35.

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Percorri aquele corredor que tão bem conhecia. Durante uma semana foi sempre este o meu caminho. Chego à porta do quarto e respiro fundo, tomando a coragem suficiente para entrar e ver finalmente a pessoa que amo.
Devagar entrei, pois ela poderia estar a dormir. Olho para aquela cama e vejo uma rapariga com um ar pensativo enquanto brincava com os dedos.

- Olá… (a minha voz soa baixo)

O seu olhar cruzou o mesmo e aquele sorriso pelo qual me apaixonei apareceu. Ela abriu a boca para falar, mas fechou-a no momento seguinte, como que à procura das palavras certas para dizer. Aproximo-me mais da cama e sento-me na cadeira que ali havia. Ficamos a olhar-nos em silêncio. Depois de uns segundos ela falou finalmente.

Bia: Olá. Tu és o rapaz da foto?

O facto de ela não se lembrar de mim magoava-me muito, mas neste momento saber que ela está viva deixa-me um pouco mais aliviado.

- Sim sou eu. Sou o Harry. (digo baixinho)
Bia: Tens uns olhos lindos. (ela diz e eu sorrio o que a faz corar)
- Obrigado.
Bia: Porque te foste embora no dia em que acordei?
- Precisava estar sozinho e colocar as ideias em ordem.
Bia: Somos amigos, certo?
- (ouvir aquilo doeu) Sim somos amigos.

Nos minutos seguintes conversamos bastante, desde gostos musicais, desportivos, livros, cinema, o que fazia nos meus tempos livres. Ela fez muitas perguntas sobre mim e achei piada pois no fundo estava a mostrar-lhe quem eu sou pela segunda vez. Também fez perguntas sobre ela e eu tentei responder da melhor forma.

Bia: Tu cantas? Gostava de te ouvir cantar. (sorri para mim)
- Queres mesmo que eu cante?
Bia: Gostava muito.
- Pronto eu canto.

Do nada comecei a cantar a primeira coisa que me veio à cabeça.

If you could spare an hour or so

We'll go for lunch down by the river

We can really talk it through

 

And being here without you is like I’m waking up to

 

Only half a blue sky

Kinda there, but not quite

Walking around with just one shoe

I’m half a heart without you

 

I’m half a man at best

With half an arrow in my chest

Cause I miss everything we do

I’m half a heart without you

 

Half a heart without you

Half a heart without you”

Bia: Cantas tão bem. (vejo-a com lágrimas nos olhos)
- Achas mesmo?
Bia: Sim. Sentes falta dela? (pergunta e o meu coração acelera e fico confuso com a pergunta) A música fala de alguém que é metade de um coração sem a outra pessoa.
- Ah… Sim. Sinto muito a falta dela. (suspiro e luto para resistir a beijá-la)
Bia: Tens de me apresentar quem te roubou o coração.
- Ahahah. Podes ter a certeza que a vais conhecer. Vou fazer por isso. (sorrio para ela carinhosamente)
Bia: Olha posso perguntar-te uma coisa?
- Sim claro.
Bia: Sabes se eu tinha ou tenho namorado? Eu já fiz esta pergunta a todos e ninguém me responde.
- (o meu coração para ao ouvir esta pergunta e nem sei o que responder) Porque queres saber?
Bia: Desde que acordei que sinto falta de algo ou neste caso alguém.
- Pois bem… Sim tu tinhas ou tens um namorado. Mas ele neste momento está de viagem. (burro que eu sou, que nem tenho coragem de lhe contar que sou eu)
Bia: Oh. Queria tanto vê-lo e saber se é mesmo ele que sinto falta.
- E agora neste momento sentes esse vazio? (pergunto tentando saber se ela sente ou não a minha falta)
Bia: Desde que aqui chegaste que não tenho essa sensação. Tenho medo que ela volte quando fores embora. (baixa o olhar)
- Ei… (pego no seu queixo e faço com que ela me encare) Eu vou embora, mas volto. Sempre vou voltar.
Bia: (sorri para mim) Obrigado por estares aqui. (fecha os olhos e aconchega-se na minha mão que estava no rosto dela)
- Estás cansada. Descansa. (digo passando a minha mão pelos seus cabelos)
Bia: Fica comigo. Não quero que te vás embora. (fala já sonolenta)
- Eu fico. Prometo que quando acordares eu vou estar aqui. (dou-lhe um beijo na testa)
Bia: Canta para mim. (pede suavemente enquanto se aconchega nos lençóis)

