todos e não se importava em ajudar no que fosse preciso. Para ela as tarefas domésticas não pareciam nem um pouco entediantes e com exceção do ogro mor da república, todos reconheciam seu esforço.

- Fiz o que me pediu. – Disse e eu engoli em seco. Sabia muito bem do que ela estava falando: o desenho do maldito vestido. – Mas sabe, não acho que precise disso. Poncho não te desprezaria como está pensando.

- Mas e se ele fizesse isso? – Indaguei parecendo uma criança assustada. Me dava meio a ideia de que Alfonso passasse a me ignorar por causa de uma estúpida festa.

- Ai então descobria que não vale a pena. – Sorriu gentil colocando a xícara a minha frente. – Mas sinceramente não acredito que chegasse a tanto.

- Pelo sim, pelo não, é melhor prevenir. – Dei de ombros e ela revirou os olhos.

- Não pense mais nisso sim?  - Concordei e passamos a comer. – Humm, toma isso logo, já estamos atrasadas! – Sorri ao vê-la praticamente engolir o suco.

A vantagem da rotina é que você sabe exatamente o que esperar. Não há surpresas e confesso que no meio daquele turbilhão de coisas loucas acontecendo, eu dava graças a Deus pelas aulas chatas de estatística ou pela semana de provas que vinha se aproximando.

O sinal tocou e recolhi meu material calmamente. Era um pouco aborrecido, mas não podia evitar minha metódica mania de organização. Tinha que guardar cada coisa em seu devido lugar.

A sala já estava vazia quando sai. Mai tinha corrido antes do fim murmurando alguma coisa sobre aula extra. Calmamente me dirigi pelos corredores até sentir o sol tocar suavemente a minha pele do lado de fora do prédio. Era gostoso sentir aquele calorzinho no rosto, ainda mais por estarmos no inverno. Me dava uma sensação de paz...

- Annie! Espera!

... que foi interrompida pela ruiva mais irritante que eu conheço. Eu sabia que estava bom demais pra ser verdade! Eu não podia ter um dia normal, simplesmente nunca haveria uma rotina, isso não existia!

DespretensiosaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora