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--- Bia On ---
Finalmente estava a ter momentos de paz na minha vida. Esta semana perguntei ao Harry se tinha tido noticias da Darcy e ele apenas me respondeu que ela não voltou a aparecer no estúdio desde a noite em que foi desmascarada. Não sei porquê, mas este súbito desaparecimento dela não me convenceu. Algo me diz que esta mulher ainda nos vai atormentar mais algumas vezes. Quero muito pensar que não, mas não consigo.
No dia em que a Perrie e o Zayn contaram aos nossos pais que iam ser avós eles nem queriam acreditar, mas a felicidade era extrema. Depois de ir ao médico sabemos que a Perrie tem uma gravidez de risco devido às complicações do aborto que teve no passado, o que a faz ter muitas recomendações. Assim todos tentamos fazer o melhor que podemos para manter a sua segurança e a do bebé. Quando o Liam perguntou quem iria ser o padrinho do filho, ele apenas disse que já tinha alguém em mente, mas não iria revelar até o bebé nascer.
Hoje a Becca ligou-me dizendo que vamos ter uma reunião com o Comité Olímpico e por mais que eu quisesse deitar o nervosismo para trás das costas não estava fácil. Só de ouvir a palavra olímpico fico arrepiada. É o sonho de qualquer atleta entrar nos jogos olímpicos e o meu por sinal também.
Estou neste momento no gabinete onde vai decorrer a reunião e posso ver algumas atletas de outras equipas tão ou mais nervosas que eu. Tento disfarçar o nervosismo, mas as minhas unhas é que me denunciam, levando a Becca quase me gritar aos ouvidos para eu tirar os dedos da boca. Estava meio distraída quando nos chamam dizendo que o presidente do comité estava à nossa espera. Engoli em seco e em silêncio segui as atletas e as suas treinadoras incluindo a minha até à sala de reuniões. Entramos e a sala é enorme com uma grande mesa oval rodeada de cadeiras pretas em volta. Quase dava a ideia de estarmos no filme do “Rei Artur e os Cavaleiros da Távola Redonda”. Sento-me entre a Becca e a Mrs. Gomez, esperando ansiosamente o presidente do comité. Assim que ele entrou a reunião começa e estamos todos muito atentos à razão de estarmos todos aqui presentes.
O tempo passou e no fim todos saímos da reunião com o coração aos pulos e meio atordoados com a notícia. Aqueles seis atletas de patinagem no gelo tinham acabado de ser chamados para representar o nosso país nos Jogos Olímpicos de Inverno.
Antes de ir para casa fui a casa dos meus pais, pois já estava com saudades deles. Quando entrei tinhas a Mel a gatinhar na minha direcção. O meu pai percebeu que algo se passava comigo e quando dei a notícia dos jogos ele simplesmente me abraçou parabenizando-me por isso. Acabei por jantar em casa deles pois visto o Harry ter um trabalho para apresentar iria depois jantar com os colegas. Apesar de eu estar apenas a concluir algumas cadeiras devido à mudança de curso, confesso que me faz falta o caos em que eu costumava andar para ter a matéria em dia.
Nessa noite quando chego a casa vejo que o Zarry está parado à porta com um ar triste e pergunto-me qual seria o motivo. Oiço barulho no quarto e deduzo que seja o Harry que já tenha chegado. Quando entro no mesmo vejo algo me deixa em chamas. O Harry está apenas de bóxeres e ainda com o cabelo molhado. Devagar aproximo-me dele sem fazer barulho, mas reparo que ele não me irá ouvir pois está com os fones nos ouvidos. Ele está completamente esparramado em cima da cama de barriga para baixo. Coloco a minha mala e o meu casaco na cadeira e descalço-me antes de chegar perto da cama. Deitei o meu corpo por cima do dele e ele pulou com o susto, retirando os fones repentinamente.

Harry: Assustaste-me. (diz tentando recuperar)
- Sou assim tão feia? (digo com cara triste)
Harry: (aproxima o seu corpo do meu) Nada disso. Tu és linda e não me canso de te olhar. (beija-me intensamente)
- (coro com as suas palavras) Como foi a tua apresentação?
Harry: Correu bem. Para a semana entrego o projecto final e finalmente acabo o curso de medicina.
- Então quer dizer que falta pouco para eu conviver com um médico?
Harry: É. Digamos que sim. E a reunião? Como foi?
- Quanto a isso tenho boas noticias. (sorrio para ele)
Harry: Sério? Estou pronto para ouvir.
- Ora bem estás a olhar para uma das patinadoras que vai representar o Reino Unido nos Jogos Olímpicos de Inverno.
Harry: A sério?? Paixão isso é fantástico. (abraça-me) Parabéns!
- Obrigada. (beijo-o passando os meus dedos pelo seu peito descoberto).
Harry: Bia… (a sua voz soa meio rouca) Se continuares nessa posição vou ter de tomar outro banho.
- (olho para a maneira como estou deitada e sorrio) O teu amigo anima-se com pouco.
Harry: A culpa é tua. (ri-se)
- Agora a culpa é minha?? (levanto-me e pego na toalha)
Harry: Onde vais?
- Como não queres tomar outro banho, eu vou sozinha. (pisco-lhe o olho e entro na casa de banho)

Liguei a água e deixei-me ficar uns minutos apenas a relaxar com o facto da água cair pelo meu corpo. Oiço a porta a abrir e sorrio pois imediatamente sei que o Harry entrou. Sinto uns braços à minha volta e um beijo é deixado no meu pescoço.

- Pensei que não quisesses tomar outro banho? (pergunto de forma maliciosa)
Harry: (vira-me para ele) Mudei de ideias. (sorri para mim e trocamos um beijo)

Ali ficámos aos dois aos beijos debaixo do chuveiro. Era apenas carinho trocado entre nós e nada de malicia. No fim ele sai do chuveiro primeiro que eu e puxa-me para me enrolar na mesma toalha que eu. Andámos até ao quarto e quando ia vestir o pijama ele pediu-me para vestir uma das suas t-shirts e eu assim o fiz. Aninhamo-nos os dois na cama e numa questão de minutos caímos no sono.

O tempo parece que voa e passaram três meses desde que fui chamada pelo comité olímpico. Hoje estou meio nervosa pois saem os resultados dos testes de doping a que todos fomos sujeitos. Eu sei que apesar do Dr. Robin me ter dito para não me preocupar que a medicação que eu tomo desde que fiquei em coma não iria implicar nada de errado. Mas mesmo assim eu estava preocupada. Não contei a ninguém esta preocupação, pois não os quero preocupar. Além disso hoje é o jantar de formatura do Harry e do resto dos rapazes e não os quero preocupar com isto. Estou neste momento à porta do hospital e assim que a enfermeira me entregou o envelope com os resultados fiquei mais nervosa que no dia em que voltei à faculdade depois da perda de memória.
Vou até à esplanada e peço um cappuccino. Acho que preciso de coragem para abrir este envelope. Depois do empregado me entregar o pedido eu abro vagarosamente o envelope e começo a ler linha por linha.
Engulo em seco várias vezes e depois de ler o veredicto não sei o que fazer. Estou sem reacção. O meu telemóvel toca e vejo que se trata da Mrs. Gomez. Atendo rapidamente e no fim da chamada as noticias não são boas. Eu acabei de ser afastado das olimpíadas. Deixo o dinheiro do cappuccino na mesa e saio dali o mais rápido possível. Neste momento não quero falar com ninguém. Foi como se uma faca fosse espetada no meu peito. Uma coisa pela qual eu lutei bastante acabou de escapar e tudo por causa de uma frase escrita numa análise de sangue. Coloco o telemóvel no silêncio e decido andar um pouco para esfriar a cabeça. Não consigo entender como isto pode ter acontecido. Eu nunca me “droguei” nem coisa do género. Se me consideraram boa patinadora foi porque era real. Depois do telefonema da Mrs. Gomez fiquei ainda mais assustada. A medalha que eu ganhei à meses atrás pode ser perdida devido a este resultado. Lágrimas correm no meu rosto. Estou completamente à nora e não sei que fazer ou pensar.
--- Bia Off ---

--- Harry On ---
Estou preocupado com a Bia. Depois do meu jantar de formatura ela anda estranha. Apanho-a muitas vezes distante e pensativa. Por mais que ela diga que não se passa nada, eu sei que se passa. Vou ter de descobrir o que se passa e rapidamente. Todos notaram a diferença no seu comportamento e nenhum deles entende o porquê. Ela tem treino daqui a pouco e acho que vou aproveitar para tentar saber o que se passa.
Oiço barulho na sala e deduzo que seja a Bia. Assim que me viro com o meu copo de água na mão encontro-a a pegar numa maçã.

- Já vais?
Bia: Sim. (dá-me um beijo) Queres que traga algo para jantar?
- Não é preciso. Eu trato de tudo. Trás apenas a sobremesa.