Voltei a cantar a mesma música de há minutos atrás ao mesmo tempo que sorria ao ver a minha menina a dormir serenamente perante os meus olhos. Tive tanto medo de não voltar a vê-la. Fico tão feliz de saber que ela sente a minha falta, mesmo sem saber que sou eu o namorado dela. Ela não me esqueceu totalmente, tal como os rapazes disseram e eu precisava de ouvir da boca dela para poder lutar para que tudo fique bem novamente. Se tiver de conquistar de novo eu vou fazê-lo.
Sou desperto dos meus pensamentos com a Ellen a bater à porta dizendo que já tinham encontrado o dador. Ao ouvir aquilo o meu sorriso rejuvenesceu e abracei a Ellen que chorava, mas de felicidade. Pelo menos agora parecia que tudo se estava a recompor. Voltei a deixar um beijo na testa da Bia e sai com a Ellen para podermos ir falar com o médico.

Ao chegarmos à sala encontro lá o James a olhar pela janela e completamente distante. A Isabella e o Zayn a conversarem seriamente enquanto a Perrie tentava acalmar o namorado. A Inês e o Niall estavam à conversa com a Louis e a Eleanor. O Liam esse estava a falar ao telemóvel e suponho que seja com a Sophia. Fiquei confuso tal como a Ellen quando olhamos para a porta e vimos o médico entrar com ar meio fechado. A última vez que vi esta expressão dele, as noticias seguintes não foram boas.

Dr. Robin: Olá a todos. Como devem saber finalmente encontrámos o dador compatível com a Beatriz. Não foi fácil estes dias e depois de muitos testes, hoje duas pessoas apareceram e vão poder salvar a Beatriz fazendo com que ela recupere quase na totalidade.
Ellen: Graças a Deus. Dr. Robin pode dizer o nome deles. Eu quero agradecer-lhes pessoalmente.
Dr. Robin: Isso é outra coisa que me deixou curioso nesta história.
James: Como assim?
Dr. Robin: James como você sabe o seu tipo de sangue é compatível com o da Beatriz, mas por motivos de saúde não seria possível fazer a doação. (o James assente) Mas achei estranho a sua compatibilidade ser de 90%. Pensei até que fossem da mesma família, mas o senhor diz que não. Por fim hoje o sr. Zayn Malik e a sua mãe Isabella Martinez fizeram o teste e a compatibilidade era de 95% e 98% respectivamente. Eu sei que a Beatriz procura a família biológica e a pedido do sr. Liam Payne decidimos fazer um teste de DNA.
Zayn: O Liam fez o quê?!! (olha para o Liam meio furioso)
- E qual o resultado?
Dr. Robin: Só o poderei revelar se as três pessoas envolvidas quiserem. Deixarei ao vosso critério quererem saber a verdade. (olha para todos que estamos meio chocados) Bom agora vou tratar do que é necessário para a transfusão de sangue.

Ele sai da sala e deixa-nos completamente desnorteados.

Ellen: James afinal que ligação tens com a mãe do Zayn?
Zayn: Sim que ligação é que vocês tem com a minha mãe. Porque se for o que eu estou a pensar, tem muito que explicar
Isabella: Zayn falamos em casa.
Zayn: Não mãe, falamos e vai ser agora. (diz firmemente e nem a Perrie o conseguiu acalmar)
James: Muito bem. Bella está na hora deles saberem a verdade. Vamos para minha casa.

