Capítulo 10

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Christian Grey

Acabamos por passar a noite na sala do apartamento dela, Ana só se deu trabalho de buscar um lençol e cobrir nossos corpos nus. Estávamos tão cansados daquele sexo intenso, que nem ouvimos se Katherine voltou para casa ou não.

Depois de Suzannah, decidi que não me deixaria levar tão facilmente por uma mulher ou permitiria aproximação, mas quando conheci Anastasia e seu lado devasso eu acabo por mudar totalmente meus pensamentos. Comecei me abrindo para ela, contando um pouco do meu passado e sobre Suzannah.

Só não contei a parte mais trágica: o dia que marca todos os meus pesadelos e a culpa que carrego por ter sido descuidado. Cometi uma besteira grande em soltar tamanhas palavras naquele dia e logo soube o que Suzannah fez: a encontrei no banheiro com o olhar frio e uma poça de sangue a sua volta.

Espantei todo esse pensamento ruim e voltei a atenção para a reunião.

- Senhores, dou encerrada a reunião de hoje – disse Ros, minha fiel escudeira aqui na empresa e sócia.

Todos concordaram e vão saindo da sala.

- Mais uma reunião encerrada. Que bom! – exclama Ros e abafo um riso

- Falta menos de 1 semana para suas merecidas férias, senhorita Bailey – disse e apertei seus ombros em brincadeira.

- E você também devia pensar em tirar uma, viu – disse e concordei.

Há anos me decido totalmente a minha empresa, sempre viajo países a fora para trabalhar e fechar negócios e dando conta que precisava de um tempo para mim. Porém, com quem poderia compartilhar esse momento?

- Senhor Grey, tem uma pessoa que lhe aguarda na recepção – diz Andrea e estranho essa informação. Quem poderia vim me ver?

- Quem é, Andrea? – pergunto

- Diz se chamar Suzannah – responde Andrea e o ar foge de repente dos meus pulmões. Afrouxo a gravata – Está se sentindo bem, senhor Grey?

- Estou, Andrea – respondi pigarreando – Peça que ela aguarde em minha sala, por favor.

- Sim, senhor. Com licença – diz Andrea e sai da sala de reuniões.

Ros percebe meu desconforto e vem me amparar. Após poucos anos sem vê-la, não sabia se estava preparado para encarar Suzannah e ser capaz de olhar em seus olhos depois de tudo que fez.

- Christian, o que está acontecendo? – pergunta Ros e fecho meus olhos.

- Nada com que se preocupar, Ros. É só um passado ruim que veio atrás de mim – respondo e ela franze o cenho.

- Tudo bem. Voltarei ao trabalho e qualquer coisa é só ligar – diz ela e assento, aperto sua mão.

Sozinho naquela enorme sala, me dou conta que a poucos centímetros Suzannah me espera e minha cabeça começa a explodir. Por que ela voltou? O que pretendia?

Respiro fundo e saio da sala de reuniões, ando pelo corredor que dá acesso ao meu escritório. Relaxo os ombros, me preparando para o que vem a seguir.

- Andrea, não me passe nenhuma ligação e remarque o almoço com o senhor Peter – ordeno ao passar na mesa da minha assistente.

- Sim, senhor – acata ela – Quer que sirva um café para o senhor e a visita?

- Não. Creio que a senhorita presente na minha sala não irá demorar por aqui – digo e Andrea assente.

Chego na porta e abro. Tenho a visão dela parada em frente ao vidro, admirando a vista daqui de cima e me lembro de quando gostava de admira-la. Um passado bom e perturbador.

- Christian – diz ela ao me ver, seus olhos transbordam em lágrimas e faço pose séria. Já não me comovo mais com ela.

Ela tem os cabelos longos castanhos escuros, uma maquiagem leve e roupas impecáveis. Continua uma mulher muito bonita.

- O que faz aqui, Suzannah? – pergunto ríspido.

- Quero você de volta – diz ela começando a chorar – Estou arrependida, Christian.

- Mas não quero que volte comigo. Não suporto olhar para você sem sentir ódio e repúdio pelo que me fez passar, Suzannah – digo e fecho minhas mãos em punho – Acha que me esqueço daquela cena?

- Eu sinto falta de nós dois – diz ela e se aproxima devagar. Sinalizo com a mão que ela pare aonde está.

Como tem coragem de dizer uma coisa dessas? Ela sente falta da vida que tinha comigo. Não do que tivemos.

- Você sente falta da vida que eu te dava, não de nós dois. Aliás, nunca houve um "nós". Está lembrada que disse isso a mim? – lhe jogo na cara – E não me faça dizer outras coisas que me lembro: da sua traição e do trágico dia na minha casa.

- Você me disse coisas horríveis, Christian. Eu estava desesperada e com raiva – disse ela, forçando um choro. Cínica!

Eu tinha minha parcela de culpa, sim. Mas jamais seria capaz de cometer um crime bárbaro em torno de um desespero.

- Isso não é desculpa para ter abortado o meu.... filho – disse e um bolo se formou em minha garganta – Você é um ser humano frio, horroroso e foi capaz de matar um ser inocente que estava sendo gerado pelo seu próprio ventre e carregava o seu sangue. Uma mulher incapaz de amar alguém, Suzannah. Traíra, sem coração e com a alma podre.

- Você não tem o direito e muito menos moral para me julgar – disse ela em tom ameaçador – Quando soube da gravidez, se afastou de mim e disse que não era certo o... feto vim daquela maneira. Eu também não queria aquele filho, então a solução foi tirá-lo do caminho – sua voz era sem emoção e frio.

- Não era certo por causa do meu passado. Não queria que um filho meu me achasse um monstro ou talvez algo pior, mas nunca cometeria o crime de matá-lo – disse e sai de perto dela – Se não o queria, deixasse sob a minha responsabilidade. Um filho é o caminho pra cura de tudo.

- Ah Christian Grey. Desde quando se tornou um homem cheio de qualidades? – ela riu irônica – Pra que deixaria aquela criança vir ao mundo? Atrapalhar tudo?

Eu estava enjoado ao ouvir tanta lorota saindo de sua boca. Uma mulher tão fria, cheia de amargura e coração gelado. Não entendia o porquê de ser assim, a ponto de tirar uma outra vida e jogar todo o peso da culpa em mim.

- Não quero mais ouvir – berrei – Vendo você na frente só me traz de volta o dia que te encontrei sangrando no chão do meu banheiro e sorrindo feliz por ter feito um aborto. Abomino você e sua existência.

Seus olhos fervilham de raiva e ela me dá um tapa no rosto. Controlo minha respiração, pondo a mão no local ardido e espanto da ideia de revidar.

- Nunca mais toque nele, sua vadia – escuto a voz de Ana e ela retruca o tapa em Suzannah – E saia daqui. AGORA.

- Ainda não acabou – diz Suzannah e vai embora. Fico com a marca do tapa, lembrando de tanta sujeira que foi colocado para fora nos segundos anteriores e as lágrimas teimam em sair.

Anastasia vem até mim e me puxa para seus braços. Escondo o rosto em seus cabelos, sentindo aquele cheiro refrescante e adocicado.

- Vai ficar tudo bem. Relaxe e respire – diz Ana e vou me acalmando. Ela afaga meu cabelo, beija meu pescoço e me acalenta em seus braços. 

Deve ter sido o acasoOnde histórias criam vida. Descubra agora