Vejo que ela passa a mão no focinho do Zarry e sair para o treino. Agora sim é a minha deixa para tentar entender o que se passa com ela. Vou até ao quarto e aproximo-me da mesa-de-cabeceira dela. Eu sei que é errado mexer nas suas coisas, mas eu tenho mesmo de perceber o que se passa. Abro a gaveta com cuidado e vejo canetas, um bloco de apontamentos, botões extra da roupa… Nada de errado. Suspiro e continuo a pensar onde poderei encontrar algo. Levanto-me e vou até ao roupeiro e do lado dela vejo uma caixa. Retiro para fora e coloco-a em cima da cama, abrindo-a para ver o que tem dentro. Algumas fotos nossas e dela com a família são tiradas de dentro da caixa com cuidado. Rio ao ver algumas delas pois já não me lembrava que elas existiam e tinham sido tiradas. Continuo a ver o conteúdo da caixa e um envelope branco me chama a atenção. O envelope tinha como remetente o hospital. O meu coração bate apressadamente quando retiro os papéis que estão dentro. Oiço um latido que me faz assustar e reparo que é apenas o Zarry na brincadeira com um dos seus brinquedos.
Volto a fixar o meu olhar no papel que tenho em mãos. À medida que vou lendo não quero acreditar no que estou a ler. A Bia foi apanhada no controlo anti doping. O resultado deu positivo. Eu não quero acreditar nisto, mas o resultado é bem explícito. A minha namorada “droga-se” para ter melhor desempenho na patinagem. A minha cabeça está um turbilhão de emoções com o que acabei de descobrir. Isto é muito grave. Eu sei que não devo ser impulsivo, mas neste momento só me apetece dizer-lhe umas verdades.
--- Harry On ---

--- Bia On ---
Estou exausta. Este treino deu comigo em doida. Apesar de já não estar presente nos jogos, a patinagem distrai-me deste problema. Ainda não sei como encarar os meus amigos e família para lhes dizer o que se passa. Eles andam desconfiados que aconteceu alguma coisa, mas eu ainda não tive a coragem suficiente para lhes dizer. Vou passar na pastelaria antes de ir para casa e levo os cupcackes  que o Harry tanto gosta. Chego a casa e um silêncio instala-se o que me assusta um bocado. Pouso as chaves na mesa e ando até à sala onde encontro o Harry de televisão desligada a olhar para o “nada”.

- Amor… (ele desperta e o seu olhar arrepiou-me) Que aconteceu? (pergunto engolindo em seco e olhando para o que ele tinha na mão)
Harry: Quando me ias contar? (levanta-se e vira-se na minha direcção)
- Contar… (falo baixo)
Harry: Quando me ias contar que tomas estimulantes? (fala friamente o que me faz ficar assustada)
- Eu não tomo isso.
Harry: Não?! Então este resultado desta análise é falso? (mostra-me o envelope) Bia como pudeste entrar nesse mundo? Não és feliz com o que tens por mérito próprio é isso? (eleva um pouco a voz o que me faz estremecer)
- Por favor acredita em mim. Eu nunca tomei nada. (lágrimas emergem nos meus olhos)
Harry: E isto é o quê? Eu não sou parvo.
- Ninguém disse que o eras. Eu não tomei, nem tomo essas porcarias. Eu sei que o resultado é meu e já estou a ter as consequências do que aí vem escrito.
Harry: Consequências? Eu não sou a consequência disto.
- Estou em risco de perder a medalha que ganhei no campeonato europeu. E acabei de ser afastada dos jogos olímpicos. Achas que não é suficiente?
Harry: Pelos vistos é meceredora das consequências.
- Continuas a não acreditar em mim. Até parece que não comestes erros.
Harry: Ah então admites que tomas “drogas”.
- Eu não me drogo.
Harry: Não é isso que diz o exame. Já não te reconheço Beatriz.

Quando ele me trata por Beatriz eu apercebi-me que não está só zangado. Ele está desiludido comigo. Desiludido por algo que eu não fiz. Olho nos seus olhos verdes e posso ver que a mágoa e desilusão estão bem estampadas.
A nossa discussão continuou e no fim apenas o Harry saiu porta fora dizendo que ia para casa dos pais. O meu mundo parou quando ele saiu e me deixou sozinha. Apenas me lembro de atirar umas quantas coisas contra o chão. Sentei-me no sofá encolhida. Mais uma vez estou assombrada e a minha vida está a desmoronar. Já não aguento tanta coisa a acontecer. Será que não vou ter sossego? Deixei-me ficar ali no silêncio e no escuro não querendo saber de nada nem ninguém. Apenas as lágrimas estavam presentes no momento. O meu telemóvel tocou e vi que era o meu pai. Quando atendi pude notar desilusão na sua voz. Um dos meus piores pesadelos é real – desiludir quem amo. Depois de falar com ele apenas me perdi nos meus pensamentos.

Não sei quanto tempo dormi no sofá, mas quando acordei tentei entender o que se passava e apenas as palavras do Harry estavam presentes na minha memória. Olhei para as horas e constatei que passava pouco das duas da manhã. Este tempo no silêncio fez-me pensar e tenho de provar que eu não tenho culpa em nada. Se querem guerra, é guerra que vão ter. A esta hora já todos devem saber aquele resultado, mas eu vou provar que aquilo não é real. Ou não me chamo eu Beatriz Malik. Eu vou recuperar o Harry e fazer com que todos se arrependam do que pensam a meu respeito. Assim a partir deste momento nasceu a nova Beatriz. Para isso nada como falar com alguém que me pode ajudar.

Hate and LoveWhere stories live. Discover now