Olharam os quatro uns para os outros e depois olham para mim. O James, a Isabella, o Zayn e por fim a Ellen pedem-me para tomar conta da Bia e se acontecer alguma coisa para lhes ligar imediatamente. Eu assinto e vejo-os sair um por um com as caras mais confusas, tristes e magoadas que alguma vez vi. Não sei se a conversa naquela casa vai correr bem, mas neste momento tenho de me preocupar com outra pessoa. A Bia está prestes a entrar numa sala de operação e nada mais interessa. Vejo o Liam aproximar-se da Perrie e pedir desculpa pelo sucedido.

Perrie: Liam não te preocupes. Já estava na hora de todos saberem.
Louis: O quê? Eles sabiam?
Perrie: O Zayn desconfiava e cada vez mais coisas coincidiam com a irmã desaparecida dele.
Eleanor: Era por isso que ele agia de forma estranha quando se falava na Bia e na sua família?
Perrie: Sim. Tudo começou com uma fotografia que ele viu quando a Bia ainda vivia em casa dos Smith.
- Eu sei que foto é essa. Aliás esse é como se fosse um tesouro para a Bia.
Perrie: Depois houve o dia em que ele soube a sua data de nascimento e era a mesma da irmã.
Niall: Por isso ele parecia distante e estava muito atento ao mesmo tempo. (ela assente)
Perrie: Eu sabia que isso tinha mexido com ele. Debaixo daquele ar de bad boy e misterioso ele estava muito sensível. Quando soube que o nome que se encontrava na ficha de adopção era Isabella ele ficou em pânico pois poderia ser muito bem a sua irmã.
Inês: E porque ele nunca disse o que se passava ou desconfiava?
Perrie: Tinha medo.
- Medo?? Medo de quê?
Perrie: Sim Harry, medo. Medo de se iludir a ele e à mãe e depois não ser real. Vocês sabem o quanto ele estava desesperado á procura da irmã.
Inês: E pelos vistos encontrou-a.
Louis: Mas acho que encontrou também o pai. (os nossos olhares caem sobre ele assim que ele diz isto)
Niall: Pai?
Liam: Sim pai. Foi por haver tantas coincidências nesta história que eu pedi ao médico para fazer o teste de DNA.
Eleanor: Mas nem sabemos o resultado.
- Seja qual for, espero que traga paz a todos. Estou cansado de ver as pessoas à minha volta sofrer. Principalmente a Bia. Agora se não se importam vou ver se ela já está no quarto. Eu prometi que estava lá quando ela acordasse.
Perrie: Harry importaste que eu vá embora. Tenho a sensação que o Zayn vai à minha procura.
- Pezz vai descansada. Já aguentei duas semanas no sofrimento. Acho que aguento mais umas horas.
Niall: Mano eu também vou. Vamos Inês? (pergunta-lhe olhando-a com carinho)
Inês: Sim vamos. (pega no casaco)
Liam: Se precisares não hesites em ligar.
- Obrigado a todos.
Louis: Eu fico contigo. Não te vou deixar sozinho. Ainda fazes algum disparate.
- Não precisas. Além disso tens de ir levar a El.
Eleanor: Quanto a mim não te preocupes que eu vou com a Perrie.
- Pronto vocês que sabem. Bem eu vou ver a Bia.
Louis: Vou comer qualquer coisa e já vou ter contigo Hazza. (assenti)

Mas que final de tarde mais confuso este. Afinal os meus pensamentos estavam certos e o Zayn é irmão da Bia, assim como a D. Bella é a mãe e o James poderá ser o pai.
Volto para o quarto e vejo que ela ainda dorme. Sento-me na cadeira vendo-a dormir. Um sono tranquilo, mas não profundo como aquele de há quinze dias atrás. Vejo a enfermeira dizer que tudo tinha corrido bem e que a transfusão tinha sido um sucesso. Sorrio com tais palavras e volto a centrar o olhar na pessoa que está ali deitada á minha frente.
--- P.O.V. Harry ---

--- P.O.V. Bia ---
Abro os olhos lentamente e olho em volta tentando lembrar do que estou aqui a fazer. Quando me viro vejo aquele olhar que me fascina. Um enorme sorriso se apodera de mim e sinto o meu coração bater apressadamente, embora não saiba a razão para tal.

- Estás aqui. (sorrio)
Harry: Eu prometi que estaria quando acordasses. (passa a mão pelos meus cabelos)
- Quanto tempo eu dormi?
Harry: Cerca de três horas.
- Fogo. Tanto. (o meu sorriso desvanece)
Harry: Que carinha é essa?
- Daqui a pouco anoitece e tu tens de ir embora. (digo triste)
Harry: Não fiques triste. Se pudesse ficava aqui contigo.
- Não podes ficar?
Harry: Poder até posso, mas amanhã tenho de ir gravar cedo antes da faculdade.
- Ah já me esquecia que és cantor, mas estudante de medicina.
Harry: É. Digamos que não é fácil conjugar as duas coisas.
- Harry…
Harry: Diz.
- A tua namorada sabe que estás aqui?
Harry: Digamos que sim, embora não directamente. (digo meio atrapalhado)
- Ela é uma rapariga de sorte.
Harry: Dizem que sim, mas eu acho que eu sou o sortudo nesta história toda. Falei à pouco com o teu médico e ele diz que se tudo correr bem daqui a dois dias vais para casa.
- Ainda bem. Já estou farta de aqui estar. (refilo)
Harry: Não sabia que eras refilona. Ahahah
- E não sou. Só não gosto muito de estar numa cama de hospital e não saber nada do mundo lá fora.
Harry: És mesmo tola.
- (oiço bater à porta) Entre.
XX: Posso?
- Claro Lou.
Louis: Então como te sentes?
- Farta de aqui estar.
Louis: Mas é para teu bem e além disso daqui a pouco vais para casa.
- Oh é fácil falar porque não são vocês que estão aqui 24h do dia.
Harry: Bem estás mesmo rabugenta. Ahahah
- Deixa de ser idiota.
Harry: O que é que me chamaste? (ergue a sobrancelha)
- Idiota. (sorrio)
Harry: Tu vais ver quem é o idiota. (aproxima-se de mim e prepara-se para me fazer cócegas) Só não o faço porque estás nessa cama.
Louis: Adoro ver as vossas brincadeiras. Quem vos visse diria que eram um casal de namorados a picar-se um ao outro. (cala-se de repente e o Harry olha para ele com cara de caso)
- Bem mas o meu namorado não está cá. Aliás nem sei nada dele.
Louis: Que queres saber sobre ele?
- O nome por exemplo. Se é meu namorado pode ser que o nome me diga alguma coisa.
Louis: (olha para o Harry) Qual o nome dele Harry?
Harry: Edward.
- Edward? Porque esse nome não me diz nada.
Harry: Talvez o tratasses de outra forma.
- É talvez. (fico triste por não me lembrar dele)
Louis: Harry está na hora de irmos embora.
- Já?
Harry: Tem de ser. Mas eu volto amanhã.
- Prometes?
Harry: Sim eu prometo. (dá-me um beijo na bochecha que me deixa meio aluada)

Vejo eles saírem do quarto, mas não sem antes o Harry voltar a sorrir para mim. E como eu amo aquele sorriso com aquelas covinhas.
Assim que ele sai o meu coração volta a sentir-se só. Sei que quando ele aqui entrou eu senti-me completa e agora que ele se foi embora volto a sentir-me isolada. Porquê? Porque me sinto tão bem com ele? Porque sonho com ele todas as noites? Porque ele não me sai do pensamento? Afinal eu tenho o Edward, o meu namorado. Mas no fim nem este nome me diz nada. Caramba, estou farta de não saber nada e não lembrar nada.

Hate and LoveWhere stories live. Discover now